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secao 4!

Tamanduateí:

Utopia de um Rio Urbano

Danilo Bressiani Zamboni

Alexandre Delijaicov

O tema deste trabalho surge da vontade de compreender e resgatar a paisagem fluvial urbana da cidade de São Paulo através do desenho. Usando como objeto de estudo um percurso de 5 km a partir da foz do Rio Tamanduateí, subindo a Avenida do Estado até o Parque D. Pedro II; pretende-se registrar desenhando em visão seriada (referência ‘El Paisaje Urbanoí Gordon Cullen) a condição em que se encontra a região, configurando a chamada Paisagem Atual.

A escolha do desenho como método de trabalho se deu pela qualidade deste como linguagem praticamente universal de comunicação, cuja origem remonta às ascendências mais primitivas da raça humana. O desenho sempre foi uma das formas mais empregadas na comunicação, no registro e na descrição dos lugares e paisagens, principalmente antes do advento da fotografia, sendo que em São Paulo, parte importante da paisagem histórica se encontra registrada justamente em desenhos como o de Benedito Calixto na famosa ‘Inundação da Várzea do Carmoí ou nas aquarelas de Thomas Ender e William Burchell.

Há uma qualidade única no registro desenhado que é a presença do desenhista; esta figura através de cujos olhos a paisagem será compreendida é registro também de sua época. A expressão, a cara, a linguagem do desenho são fruto de uma vivência do artista que é única e que está atrelada ao tempo em que ele vive, conjunto este indissociável da obra que desenvolve. Desta forma, um desenho não é apenas uma imagem, mas é também um registro histórico de um momento da cidade e do artista, que é parte de uma sociedade que pode ou não ser a que ele está desenhando. São inúmeros, se não maioria, os registros de estrangeiros que desenham e descrevem suas impressões sobre os lugares e as cidades a que chegam, fazendo-o com toda a sua bagagem e pré conceitos. Curioso é o fato de apenas os estrangeiros registrarem suas impressões sobre os lugares ‘novosí que conhecem, importante seria se mais artistas registrassem sob seus pontos de vista a cidade onde vivem.

Ainda que eu seja paulistano, a região que escolhi para fazer este trabalho não me é especialmente familiar. Pelo contrário, poucas vezes estive na Avenida do Estado até hoje e este é justamente um dos motivos para ter escolhido o Rio Tamanduateí para desenhar. Tenho a intenção de ver quase como um estrangeiro (no sentido de se deixar surpreender, de se interessar e dispender tempo olhando a cidade por que passamos e deixamos de levar em conta) esta área linear que acompanha o leito emparedado do rio desde sua foz até o Pátio do Colégio, para compreender esta região como é hoje e compará-la ao que foi antes das intervenções de retificação higienista e também para acomodar a Avenida do Estado e as construções em sua várzea.

Sabemos que a condição em que se encontra a maioria dos rios paulistanos está longe de ser a ideal, seja numa compreensão do ambiente natural seja no contexto urbano. O rio não é apenas um canal, o leito seco, é todo o sistema de drenagem que inclui também as áreas ‘secasí de contribuição por onde a água é drenada e escorre por cima ou por baixo da terra até se juntar formando o rio, que nada mais é senão o afloramento do lençol freático numa calha em seu ponto mais baixo. E da mesma forma como as chuvas variam de intensidade nas diferentes épocas do ano, a vazão do rio também varia, fazendo com que o volume de água que corre por ele oscile restringindo-se ou não ao seu canal principal. É por este motivo que existe um lugar ‘sagradoí em torno do canal principal do rio, denominado várzea, que é também rio embora não fique todo o tempo cheio de água. E se tem uma coisa que o urbanismo paulistano (para não dizer paulista ou brasileiro) não tem costume de levar em consideração, é justamente este espaço de amortecimento entre a natureza e o homem, que é antes de tudo uma questão de respeito.

Esta postura foi tomada com o intuito de estabelecer uma leitura crítica da cidade de São Paulo como é construída hoje no contexto (com enfoque) dos rios urbanos e da qualidade espacial para o pedestre, em contrapartida ao que já foi e ao que poderia ser, sendo que estas duas visões serão dadas, a primeira por uma breve pesquisa histórica da região e a segunda por uma proposta a ser elaborada que desenvolva uma ‘utopiaí de como esta região do Rio Tamanduateí poderia ser. A abordagem do trabalho é a qualidade espacial para o pedestre e a utilização dos rios urbanos, tratando-se de uma proposta conjectural com o intuito de despertar a atenção para elementos importantes e potencialmente interessantes para a paisagem e mesmo para as questões técnicas da cidade, como o rio e sua promenade ao mesmo tempo em que serve como meio de transporte de cargas e passageiros.

O trabalho desenvolveu-se em duas etapas bem distintas, divididas entre TFG 1 e TFG2. Na primeira metade, o objetivo era ir a campo e desenhar a ‘paisagem atualí, o rio Tamanduateí em sua atual condição, ao mesmo tem po em que pesquisei imagens de como for a a região, a chamada ‘paisagem perdidaí. Escrevi um extenso relato das visitas com as impressões que me causaram, reflexões da condição dos rios e da urbanização da cidade de São Paulo pois notei que os desenhos, apesar da minha intenção, não conseguiam dizer tudo o que eu queria. Na segunda metade, levantei alguns mapas da região e comecei a pensar nos grandes complexos de áreas públicas, na sua interligação através deste grande parque linear metropolitano do qual o Tamanduateí seria apenas um tramo. Áreas como o Pátio do Pari, o Parque D. Pedro II, o Pavilhão do Anhembi, Sambódromo, os Museus, Escolas, Parques, Praças, Lagos, Estações de Trem, Metrô, Ônibus, Ecopontos, Estações de Triagem de Resíduos, Portos e assim por diante.

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