A escolha do tema extrapola a intenção de realizar simplesmente um projeto público. Surgiu a partir do processo de reflexão que constatou a necessidade de proporcionar o acesso à cultura para todas as camadas da população.
A escolha da cidade de Itapecerica da Serra se baseia na possibilidade de dar proposta concreta de intervenção projetual visto o conhecimento das características e necessidades da cidade.
Inspirado nos pensamentos da Arquiteta Lina Bo Bardi:
“Quando se projeta, mesmo como estudante, é preciso fazer uma obra que ‘sirva’, que tenha uma conotação de uso, de aproveitamento. É preciso que essa obra não caia do céu sobre os ‘moradores’, mas que exprimam uma verdade, uma necessidade. E ela também tem que ser (e isso vai depender da capacidade de cada um) mais ou menos bonita: você sempre procura o objeto ideal, decente, que possa ser chamado pelo termo antigo de ‘beleza’”.( BARDI, Lina Bo. Trecho retirado de “Lina por escrito”)
Significa dizer o quanto é importante que o projeto reflita as necessidades da população, e que portanto seja útil, que ofereça retorno. Pensar em algo que supra a carência da cidade e que possa influenciar a grande variedade da população de Itapecerica da Serra, caracterizada por poderes aquisitivos diferenciados, faz do trabalho algo ainda mais útil.
Como a maioria da população da cidade apresenta renda baixa, a necessidade de apoio para o acesso à cultura é agravada. Um local público para este fim facilitaria, inclusive, o contato entre as diferentes camadas dessa sociedade.
Como a intenção é fazer uma obra pública para atingir as diversas camadas da população, é necessário levar o mesmo respeito que as pessoas têm dentro da própria casa ao equipamento. É criar mecanismo para que estes se identifiquem e se sintam pertencentes ao espaço e, portanto, responsáveis por ele. Só assim o projeto será bem sucedido.
“O segredo é dar aos espaços públicos uma forma tal que a comunidade se sinta pessoalmente responsável por eles, fazendo com que cada membro da comunidade contribua à sua maneira para um ambiente com o qual possa se relacionar e se identificar.”( HERTZBERGER, Herman. “Lições de Arquitetura”)
É criar situação na qual a rua possa servir a outros objetivos além do rodoviarista. É não tratar os edifícios como blocos individualizados constituindo espaços sem diálogos entre os moradores. Temos que dar ênfase ao tratamento do domínio público de tal modo que estimule a interação social e a reflexão.
Nesse sentido, o projeto precisa impressionar. E não impressionar somente por sua forma e pelo seu uso, mas também pela maneira como ele interage na cidade. Este aspecto vai completar as condições espaciais inerentes ao projeto.
O resultado final incorpora conceitos desejáveis quando se trata de edifício público. A sua localização faz do projeto algo diferenciado. A sua divisão em blocos, além de favorecer a melhor implantação, com arquitetura menos monumental, demonstra a preocupação de cunho construtivo uma vez que os blocos podem ser realizados em etapas separadas. A verticalização dos blocos é pensada pela necessidade em vencer os desníveis entre as três ruas presentes no projeto. Deste modo, essa idéia se reflete na decomposição do espaço em superfícies horizontais.
A idéia é transformar o “Centro Cultural” em marco na cidade. Lugar para estudar, para divertir, para divulgar (as produções da cidade) e, não menos importante, como passagem entre os níveis da cidade.
O auditório no terreno de cota mais baixa é responsável por criar o marco desejável. Sua grande parede cega necessária para o palco poderá ser utilizada como mecanismo de introdução visual ao projeto. A transposição continuada daquilo que é a platéia do auditório como uma grande escada oferece entrada generosa e franca ao “Complexo Cultural”, ao mesmo tempo que incorpora a idéia de constituir circulação facilitada e desejada, pelo interior do programa, para cruzar a cidade, e um palco aberto de usos variáveis.
O programa continua com uma circulação que segue as curvas do terreno. O acesso na rua intermediária se dá por meio de um bloco que funciona como cobertura onde estão localizados as salas de cinema e o “centro cultural” propriamente dito.
Este patamar (o intermediário) é a grande praça que une todo o programa do projeto. Utiliza a cobertura do auditório como expansão da calçada. Incorpora tanto a circulação das pessoas como o lugar de vivenciar aquilo que a cidade carece.
Continuando o percurso, depois do nível intermediário, a circulação vertical existente dentro de um dos blocos é responsável por fazer a conexão com a Rua Major Manuel F. de Moraes (rua na cota mais alta). Um pouco deslocado está o terceiro bloco que é acessado pela Rua Fazenda Paraíso (rua da cota intermediária). Este é interligado com o segundo bloco através de passarelas.
Todos esses blocos são unidos, visualmente pelos ‘brises-soleil’. Os brises representam mais que a função de proteger do sol de fim de tarde, mas também como elemento que une visualmente os 3 blocos do projeto. Ora sendo aparato de proteção do próprio CCIS, como nos blocos 2 e 3; ora dos vizinhos, como no bloco 1.
O CCIS é composto por 3 eixos de circulação vertical. Estes organizam os espaços internos de maneira a atender às necessidades de conexão entre os blocos com acessibilidade universal.
A grande escadaria, ao mesmo tempo que é parte da circulação, sugere e qualifica um espaço de passagem e um espaço multiuso, que pode ser palco de apresentações individuais, exposições e até intervenções artísticas.
Existe uma preocupação em manter os blocos de circulação vertical funcionando caso o CCIS precise ser fechado. Deste modo, as grades presentes em alguns andares permitem que a população continue a usar as escadas internas dos edifícios e alguns de seus programas.