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secao 4!

A praça construída:

Lazer em Diadema

Renata Ribeiro Lopes

Marcos de Azevedo Acayaba

O trabalho na cidade de Diadema foi desenvolvido de forma a inicialmente analisar sobre os aspectos urbanos a cidade. Através de imagens de satélite, visitas a campo e leituras programadas, foi possível montar as bases sobre as quais se desenvolveu o projeto.

A história de Diadema esteve bastante ligada às conquistas sociais e à participação da sociedade na construção da cidade. A emancipação de São Bernardo do Campo não impediu que o crescimento das ocupações irregulares tomassem conta de grande parte do território até o final da década de 1980, quando começou a se pensar na criação de um plano diretor para cidade que não mais desenvolvesse a função histórica da cidade industrial, mas que desse momento em diante tentasse amenizar o problema da habitação, através de um processo participativo de instalação das Àreas Especiais de Interesse Social.

Além do engajamento popular, Diadema é uma cidade onde a cultura popular é bastante valorizada, principalmente por projetos sociais voltados a enaltecer a mesma. Apesar disso, essa cultura sempre esteve escondida, em pequenos espaços onde poucos podem aproveitar e fazer cultura.

A imagem do município que avançou na questão na criação de uma cidade democrática é ofuscada pelos outros problemas típicos de uma cidade-periferia da Região Metropolitana de São Paulo, com relação ao transporte, ao saneamento, ao planejamento urbano, enfim, à toda estrutura necessária para a saúde de um município.

A isso é impossível não incorporar a necessidade de uma população ao lazer e a cultura, fundamentais também para a saúde da cidade, inclusive se estivermos falando de Diadema, com o histórico já mencionado de participação popular. O lazer construído por Lina bo Bardi, aquele que é espontâneo e que produz cultura, contribui para a construção de um ambiente democrático.

A essa perspectiva é interessante somar um dado importante e que é consequência da história de sua ocupação: Diadema é a segunda cidade mais compacta do país, com poucos espaços livres, estes bastante utilizados, mas que são em sua maioria as próprias ruas do município.

Todas essas constatações foram imperativas para que o tema do trabalho fosse determinado. A necessidade por cultura e lazer, pelo espaço livre, pelo lugar de encontro da sociedade, onde se faz a vida coletiva e cotidiana.

O espaço onde essa intervenção pudesse acontecer foi decidido através também do estudo do município. Diadema tem uma cicatriz muito forte, divide a cidade no meio, que é a Rodovia dos Imigrantes. A grande ligação entre o leste e o oeste da cidade é a maior avenida do município, a Eduardo Ramos Esquível. Essa avenida tem a característica típica da cidade brasileira, isto é, está sobre um córrego canalizado. Ela também tem uma característica de centro estruturador, tem função comercial e é o eixo do transporte da cidade. Além de ela ligar São Bernardo do Campo a São Paulo, é nela que está o terminal intermodal, que liga ônibus e trólebus e faz a ligação do transporte coletivo na RMSP com Diadema.

O terreno escolhido para intervenção está bem no centro da cidade, na avenida principal, onde é possível criar uma relação municipal e ao mesmo tempo metropolitana. Ele abriga hoje a praça Camões, que é hoje totalmente subutilizada. Além desse espaço, outra praça também foi escolhida para intervenção, a praça Vereador Juarez Rios de Vasconcelos. A possibilidade de criar um programa extenso foi imperativo para a escolha do lugar.

O projeto tem o intuito de abraçar várias funções, essas que mesclem lazer e cultura. Algumas questões foram fundamentais para a concepção do projeto. Inicialmente, a necessidade de uma praça que pudesse receber muitas pessoas, uma praça seca, que em que fosse possível acontecer uma vida social; manifestações, comemorações, encontros, etc. Todo o Trabalho surgiu da praça. O desenho foi muito importante nesse sentido, pois todo o programa deveria estar determinado pela forma da praça.

Além desse espaço, foi necessário priorizar e fazer referência às ligações importantes nesse ambiente, como a ligação do projeto com o ponto de trólebus e com o terreno ao norte, que está cerca de 200 metros de distância.

Pensando no projeto também como síntese de uma análise da cidade, foi importante refletir sobre a questão das APPs, principalmente pelo fato de que o terreno ao norte está inserido sobre um córrego. Assim, o trabalho foi conduzido também com a concepção de uma nova abordagem para a questão das APPs.

Por último, a base do projeto esteve ligada a um programa de necessidades extenso, já que esse tipo de edifício não existe na cidade (um modelo como o SESC, por exemplo), onde as atividades podem coexistir de maneira harmônica, e onde todo o tipo de gente pode se encontrar.

O desenvolvimento do projeto

Como a cidade é muito compacta, o Sistema de Espaços Livres de Diadema não é articulado e a arborização é pequena, criando poucos espaços de “respiro”, onde as visuais são amplas e há conforto ambiental. Apesar da vontade da praça ser seca, foi necessário pensar que o projeto teria um ambiente arborizado grande, sendo encarado então como mais uma parte do extenso programa. A organização das funções foi também bastante estudada, inclusive através de maquetes físicas onde esses espaços ganharam proporção.

Com uma maquete em escala 1:750 foi possível organizar o programa em um plano de massas, que depois foi sendo adaptado às questões de forma. A polarização das funções ligadas diretamente com o esporte das outras aconteceu após constatado a necessidade de edificar o terreno ao norte, e multiplicar o uso do solo. Assim o projeto passou então a desenvolver dois edifícios, com algumas características semelhantes e outras bastante distintas.

Ao norte foi agregada as funções voltadas ao esporte: salas de ginástica, quadras poliesportivas, piscina de treino e tatame; ao sul, somaram-se o teatro, oficinas de dança, oficinas culturais, restaurante, exposição, biblioteca e claro, as duas praças.

Apesar dessa separação, foi necessário também não deixar de lado a escala mais urbana, pois esse distanciamento também deveria ser projetado. Como premissa para esse projeto urbano está a qualidade da APP urbana e a afirmação do respeito ao sistema hidrológico das cidades brasileiras. Nesse sentido, o projeto propõe o destamponamento do córrego sob o terreno ao norte, garantindo não só a ligação do projeto, que de maneira paisagística se conecta com os espelhos d’água ao sul e cria uma linguagem e um discurso coeso em relação inclusive com a APP, mas também melhora a drenagem urbana, amenizando os problemas causados pelo tipo de urbanização da cidade.

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