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secao 4!

Galeria de Arte com Suporte a "Novas Mídias"

Hannah Uesugi

Marcelo Marino Bicudo

No presente trabalho, parte-se de um contexto novo gerado pela introdução das artes midiáticas no interior do espaço expositivo para alcançar a construção de um lugar que se constitua como parte de uma relação comunicacional entre a obra de arte e a cidade.

As novas tecnologias que invadiram o espaço da galeria remodelaram as relações que ocorriam no interior dos museus tradicionais, houve uma alteração clara na relação existente entre o sujeito e o objeto de arte e entre o próprio objeto e o espaço que o contém. Não se pode ignorar a peculiaridade dessas relações e simplesmente inserir esse tipo de objeto artístico num contexto que não lhe pertence – o modelo rígido da galeria de arte tradicional. Esses novos objetos baseiam-se justamente na liquidez dos processos comunicacionais, na instabilidade e no diálogo com o público – que não é mais o mesmo da época da “modernidade sólida” (Bauman, 2001).

“Esse novo homem que nasce ao nosso redor e em nosso próprio interior de fato carece de mãos. Ele não lida mais com as coisas, e por isso não se pode mais falar de suas ações concretas, de sua práxis ou mesmo de seu trabalho. O que lhe resta das mãos são apenas as pontas dos dedos, que pressiona o teclado para operar com os símbolos. (…) Não se trata mais de ações, e sim de sensações. O novo homem não quer ter ou fazer, ele quer vivenciar. Ele deseja experimentar, conhecer e, sobretudo, desfrutar.” (Flusser, 2007, p.58)

Nesse novo contexto, a contemplação deu lugar à busca por experiências. Para esse “novo homem” o antigo modelo baseado na estaticidade perdeu o sentido, ele agora busca relações interativas, pois deseja fazer parte do processo. As artes midiáticas se propõem justamente a propiciar esses “momentos-arte” (Grossmann, 2001) convidando o público a participar do ato criativo do artista.

O que se coloca neste trabalho é que o espaço destinado à apreciação da chamada artemídia requer atualizações constantes, não podendo ser fruto da adoção de um modelo estabelecido a priori – seja o modelo do Cubo Branco, seja qualquer outro modelo. Em consequência disso, o ato de projetar esse espaço se transforma, passando a considerar a ação de agentes externos à relação projeto-projetista, o projeto deixa de ser algo sólido e passa a constituir-se como um sistema cujas variáveis tornam-se também inerentes aos próprios sujeitos. Não faz mais sentido projetar apenas a partir de um programa de necessidades, pois as necessidades dos usuários estarão sujeitas a constantes atualizações; mais satisfatório seria projetar a partir de diretrizes que conduzam o comportamento dos agentes do sistema para que este torne-se passível de constantes atualizações.

Neste trabalho, portanto, adotou-se uma metodologia de projeto que transcende a arquitetura enquanto espaço físico para partir da análise da interação dos agentes envolvidos num processo infinito de trocas informacionais. Por isso, o projeto, apesar de dar origem a uma arquitetura, concentra-se muito mais na definição de estratégias de comunicação – como comumente fazem os designers – do que na constituição de um espaço edificado para responder às necessidades do programa de determinado tipo de lugar. A arquitetura da galeria estará a serviço da mensagem das obras contidas em seu interior, devendo comportar-se como o meio e não como suporte aos meios, buscando estabelecer alterações valorosas nesse ambiente já consagrado da galeria de arte.

“É hora de repensar as estratégias e as motivações. Optar por formatos diferenciados capazes de caber em salas expositivas, sem redundar em “coisificações” grosseiras e simplificações de problemas que estão abertos pela contemporaneidade da qual fazemos parte. Caso contrário, a aposta será estúpida: trocar o velho e confortável cubo branco pela barulhenta e incômoda caixa preta.” (Beiguelman, 2005, p. 93)

Desenvolvimento do trabalho:

Em um primeiro momento, deu-se prioridade à análise conceitual do problema através da leitura da bibliografia pertinente ao assunto.

Inicialmente, realizou-se uma análise do modelo arquitetônico do Cubo Branco. A partir de leituras específicas sobre o espaço expositivo e a sua relação com público e obra de arte, percebeu-se que o Cubo Branco, apesar de ser adequado à exposição da arte moderna, não se mostrava eficiente como modelo para a exposição da arte das “novas mídias”, modelo este que pressupõe um diálogo maior entre obra de arte, público e espaço arquitetônico.

Em seguida, o estudo direcionou-se para as novas possibilidades que a arte tecnológica oferece no sentido de aproximar público e obra de arte. Foram analisadas obras artísticas que trabalham nesse sentido e a literatura recente que avalia as mudanças que estão em curso na sociedade.

Depois, a fim de buscar soluções que aproximassem efetivamente o público do espaço arquitetônico teve início uma análise da arquitetura do ponto de vista comunicacional, buscando entendê-la como parte fundamental do diálogo que se pretende construir a partir da identificação da população com o espaço da galeria.

Nesse momento, foram então estabelecidas as diretrizes de projeto que juntamente com a análise das referências projetuais serviram de base para o desenvolvimento da proposta.

O projeto derivou, portanto, muito mais de uma base conceitual do que da definição de um programa de necessidades que seria responsável por quantificar áreas mínimas destinadas para cada atividade. A abordagem dele se configurou de maneira complexa, entendendo o espaço como parte de um sistema de relações dialógicas e não como um discurso que se esgota em si mesmo.

Dessa forma, foram definidos os três principais nós da rede que foram desenvolvidos pelo projeto:
o edifício-galeria: pólo estruturador da rede, o edifício abriga a sede da galeria que além de áreas expositivas, conta com áreas educacionais e administrativas.
os módulos-galeria: intervenções pontuais temporárias no ambiente urbano, espalhadas simultaneamente por diversos pontos da cidade.
o site-galeria: site na internet organizador de todo o conteúdo artístico da rede.

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