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secao 4!

O processo criativo no design

Luisa de Medeiros Possas

Marcelo Marino Bicudo

Em um mundo onde o design se encontra enraizado até nos mais corriqueiros âmbitos, podemos dizer que tudo que fazemos passa a ser uma questão projetual. Todas as nossas escolhas passam a ser frutos do design. Ao escolher essa cadeira e não aquela, o próprio usuário torna-se o designer de seu mundo particular. A partir disso, encontramos uma necessidade básica de, para definir uma cultura e uma civilização, termos que estudar e entender o seu design e seu processo projetual. Para sabermos quem somos, temos que saber o que, por que e como desenhamos e criamos. Para entendermos de onde viemos, temos que saber como criávamos, e para nos questionar para onde vamos, temos que nos perguntar como criaremos. Esse trabalho então, tem como objetivo estudar a criatividade, o processo criativo e os novos papéis do design e do designer como comunicadores em um mundo pós-histórico. Definir bases para tentarmos entender por que, e como, o design passa a ser um formatador de culturas.

Ao tentarmos definir os papéis e métodos do design contemporâneo, nos deparamos com a necessidade de procurar apontar quais as diferenas entre os processos e os papéis do design bidimensional e tridimensional, quais são as peculiaridades de cada um como veículo de comunicação e quais são os desafios que eles tm que encarar em nossa sociedade. Este trabalho busca dar princípio a discussões sobre esses temas e levantar questões que nos ajudem a pensar o design no mundo contemporâneo, fazendo isso de uma forma menos metodológica e mais processual.

Percebemos que ao tratar o design como processo metalinguístico, podemos nos engajar em processos tradutórios e intertradutórios do mundo, através da montagem e desmontagem da cultura. Assim os signos que compõem o sistema de objetos de uma civilização podem ser dominados, sendo decodificados e recodificados para então compor cenários totalmente novos e diversos.

Esse processo de criação de novos cenários, que podemos chamar de processo criativo, sendo tratado como uma faculdade a ser adquirida e desenvolvida, permeia toda a criação do design, que passa a ser de domínio completo do homem e de sua civilização. O design então não é mais fruto do desenho ou da idéia, mas do próprio processo. Seu nascimento torna-se quase espontâneo e involuntário; o processo em si já prevê a existncia do resultado.

O design então não é mais uma disciplina que nasce ou surge, mas que se cria. Essa ato de criação permite ao designer a levar em conta diversos fatores que de outro modo estariam condenados ao acaso. Podemos então planejar minuciosamente estratégias sensíveis que abracem os homens em mantos afetivos. Escolher em que nível cada objeto específico deve atuar para tornar-se relevante. Podemos jogar com texturas, cheiros, escalas e sons. Prever e moldar as emoões de quem irá manusear esses objetos e os valores que os mesmos irão adquirir. Podemos contornar as dificuldades que foram previamente impostas para os diferentes produtos do design. Podemos, e devemos, mudar a estética, a funão e o papel do design na civilização.

A necessidade de experimentação prática surgiu a partir das conclusões e discussões estabelecidas na pesquisa teórica. Estudos puramente teóricos dão margens à muitas suposições e exigem uma cega confiana nas fontes pesquisadas, e assim acabam, a partir de um dado ponto, instigando a necessidade inerente de se botar a prova e experimentar por si próprio. A criação de uma coleão de "objetos do design" foi a ferramenta encontrada para testar todos os conceitos, teorias e discussões colocadas no estudo teórico.

Nesse momento nos deparamos com os desafios. Como atribuir o maior valor possível a um objeto de design elevando ao máximo a curva do valor adquirido de um objeto, enquanto diminuindo ao mínimo a curva do valor dado? Como ampliar os vínculos sensíveis de um objeto e seu portador? E também, como passear livremente do design bidimensional ao tridimensional? Como se aproximar mais do processo da criação do design tridimensional, se familiarizar com o processo? E fazer tudo isso, tentando esticar os braos e alcanar o máximo possível de disciplinas do design?

Se os objetos que são apropriados por seus portadores são os que melhor acabam por se apropriar dos mesmos, ter um maior vinculo sensível e um valor adquirido mais alto, por que não fazer uma coleão na qual o valor dado dos objetos tenda a zero, e a interação portador-objeto seja o ponto central de sua concepão, levando a produão à uma escala íntima e familiar?

Assim, a coleão parte do plano, do bidimensional, para tomar a proporão que seu portador permitir, através da palavra chave "apropriação". Fundamentada na forma triangular, ela se tridimensionaliza com a mesma facilidade com que se bidimensionaliza. É o fracionamento auto-portante da realidade. É uma coleão baseada inteiramente na folha de papel, com livre distribuião eletrônica, que pede a interação do observador para poder existir. O observador vira o ator, o designer, o verdadeiro portador e dono daquele objeto. Ele escolhe, imprime, monta, se apropria; ele o fez, o criou, o construiu, e isso torna aquele objeto œnico e insubstituível.

Ao utilizar papel para a construão da coleão, não apenas ela terá uma inspiração œnica que a envolve, mas também uma linguagem, técnica e abordagem coesas, além de tornar possível a distribuião eletrônica e a livre apropriação do produto. É o desdobramento das estruturas típicas de uma disciplina em favor da outra, e a troca se dá em ambos os sentidos. O intercâmbio assim torna-se total.

A coleão ganha o nome de estœdio, pelo seu caráter de experimentação, mais precisamente Makestudio, o estœdio do fazer, pois ele só existe na ação, no movimento, na vontade.

O Makestudio tenta abrir o máximo possível os braos, abraando as disciplinas do design. Design gráfico, tipografia, estampa, design do objeto, mobiliário... Ele é o teste de tudo que lemos, estudamos e discutimos. Ele que nos revela as dificuldades, facilidades, reviravoltas e a verdadeira cara das disciplinas abordadas.

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