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secao 4!

Abastecimento e distribuição de alimentos na metrópole:

a CEAGESP como questão urbana

Juliana Cipolletta

Regina Prosperi Meyer

A escolha do tema, abastecimento alimentar, teve como ponto de partida o desejo de investigação das relações do individuo com o meio urbano em sua complexidade. Conforme menciona Rykwert (2004), o tecido urbano “não se desenvolve suave e uniformemente – como implica a noção de produção do espaço. Pelo contrário, ele se desenvolve de modo nada natural, aos saltos e com frenesis, tumultos e recomeços”.

O trabalho consiste em cinco capítulos. O primeiro, de caráter introdutório, fornece um panorama geral das centrais de abastecimento mundiais, seu funcionamento e peculiaridades. Trata também do papel do Estado no desenvolvimento da função ao longo do tempo, dando ênfase às políticas públicas brasileiras. O segundo concentra-se em São Paulo, partindo da contextualização histórica do abastecimento e chegando à caracterização da rede CEAGESP (Companhia de Entrepostos de Armazéns Gerais de São Paulo). O terceiro capítulo trata da logística de distribuição de cargas no estado paulista, colocando em pauta a questão da localização do ETSP (Entreposto Terminal São Paulo) da CEAGESP. O quarto, reúne informações mais detalhadas sobre o ETSP e entorno, caracterizando o processo investigativo do trabalho. Por fim, o quinto capítulo, conclusivo, coloca diretrizes de intervenção no sistema, em três escalas distintas.

O primeiro mercado paulista data de 1867. Situava-se entre a Ladeira General Carneiro e a Rua Vinte e Cinco de Março, comercializando produtos ao ar livre, geralmente pelos próprios produtores. Com o crescimento gerado pela economia cafeeira, fez-se necessária a construção de um novo mercado, à altura da metrópole do café (SÃO PAULO, 2004). Desse modo, em 1933, foi construído o Mercado Municipal de São Paulo, que por muito tempo foi o principal responsável pelo abastecimento alimentar paulistano.

O intenso ritmo de crescimento da cidade indicava a necessidade de se criar um entreposto de distribuição em escala estadual. A criação do Centro Estadual de Abastecimento - Ceasa, em 1960, impulsionou a construção de uma nova central. Esse entreposto, instalado na Vila Leopoldina, conhecido por CEAGESP ou mesmo Ceasa, se trata oficialmente do Entreposto Terminal São Paulo - ETSP e constitui a sede administrativa de uma rede estadual, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo - CEAGESP.

A Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo - CEAGESP foi criada em 1969, a partir da fusão da Companhia de Armazéns Gerais do Estado de São Paulo - CAGESP com o Centro Estadual de Abastecimento S.A. - Ceasa. Pertenceu ao Estado até 1997, quando foi federalizada em decorrência da negociação da dívida estadual com a União. Atualmente, a gestão da empresa é de competência do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA.

A central de São Paulo é responsável pela administração de toda a rede CEAGESP, sendo também sua maior representante. Cerca de 80% do faturamento anual da empresa é oriundo do ETSP, que movimenta 250 mil toneladas de frutas, legumes, verduras, flores e pescados todo mês. A estrutura física do entreposto, permanece a mesma até hoje, com pouca ou nenhuma intervenção, o que colocam reforma e modernização como questões prioritárias para que a CEAGESP continue exercendo suas atividades.

Nesse contexto, a sede da rede vem sofrendo a pressão das novas exigências do mercado atacadista de hortigranjeiros e, para se adaptar à atual demanda, necessita da reestruturação de todo seu aparato físico e funcional de comércio e gestão. No entanto, conforme observado durante a análise, são muitos os entraves relacionados a esse processo.

O objetivo do trabalho, mais do que definir usos e padrões de ocupação do solo ou realizar um projeto específico que responda parcialmente às necessidades do tema, é tentar sistematizar e dimensionar a questão do abastecimento alimentar na metrópole paulista, tomando como base a problemática do ETSP da CEAGESP.

As diretrizes apresentadas têm como base o desejo da permanência do entreposto no local onde ele hoje se encontra em contraposição a proposta de sua transferência para as proximidades do Rodoanel. O principal argumento para a manutenção da central na Vila Leopoldina consiste na inexistência, no estado de São Paulo, de um sistema logístico de distribuição de cargas no território, fato que justificaria a localização do entreposto junto ao Rodoanel, do ponto de vista do abastecimento.

Sem considerar as demais questões que envolvem o interesse de remoção do ETSP do bairro, sua permanência, junto a um plano de inserção urbana, pode simbolizar a reversão do modelo de ocupação do solo que vem sendo reproduzido na região. A função abastecimento, desde que pensada em sua totalidade, tem competência para compor o tecido urbano de uso misto de maneira integrada, representando apenas ganhos para a cidade.

No entanto, para que isso aconteça, é necessária a reestruturação da rede CEAGESP. Ou seja, para que hajam mudanças significativas no ETSP é preciso que se forme um sistema de abastecimento estadual, onde haja intensa atuação do poder público. Isso, aliado a um plano de transportes de cargas cujos esforços concentrem-se na construção do Ferroanel, traria enormes benefícios para a questão do abastecimento alimentar, o que impactaria direta e positivamente as atividades do ETSP na Vila Leopoldina.

Desse modo, no âmbito da elaboração de um Plano de Referência, foram consideradas três possíveis frentes de intervenção, com escalas de abordagem distintas. A primeira, diz respeito à funcionalidade do interior do entreposto terminal da CEAGESP, visando melhorias internas a fim de otimizar as atividades relacionadas à comercialização de hortigranjeiros na metrópole. A segunda refere-se à relação da central com seu entorno imediato e busca encontrar soluções para a promoção da convivência pacífica da função abastecimento alimentar com as demais dinâmicas do bairro. A terceira, por fim, exerce forte influência sobre as anteriores e trata a questão da reorganização da rede CEAGESP e do sistema de abastecimento alimentar de maneira geral.

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