logofau
logocatfg
secao 4!

A rede viária em São Paulo -

Estudo de uma via urbana

Marília Fernandes

Klara Anna Maria Kaiser Mori

A escolha da rede viária como tema foi feita considerando o seguinte: em trabalhos que envolvem a questão do transporte urbano, o sistema viário é considerado, frequentemente, como um elemento negativo, por estar associado ao transporte individual, entretanto o sistema viário também pode estar associado ao transporte coletivo, pois tem papel articulador na estrutura urbana, por ser o elemento que conecta as localizações do espaço. As conexões entre essas localizações são feitas através da rede viária, independente do modo de transporte (a pé, bicicleta, veículos motorizados etc.). Assim, a função essencial do sistema viário é constituir o espaço público que permite o acesso aos lotes e, portanto, às atividades realizadas nas aglomerações urbanas, uma vez que estrutura e configura o próprio espaço produtivo.

O trabalho tem como foco a rede viária, ou seja, os aspectos físicos, técnicos e urbanísticos do sistema viário e, portanto, não estuda com profundidade as questões de engenharia de tráfego, embora as considere de modo geral, e tem como suporte a RMSP (Região Metropolitana de São Paulo), por se tratar de uma aglomeração urbana em que essa questão assume grandes proporções.

Desse modo, há dois objetivos encadeados. O primeiro: analisar as informações referentes ao processo de formação e à atual situação do sistema de circulação da RMSP, com atenção especial na continuidade/descontinuidade dos componentes de sua rede viária. O segundo: fazer uma proposta de intervenção para essa rede viária, como ensaio de possíveis respostas para um ou mais problemas identificados na etapa de análise, viabilizando as funções da nova estrutura viária em suas diversas escalas de abrangência.

O crescimento da cidade no século XX conduziu à elaboração de planos que orientassem a formação de uma rede viária capaz de suportar o volume de atividades sociais e econômicas. Entre os diversos planos realizados, alguns se mostram de interesse para este trabalho e, por isso, foram considerados.

A compreensão urbanística do sistema viário, considerando sua função articuladora de localizações, fez com que a atenção se voltasse para o grau de organização e completude da rede viária, e para sua respectiva aderência às características das diversas regiões da cidade. A RMSP abrange cerca de 40 mil km de vias, o que não permite sua abordagem integral neste trabalho, de tal modo que se considerou apenas a rede viária principal. Portanto, foi adotada, como critério operacional para a seleção de vias, a identificação do grau de descontinuidade entre seus vários componentes, definindo-se um conjunto de condições de descontinuidade.

Entende-se que, se enfrentadas de modo sistemático e abrangente, as soluções dessas descontinuidades contribuiriam significativamente para a constituição de uma rede capaz de desempenhar, em um patamar superior, suas funções básicas: estruturar o tecido urbano, qualificando as localizações nele contidas e servir como suporte aos sistemas de transporte compatíveis com a organização espacial de uso e ocupação do solo.

Para isso, foi feita uma análise gráfica que identificou as principais áreas de descontinuidades, incidindo, na grande maioria, nas regiões fronteiriças entre o município de São Paulo e os municípios vizinhos e, de modo mais amplo, na periferia da metrópole.

Como o trabalho pretende enfrentar concretamente a estruturação da rede viária, foram indicadas as diretrizes para a supressão das descontinuidades apontadas na etapa de análise. Tais diretrizes procuram completar a rede existente, de modo a ter uma distribuição regular pelo território, com o intuito de configurar uma rede viária homogênea e estruturada.

Para a intervenção, foi escolhida a região oeste da RMSP, abrangendo os municípios conurbados de Osasco, São Paulo e Taboão da Serra, em que as descontinuidades da rede viária derivam principalmente do embate existente entre esses diferentes municípios que, permanecendo administrativamente fragmentados, embora em territórios contíguos, mostram-se incapazes de resolver problemas essencialmente metropolitanos em que se encontram envolvidos e, portanto, produzem espaços urbanos diferenciados e desintegrados.

Trata-se de um trecho urbano muito heterogêneo, pelas características de uso do solo, formais e informais, em uma área periférica com intensa relação com a área central da Capital e que ainda não está consolidada, mas em processo de transformação.

Esta intervenção tem cerca de 11,5 km de extensão e apresenta o seguinte traçado: começa no município de Osasco, passa pelo distrito de Raposo Tavares, no município de São Paulo e pelo município de Taboão da Serra e termina no município de São Paulo, no distrito de Campo Limpo.

Para realizar a continuidade da rede viária na região, a intervenção considerou as duas principais funções referentes a essa infraestrutura urbana: dar suporte ao transporte público para atender os deslocamentos necessários à população e permitir o acesso aos lotes em que se realizam as atividades da cidade.

Este trabalho também representa uma oportunidade de apresentar uma maneira de pensar as questões estudadas e sistematizar dificuldades que podem servir como origem de um projeto maior.

As dificuldades encontradas são principalmente relativas à complexidade de uma rede viária tão ampla e extensa e, simultaneamente, tão descontínua e heterogênea, agravada pelas barreiras institucionais, de administrações municipais, em uma região metropolitana, que se refletem não só na realidade construída, como também nas bases gráficas e informações cartográficas, de relevo, corpos d’água e ambiente construído, gerando distorções e imprecisões. Outra dificuldade também é a decorrente dessa desorganização e a ausência de planejamento da própria cidade, ou seja, o problema sempre recriado dos assentamentos se anteciparem à implantação de sistemas viário e de transporte adequados. Tal situação traduz-se em um enorme custo urbanístico, social e econômico gerado pela informalidade.

slideshow image

If you can see this, then your browser cannot display the slideshow text.

 

topo