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secao 4!

Centro de Educação Complementar em Heliópolis

Liz Arakaki

Fábio Mariz Gonçalves

Reunindo os conhecimentos adquiridos ao longo destes anos de estudo e pensando sobre o papel do arquiteto e urbanista na transformação e produção da cidade, a intenção neste trabalho é buscar uma resposta projetual a uma necessidade real a partir de um exercício de observação e reflexão da cidade. A paisagem foco de estudo é Heliópolis e, a partir desta escolha, procuro antes compreendê-la para então propor um equipamento mais próximo possível das suas reais necessidades.

Para tanto, buscou-se compreender o “sintoma” urbano que predomina nas cidades dos países em desenvolvimento: a favelização. Depois, procurou-se conhecer os aspectos históricos de Heliópolis, que marcaram sua origem e formação. A análise dos aspectos quantitativos e qualitativos revelou o nível de infraestrutura local e de desenvolvimento urbano. Outro fator de suma importância foi tentar absorver os aspectos sociais através de visitas ao local e conversas com os moradores.

Analisando a trajetória de Heliópolis, observou-se uma formação permeada por lutas e conquistas. Desde o início, a luta pela moradia e pela regularização da posse da terra foi o grande objetivo. Em seguida e conjuntamente, a luta foi pela infraestrutura básica. Hoje, o grande foco é também a educação. Num esforço conjunto, os moradores têm conseguido que uma série de equipamentos fossem instalados nestes últimos tempos, com o objetivo de fazer de Heliópolis um bairro educador.

É neste contexto que surge a intenção, vista a necessidade, de se projetar um espaço educativo, que amplie as possibilidades de aprendizagem e melhore a qualidade de vida urbana. Oferecendo a oportunidade de uma educação integral e complementar à educação formal por meio de atividades voltadas ao desenvolvimento e à sensibilização artística, cultural e corporal, o espaço procura ter papel educador não apenas para os jovens, mas também para toda a comunidade, servindo também como ponto de encontro e espaço de convívio.

A partir disso, o trabalho busca se situar em relação à educação pública brasileira e reflete sobre as aspirações e inspirações da Escola-parque, assim como do CIEP e CEU. Procura uma experiência de vivência através da realização de atividades educacionais junto aos Centros da Criança e Centros do Adolescente existentes em Heliópolis.

O projeto parte então da relação com a comunidade - a todo momento é pensado em um espaço que une toda a comunidade e que propõe um diálogo constante e transformador com ela; e da relação com o entorno - pensando em como dialogar com ele tomando o cuidado de não reproduzir a favela.

A intenção neste exercício de projeto é a de criar uma grande integração entre os espaços públicos e os semi-públicos, entre o espaço interno e o externo. Pensa-se no edifício educacional como um espaço menos público inserido num espaço que é, a todo momento, público e aberto a todos. Desta maneira, o terreno acidentado é tratado de forma a proporcionar, na cota mais alta do terreno, um grande terraço de acesso ao edifício educacional e, na cota mais baixa, uma generosa praça para o lazer das crianças.

O programa propõe atividades que se articulam aos programas sociais já existentes em Heliópolis e os complementam. Ele procura atender crianças e jovens entre 6 e 18 anos, público este que é dividido em três grupos em função da fase de desenvolvimento pela qual estariam passando. A partir disso, escolhe-se as atividades mais propícias a cada um desses grupos.

Da necessidade de separar os grupos de atividades espacialmente, surgem três edifícios. Da necessidade de integrá-los e de articulá-los, nasce um quarto espaço que, sob a forma de uma marquise, abriga as funções administrativas e as atividades comuns.

O terraço se apresenta como uma prolongação do passeio público externo. Ele está solto dos limites do terreno e tem ligação com a calçada em dois momentos, quando se configura como uma espécie de passarela. Dele é possível ter uma agradável vista do bairro, já que os edifícios estão implantados na cota mais baixa do terreno e possuem gabarito que não excede a altura do nível do terraço, um respiro em meio a extrema densidade das construções de Heliópolis.

Este espaço liga-se no mesmo nível às lajes dos edifícios e é complementado pelas funções que estas possuem: um jardim comunitário; uma horta a ser cuidada pelos alunos; e um teatro ao ar livre, ligado à praça através de uma rampa. O terraço também tem conexão com a praça inferior e, para isso, na lateral de cada um dos edifícios existe uma escada em estrutura metálica que de longe anuncia a ligação entre os dois espaços públicos por sua cor laranja.

O acesso principal ao centro educacional ocorre a partir do momento em que se desce a rampa localizada no terraço. Sob a marquise, dois blocos soltos, abrigam as funções administrativas, alguns serviços e a cozinha. Refeitório, cantina e biblioteca também dividem o espaço sob esta grande laje que permite a passagem de iluminação natural através de grandes rasgos. Tais rasgos coincidem com recortes no piso que dão espaço a pequenos jardins. No fechamento lateral desta marquise, que ocorre em alguns momentos, elementos vazados formam um grande mosaico que filtra a luz natural e emoldura a paisagem da vegetação junto ao talude.

A maioria das salas de atividades abre-se tanto para o exterior, através de uma varanda contínua a elas que traz a paisagem externa para dentro das salas, quanto para o interior, através de portas articuladas de correr e de vidro que permitem que o ambiente seja totalmente aberto e conectado ao restante do edifício. Os espaços de circulação são generosos e não foram pensados como meros corredores, mas sim como extensões das salas onde as crianças são convidadas a brincarem e a exercerem atividades também nestes locais.

Na parte mais baixa do terreno, o piso da praça marca as diferentes gradações de acesso, contribuindo para resguardar o espaço contíguo às salas de atividades, que é também local de aula e de brincadeiras, espaços de crescimento a céu aberto.

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