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Isidora: um resgate tipográfico –

desenvolvimento de uma família de fontes tipográficas digitais para a composição de textos

Laura Benseñor Lotufo

Priscila Lena Farias

O tema para este Trabalho Final de Graduação surgiu pelo interesse por dois temas distintos, a tipografia (aliada ao design de tipos) e a produção editorial no Brasil. Teve como objetivo o desenvolvimento de uma família de fontes tipográficas digitais para a composição de textos que tivesse como referência os primórdios da produção editorial no país.

Uma pesquisa bibliográfica inicial indicou que o Rio de Janeiro seria o cenário mais rico para o levantamento de dados. Em 1808, D. João VI e sua corte se instalaram na cidade que viria a ser a capital do Império. Findava-se o período de proibição da impressão no Brasil. Recém descobertas liberdades comerciais, culturais e intelectuais se materializavam no contexto urbano da capital com a instalação de uma série de instituições governamentais e privadas, dentre elas, a Imprensa Régia e os primeiros negócios privados do mercado editorial no país.

Foi decidido, portanto, voltar as atenções também para o século anterior à vinda da corte ao Rio de Janeiro, em que se deram algumas tentativas de instalações de oficinas em território brasileiro e para o século seguinte, logo após a instalação da Imprensa Régia. Foi realizada uma busca por novas informações tanto bibliográficas quanto gráficas do passado editorial brasileiro, especialmente em sua incipiência. A partir do levantamento e de uma análise dos resultados, propôs-se o desenvolvimento de uma família de fontes tipográficas digitais baseadas nos tipos empregados em uma obra impressa no período histórico estudado.

A pesquisa bibliográfica se iniciou com a leitura de "O Livro no Brasil – sua história", de Laurence Hallewell (HALLEWELL 2005), principal referência para esta etapa de trabalho. O livro é organizado em capítulos que, em ordem cronológica, são dedicados aos principais indivíduos relacionados à produção editorial assim como o comércio de livros no país desde meados do século XVII, até fins do século XX. A leitura deste livro foi acompanhada da pesquisa iconográfica dos impressos nos sites de três grandes instituições: o Instituto de Estudo Brasileiros (IEB-USP), a Biblioteca Nacional (BN) e, principalmente, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM-USP).

A escolha definitiva da oficina assim como da obra utilizada para o trabalho levou em conta dois importantes critérios: 1) o valor histórico da obra, concernente à sua importância na história editorial brasileira e ao valor intelectual de seu conteúdo e; 2) as qualidades gráficas e tipográficas do impresso que dariam margem para um desenvolvimento satisfatório do ‘resgate tipográfico’.

A principal referência metodológica foi o trabalho do designer de tipos mexicano Cristóbal Henestrosa para o desenvolvimento de sua família de fontes tipográficas Espinosa, descrita em Henestrosa (2005). A família tipográfica resgata digitalmente os tipos empregados e fundidos por Antonio de Espinosa, um dos primeiros impressores do México. Para realizar o projeto, o designer pesquisou ostensivamente a história do fundidor e impressor; fez um levantamento dos impressos produzidos por Espinosa e escolheu um que seria sua referência principal para o desenvolvimento da família tipográfica. A partir dos frutos da pesquisa e de suas conclusões, Henestrosa passou a desenvolver a família de tipos: fez um levantamento dos caracteres presentes no documento, elegendo um conjunto de caracteres-base a partir do qual fez os primeiros desenhos à mão, depois digitalizados e vetorizados.

Seguindo essa metodologia, foi feita a escolha do documento referência e se desenvolveu uma pesquisa sobre a origem do impresso e do próprio impressor. Apresentada a análise histórica, o trabalho se deu na forma de um ‘resgate tipográfico’, em que se propôs uma interpretação dos tipos utilizado na obra escolhida. Por fim, a obra de Antonio Isidoro da Fonseca, a “Relação da entrada que fez…” foi a que mais interessou ao desenvolvimento do trabalho. Embora o tema do documento seja passageiro, seu valor por ser considerado o primeiro livro impresso em território brasileiro é inquestionável, ainda mais num momento que antecede em mais de meio século a vinda definitiva da imprensa para o Brasil. Os tipos empregados, principalmente o caráter aparentemente improvisado e pouco refinado do impresso, despertaram um interesse investigativo sobre a produção da obra e a história do próprio Isidoro da Fonseca.

Logo no TFG1, foi feito um primeiro exercício projetual em que foram levantados os caracteres itálicos e, numa primeira tentativa de se seguir a metodologia apresentada por Henestrosa, se obteve uma versão inicial de Isidora Italic. Esse exercício permitiu maior familiarização com o processo e com as ferramentas de trabalho e contribuiu para o desenvolvimento do restante da família. No TFG2, foi refeito esse processo de levantamento e escolha de caracteres, desenho à mão e vetorização com os caracteres romanos presentes no documento. Apenas quando estes já estavam numa etapa de desenho relativamente avançada, que se retomou o desenho dos itálicos. A partir desses estilos, foram desenhadas as versões bold e bold itálico além de versaletes e versais para títulos que acompanham a romana regular.

Propôs-se, portanto, um resgate digital daqueles que podem ser considerados os primeiros tipos impressos no Brasil. O resultado final é uma família de tipos inspirada naqueles utilizados na “Relação da entrada que fez...”, aquele considerado o primeiro livro impresso no Brasil. Isidora é um trabalho em andamento: pretende-se continuar seu desenho para depois expandir a família e ampliar o conjunto de caracteres para que esta possa ser utilizada em diversas línguas e para diversas finalidades procurando traduzir a linguagem tipográfica do impresso não só para as plataformas digitais em seu sentido tecnológico mas também para sua utilização nas mídias atuais. Sobretudo, é importante Isidora manter sua ligação ao passado e, principalmente, seu ‘espírito’ de improviso e, de certa forma, suas imperfeições, remetendo sempre à segunda oficina de Isidoro da Fonseca.

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