logofau
logocatfg
secao 4!

PROJETO DE EDIFÍCIO ESCOLAR DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO NO SUBDISTRITO DE JARDIM ROMANO

EDUARDO TAKASHI KITAWARA

ORESTE BORTOLLI JÚNIOR

O projeto tem origem na necessidade da elaboração de um trabalho para a conclusão do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Em atenção a esta exigência e atento ao forte apelo social da instituição de ensino da qual integramos o corpo discente, direcionamos nosso propósito no sentido da edificação de uma escola de periferia carente de equipamentos educacionais.

Em consulta à Secretaria de Ensino do Estado de São Paulo fomos encaminhados à Diretoria de Ensino Leste II, onde a demanda por este tipo de edificação é premente, a exemplo do que vem ocorrendo na Escola Estadual José Bonifácio, situada no bairro Jardim Helena, no sub-distrito de Jardim Romano, conhecido como “pantanal”, extremo leste do município de São Paulo.

Visitando a mencionada escola constatamos que a mesma está inserida em uma área de várzea do rio Tietê onde os alagamentos são recorrentes, tendo, inclusive, sofrido inundações no início do ano corrente, o que provocou a deterioração de suas instalações e mobiliários. Apesar disso e da precariedade observada, a referida escola, graças ao empenho de sua administração, consegue oferecer ensino fundamental e médio para aproximadamente 1.300 alunos.

Constatou-se, também, que a região do entorno é praticamente desprovida de áreas de lazer e infra-estrutura, razão pela qual fomos levados a ampliar nossa proposta inicial e idealizarmos um modelo no qual a comunidade pudesse, de algum modo, se sentir integrante do processo educacional, seja ele em seu sentido pedagógico, cultural ou social. À guisa de reposta ao problema podemos citar a edificação suspensa do prédio da biblioteca e o seu destacamento do prédio principal da escola. Desse modo ela poderá funcionar independentemente do horário escolar e, ainda, servir como cobertura para um espaço que pode ser destinado à convivência comunitária. O outro exemplo é o auditório e que pode também funcionar de forma independente, onde pode abrigar reuniões, cultos ecumênicos, teatros e outros eventos sociais, beneficiando, desse modo, todos os moradores da região.

Não se pode olvidar, entretanto, que por se tratar de um edifício destinado à educação escolar, as diretrizes estabelecidas pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE, devem ser observadas à risca, posto ser essa instituição competente para editá-las, seja no que concerne às áreas pedagógicas, seja no que tange aos recursos físicos.

Esta é nossa proposta e, segundo Hertzberger (1999,p.25), viável, pois, passível de proporcionar uma “identidade pelo uso”, o que realmente desejamos. Que a sociedade seja capaz de entender e buscar, sempre, por mais singulares que sejam, mecanismos que possam permitir sua real integração e, acima de tudo, da promoção humana.

O projeto foi elaborado no terreno atualmente ocupado pela Escola Estadual José Bonifácio, cujas dimensões são de 140x40 metros, circundado pelas ruas André Furtado de Mendonça, Duarte Martins Mourão, Curimatá e Avenida Tomás Lopes de Camargo.

Partido arquitetônico

A escola engloba dois blocos: o principal, com três pavimentos, onde estão localizadas as salas de aulas, o setor administrativo, espaço recreativo e o auditório, e outro que abriga a biblioteca.

Destinada também ao uso da comunidade, a biblioteca tem seu funcionamento e acesso independentemente das atividades escolares, de modo a atender o principio gerador deste projeto, qual seja, o de trazer uma opção para que a comunidade possa participar de suas atividades. A sua edificação destacada do solo permitiu a criação de um espaço aprazível no térreo, pois, livre de fechamentos e contínua em relação à calçada, possibilita a existência de um espaço de convivência para os locais.

Devido às dimensões do terreno, adotou-se como solução à orientação das salas (leste-oeste) o uso de brises verticais para o isolamento do excesso de insolação. Este recurso propicia, além de proteção um interessante jogo cromático, dado ao contraste entre a estrutura e os referidos brises.

O auditório, apesar de implantado em uma cota negativa, não corre o risco de ser invadido pelas águas quando das inundações, pois, como medida preventiva o bloco principal foi elevado 0,50m em relação ao entorno (o ponto onde esta locado o auditório teve uma inundação máxima de 0,20m de altura). Em princípio não existiriam ambientes molhados nesta cota, mas imaginamos o uso de novas tecnologias que são capazes de barrar o refluxo das águas pelo encanamento de esgoto, impedindo inundações. O acesso ao mesmo se dá por um grande espaço acessado por uma escadaria que ao mesmo tempo serve como um grande hall aberto (como a que existe na FAU-USP-Campus Butantã) ou mesmo como arquibancada para as crianças em seus intervalos. Além da escadaria, também foi projetada uma rampa de acesso ao auditório e à sua cobertura, já que é uma extensão do pátio.

Os pavimentos superiores possuem grandes aberturas nas lajes anulando a sensação de corredor que existe na maioria das escolas. O intuito é proporcionar sensação de conforto aos usuários de modo que possam usufruir deste espaço geralmente desperdiçado. O contato visual com os outros andares, proporcionado pelas referidas aberturas, também contribui para o sentimento de comunidade mesmo dentro do espaço escolar.

O projeto partiu de um estudo volumétrico que resultou na forma final ora apresentada. O desalinhamento proposital nas extremidades dos pavimentos resultou na criação de espaços laterais que, além de possibilitarem sua utilização como ambiente de convívio entre os alunos, permitem uma maior integração entre o ente público e o seu entorno, pois, agraciados com aberturas para o seu exterior. Ainda com vistas a aproveitar esta idéia de integração escola/comunidade, as circulações verticais foram locadas nas extremidades do edifício e o acesso às escadarias e ao elevador se dá por passarelas esbeltas, de forma que não parecem fazer parte do corpo principal do edifício.

Segundo determina a Fundação para o Desenvolvimento da Educação, o contorno do pátio reservado aos alunos é todo murado, sem aberturas, de modo a se evitar eventuais ações de vandalismos ou de traficantes. Com relação à esse assunto tão delicado, a Secretaria da Educação tem adotado como política a aproximação da comunidade com a escola visando, dessa forma, criar um ambiente pedagogicamente viável e íntegro. A arquiteta Mayumi Watanabe, que atuou em inúmeros projetos escolares, acreditava que a escola era um bem da comunidade e, portanto, após a apresentação dos projetos aos representantes da comunidade finalizava “Aqui será construída uma escola de vocês” , transferindo aos pais e alunos a responsabilidade sobre o patrimônio público. (BUITONI, 2008 – grifo nosso).

slideshow image

If you can see this, then your browser cannot display the slideshow text.

 

topo