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secao 4!

Poltrona em madeira compensada

Tércio Oliveira Monteiro

Oreste Bortolli Jr.

Introdução

Sentar, eis a questão. Como tratar um trabalho que fale de cadeiras de modo original e interessante? Como acrescentar algum conhecimento a um tema exaustivamente trabalhado por tantos? A resposta a essas perguntas é bastante simples — com verdade e exaustivo trabalho investigativo.

Diferente de outros trabalhos finais de graduação que se propõem a responder grandes temas da humanidade, a proposta deste teve origem em uma questão mais singela: como presentear um casal de amigos recém casados e desejar toda sorte do mundo com esse gesto. Pois esta idéia de uma tarefa simples não passou de ledo engano. Projetar e executar este móvel mostrou-se tão árduo quanto gratificante.

Executar, eis a nova questão. Assim, o que era para ser um objeto exclusivo para presentear amigos tornou-se mais abrangente. Uma simples poltrona revelou-se um produto complexo e cheio de significados. E o trabalho, que deveria durar apenas seis meses, levou praticamente dois anos. Foram dois anos de um exaustivo processo de desenho e verificação de projeto. A proposta aqui é apresentar de forma narrativa o processo que resultou no produto final. Para tal, tenta-se levar em conta uma metodologia cientifica “rigorosa” já que o trabalho faz parte de uma pesquisa acadêmica.

Então, começaremos pelo inicio.

Metodologia

Divide-se o trabalho sistematicamente em duas fases: primeiro, a fase de pesquisa e depois, a de desenvolvimento. Inicialmente foram realizadas pesquisas exploratórias em lojas de móveis, livros, revistas especializadas e consultas a internet. Posteriormente foram esboçados os primeiros croquis, seguidos das primeiras maquetes em escala 1:5 e os primeiros modelos em escala real. Fez-se esta divisão teoricamente, pois, na prática, a fase de pesquisa é recorrente em todo o processo como poderá ser percebido ao longo da descrição do trabalho.

Da internet destacam-se algumas poltronas e cadeiras que, de algum modo, influenciaram no desenho e nas decisões de projeto. Sobressaem-se as poltronas 41 PAIMIO de Álvar Aalto de 1932, a Eames de 1945, a Wassily de Marcel Breuer de 1925 e a Barcelona de Mies Van der Rohe de 1929.

Das visitas a lojas de móveis destaca-se o aumento do repertório sobre o mobiliário existente, sobretudo, em madeira. E também os primeiros contatos com a escala real do produto. Nesse momento ocorreu a primeira decisão importante sobre o projeto: a proposta da poltrona deveria obrigatoriamente dialogar com a mesa de centro Austrália de Isamu Noguchi.

Das pesquisas surgiram as primeiras certezas sobre a poltrona e a conceituação teórica sobre o produto.

Estabeleceu-se a meta de construir quatro protótipos em dois anos para chegar ao desenho final da poltrona que envolvesse durabilidade, conveniência, beleza, exclusividade e prazo.

O projeto

O conceito original do projeto era procurar um parentesco visual da poltrona com a mesa de centro Austrália, dentro de um processo racional de produção. O partido foi produzir a poltrona em madeira por razões que remetem ao tradicional uso da madeira no Brasil pela indústria moveleira. Seus atributos de resistência, beleza, capacidade de suportar esforços físicos e rápida decomposição no meio ambiente quando descartados são insuperáveis por qualquer outro material. Além do mais, o uso da madeira é desafiador, pois sofre constantemente com os fenômenos da dilatação e da contração. A adoção da madeira compensada surgiu em função de cisalhamento da madeira maciça que ocorreu nas primeiras maquetes de estudo. Além do mais, o trabalho que dá para projetar uma poltrona é o mesmo de projetar mil. Por isso, a técnica de colagem de madeira laminada tornou-se o conceito fundamental do trabalho cujas origens foram revisitadas nos capítulos anteriores. Também a opção pelo uso da madeira compensada responde a escassez dos recursos naturais e o desenvolvimento de novas tecnologias, com materiais alternativos e adesivos atóxicos. Reduzir o desperdício de matéria-prima, racionalizar e aperfeiçoar o processo de produção, minimizar a dependência da habilidade da mão-de-obra, tudo isso norteou o trabalho desde o início. O ponto de partida para extrair os maiores benefícios do material e da técnica foi a simplicidade da estrutura, aproveitando a beleza das veias da madeira e os desenhos gerados em função do corte e da laminação. Sendo assim, o trabalho consistiu na confecção de quatro protótipos distintos, adotando tipos de laminas diferentes em um processo de evolução do desenho com a melhor apreensão da técnica. Para cada uma delas correspondeu um desenho diferente a partir da mesma curva molde.

Pretendeu-se com isso poder traçar comparações entre o comportamento de diversos materiais utilizados por uma mesma técnica. Por exemplo, a relação entre o consumo de cola e a confecção das peças da poltrona. A relação entre desenho e o processo de construção da mobília, entre o processo artesanal e o processo industrial, entre fabricação e sustentabilidade, entre simplicidade e complexidade formal. Desse modo, utilizou-se de laminas residuais da indústria madeireira, descascado disponível no mercado e ripas de eucalipto reflorestado. Também foram ensaiadas combinações de bambu com resinas orgânicas.

Para adequar-se a proposta de racionalização da poltrona, utilizou-se de uma curva molde com comprimento de 115 cm - exatamente metade da dimensão de uma lamina comercial. Também se adotou uma espessura máxima de 5 cm para a peça acabada, o que facilitou o trabalho com sobras. A quantidade de equipamentos utilizados foi reduzida a cada nova poltrona confeccionada. Do mesmo modo, simplificaram-se os encaixes. A intenção é obter uma poltrona que possa ser produzida com um mínimo de equipamentos, utilizando-se de pouquíssima matéria-prima, natural e sintética – vulgo cola, e por uma pessoa minimamente treinada. Essa poltrona seria a síntese do trabalho.

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