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secao 4!

Sistema de escolas para Rio Grande da Serra

Lais Regina Flores

Fábio Mariz Gonçalves

Este trabalho teve como objetivo criar um sistema de escolas para pequena cidade na Grande São Paulo, procurando assegurar conexões efetivas entre as diversas escolas da cidade, os espaços livres – parques e praças – e cada bairro.

Tais conexões têm diversos objetivos.

Em primeiro lugar, buscou-se permitir e facilitar a utilização de todos os equipamentos escolares por quaisquer alunos da rede, independente de tais equipamentos estarem ou não disponíveis na escola em que o aluno está matriculado.

Tal compartilhamento de certos equipamentos não é inovação nos sistemas públicos de educação. Os CEUs em São Paulo, por exemplo, oferecem amplos e diversificados espaços livres de uso público e aberto. Diante da ausência de espaços similares nas outras escolas – tanto da rede municipal quanto da estadual – a possibilidade de utilização dos mesmos por outros alunos é positiva e esperada. Entretanto tal uso é bastante abaixo do ideal por motivos óbvios: não são raros os professores que veem no deslocamento das crianças de uma escola para outra, barreira intransponível de insegurança.

Embora não seja possível, claro, assegurar através de projeto urbanístico, paisagístico ou de arquitetura, determinado uso desejado, é possível sugerir e facilitar tal uso e torná-lo confortável e seguro.

Assim, para facilitar tais percursos, criou-se, através do desenho urbano, conexões entre as escolas – ruas de pedestres, ciclovias, calçadas largas, sombreadas e seguras, etc.

Tais conexões visam servir não apenas ao deslocamento entre as escolas, mas também devem favorecer a viagem dos alunos de casa até a escola, outro dos objetivos do projeto.

Em adição as escolas foram ligadas, através dos percursos criados, também ao sistema dos espaços livres da cidade, propiciando assim a integração destes espaços aos espaços didáticos. Especialmente nas áreas nas quais a ausência de espaços livres é significativa, o desenho urbano objetivou a criação e o projeto de novas praças e espaços abertos públicos.

Por fim, observa-se que a criação de tais espaços públicos no tecido urbano serve não apenas para os alunos das escolas da cidade, mas, claro, para todos os cidadãos. As escolas são invariavelmente o equipamento público mais presente, numeroso e reconhecível em qualquer cidade, e um projeto urbano que preveja a sua efetiva inserção e influência sobre o tecido urbano beneficia todos os habitantes da cidade, ao prover confortáveis ligações urbanas entre todas as regiões da cidade, desenhados para a escala do pedestre, facilitando os deslocamentos a pé e em bicicletas.

O projeto realizado procura ser um exemplo, uma proposta modelo que procura entender o projeto escolar não mais como um edifício isolado, mas como um equipamento público verdadeiramente integrado à cidade, e cujo projeto não apenas seja guiado pelo local em que será implantado, mas possa, por sua vez, influenciar o seu entorno.

O título escolhido, “Sistema de Escolas” procura ilustrar o principal objetivo do trabalho: propor um novo olhar sobre o projeto de escolas, permitindo seu entendimento dentro de um sistema.

Foram projetadas 13 escolas, (4 de educação infantil, 7 de Ensino Fundamental e 2 de Ensino médio) e todos os projetos seguiram as mesmas ideias principais. Os edifícios não foram detalhados, mas seguiram uma estrutura modular que se repete em todas as escolas. O espaço livre foi projetado cuidadosamente, influenciado pelo entorno e contribuindo para o mesmo.

O desenho urbano realizado contou com o alargamento de calçadas e esquinas, criações de calçadões, ajustes no traçado das ruas, arborização criteriosa.

A motivação para a realização deste projeto nasceu da convicção de que a educação é o meio mais importante para o desenvolvimento social do país, e que a construção de escolas no Brasil têm que deixar de ser uma questão meramente quantitativa, e passar a ter prioridade qualitativa. De pouco adiantam escolas que atendem todos mas não educam nenhum.

Em um país como o nosso, e em cidades como as nossas, onde espaços livres públicos de qualidade são poucos e mal distribuídos, a escola tem um papel muito além do de educar, pois acaba sendo o principal espaço público de muitos bairros. O dever deste espaço, portanto, não é apenas o de prover salas de aula, mas uma variedade muito mais ampla de equipamentos e lugares.

Para promover o desenvolvimento da educação brasileira, é urgente deixar de entender a escola como um edifício isolado e começar a pensá-la em um contexto, em um espaço, em um conjunto e em um sistema, e foi esta a principal intenção deste trabalho.

Como escreveu o arquiteto Hélio de Queiroz Duarte sobre a função do espaço escolar, já em 1950, “Reuniões de pais, pequenos bailes, cursos para mães e noivas, pequenas palestras, cinema e teatro educativos, biblioteca, audições de música, teatro de bonecos e jogos. Tudo aí [na escola] poderia ser realizado. Forças centrípetas convergiriam para a escola e seriam as concorrentes da formação intelectual, social e profissional dessas pequenas comunidades, onde depois de processadas passaria a ser centrífugas – difusoras do conhecimento adquirido” (DUARTE, 1950)

Embora a arquitetura, sozinha, não seja capaz de assegurar determinados usos desejados ou promover o desenvolvimento da educação, ela é o meio no qual as atividades acontecem, e portanto um bom projeto pode facilitar, favorecer e possibilitar tais atividades e usos.

Acentua-se, desta maneira, como essencial a comunicação entre o projeto arquitetônico, o trabalho social, os educadores e os usuários do espaço. A melhoria da educação no Brasil é responsabilidade de profissionais de diversas áreas, cada qual com sua própria atribuição, e o arquiteto tem um significativo papel neste contexto.

Assim, este projeto final de gradução representa um anseio meu de vir a fazer parte deste processo e contribuir efetivamente para ele de acordo com as minhas competências como profissional de arquitetura.

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