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secao 4!

O Projeto como Ferramenta de Diálogo

Pedro Kiyoshi Camargo Nakamura

Angela Maria Rocha

O projeto de arquitetura muitas vezes não revela as relações entre os sujeitos que o permeiam. Fragmentação e imposição do conhecimento, centralização das decisões, separação entre concepção e produção são alguns dos processos constituintes do saber arquitetônico que afastam o projeto de arquitetura da realização humana, pensando o ser humano como um ser capaz de ser mais. Diante desta preocupação se buscou com este trabalho entender como a discussão de projeto pode ser um momento privilegiado na tomada de consciência do urbano pelos diversos atores envolvidos(arquitetos, comunidades, técnicos da prefeitura etc), a partir da reflexão sobre a produção do conhecimento de Paulo Freire, usando como estudo de caso assembléias de discussão de projeto com comunidades.

O trabalho foi desenvolvido em três etapas: uma primeira etapa foi de estudo teórico de autores que pensam a relação entre o conhecimento técnico e o outras formas de conhecimento em geral e especificamente no caso da arquitetura e urbanismo. Uma segunda etapa foi o acompanhamento e relato de assembléias de projeto participativo desenvolvidas por duas assessorias técnicas distintas(Peabiru e Usina). Por último foi a reconstituição do debate feito entre técnicos e comunidades estudado na etapa anterior tentando pincelar questões que ajudavam a caracterizar a relação entre arquitetos e comunidade, sem a preocupação em comparar as duas experiências, mas vendo como ambas contribuíam para o entendimento do momento, claro que negando-se ou reafirmando-se mutuamente.

Durante a primeira etapa se buscou entender um pouco mais sobre projeto participativo e método Paulo Freire. Foram pesquisados alguns livros referências sobre o tema, como as obras de Christopher Alexander, Henry Sanoff, John Habraken etc. Foram lidas algumas das obras de Freire para poder enxergar como era tratada essa relação entre a comunidade e o técnico, especialmente “Extensão ou Comunicação” e “Pedagogia da Autonomia”. Foi consultada também bibliografia que tratava da assessorias técnicas e alguns trabalhos sobre esta relação conflituosa entre arquiteto e comunidade, alguns inclusive com a teoria de Freire de pano de fundo (Márcia Hirata, Rodrigo Lefévre, Pedro Arantes etc).

O acompanhamento das assessorias técnicas foi empreendido entre janeiro e agosto de 2010, em reuniões que aconteciam aproximadamente a cada quinzena. Foram acompanhados o projeto de urbanização de favela da assessoria técnica Peabiru Trabalhos Comunitários e Ambientais em parceria com a prefeitura do município de Várzea Paulista, e o projeto da assessoria Usina Centro de Trabalhos para o Ambiente Habitado no município de Suzano este em ralação com o movimento de moradia Associação dos Moradores do Jardim Natal.

A princípio, sem ter alguns pré-condicionamentos, o trabalho de campo buscou ver como essa relação se dava, em ambiente profissional, diferente dos trabalhos estudantis que observei antes, sem muitas expectativas sobre o que encontrar. Foi com o avançar das discussões, com mais densidade de informação que ficou mais claro a relação entre o conhecimento dos diversos atores e os objetos de debate, que tentarei explicar melhor ao longo do trabalho. Momento importante para esse entendimento foi a conversa dos técnicos durante a viagem até o local da reunião. Onde eles explicavam o andamento do projeto, refletiam sobre o que havia sido discutido nas assembléias, e falavam um pouco sobre a concepção que tinham sobre o trabalho da assessoria com a comunidade ou movimento. Estas conversas, apesar de informais, foram de grande importância para minha reflexão, e muitos dos pontos aqui tratados se devem às conversas com os grupos das assessorias.

Foram filmadas aas assembléias, pelo menos nos momentos em que se davam a discussão entre técnicos e comunidade. Com esse registro se pode transcrever o que havia sido debatido, material anexo a este trabalho. Este momento de rever o registro foi muito importante, pois permitiu que eu pudesse ver com mais atenção as falas dos participantes, que muitas vezes aconteciam simultaneamente, ou perceber um comentário mais discreto. Esta revisão e transcrição permitiram que eu enxergasse momentos que durante a reunião haviam passado despercebidos. Obviamente que a escrita diminui a graça do momento, mas ela é importante como registro. O trabalho foi buscar momentos da discussão, onde fosse possível entender melhor esta relação, entre o técnico e o morador, sem o uso de ferramentas de análise do discurso, da psicologia etc, mas tampouco aceitando o que estava sendo dito prontamente.

Por último foram feitas entrevistas com alguns atores que participaram das conversas, como alguns dos moradores, técnicos da prefeitura, secretário, ou representante do movimento para saber quais eram suas expectativas antes do começo do trabalho, e qual foi o saldo com o término deste, no sentido de entender como esta relação foi construída e como as pessoas aprenderam nesta troca de conhecimentos sobre um momento especifico da produção da cidade.

A parte escrita se estrutura começando com comentários sobre algumas questões que me inquietaram no inicio do trabalho, em um segundo momento coloco alguns dados preliminares sobre os projetos, sobre o contexto nos quais eles se realizaram (dentro da política pública municipal, dentro de um perfil de cidade, atendendo a uma determinada comunidade, com determinados recursos) e finalizando com um breve resumo das principais pautas das reuniões. O terceiro momento do trabalho é o relato de cada atividade que ocorreu de discussão de projeto com algumas considerações sobre as discussões e sobre o projeto.

Sem a pretensão de tirar conclusões que definissem o que é a relação do arquiteto com uma comunidade, algumas idéias foram lançadas de forma a fornecer elementos sobre as possibilidades que surgem quando o conhecimento técnico se abre para enfrentar a discussão com outras formas de conhecimento baseadas na vida cotidiana.

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