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secao 4!

Aplicação de novas técnicas na construção de habitação de interesse social

André Tavares Mendes

Marcos de Azevedo Acayaba

A escolha do tema foi resultado de algumas experiências que tive tanto na minha graduação quanto no meu estágio na Secretaria Municipal de Habitação. Desde projetos que tive na faculdade desenvolvi habitações de interesse social com técnicas construtivas alternativas. Nessas disciplinas pesquisei sobre novas formas de construir e passei a me interessar pelas estruturas pré-fabricadas. Sempre que foi possível procurei desenvolver projetos que exploravam a modulação e a repetição, principalmente na habitação.

Cada vez mais procurei entrar em contato com essa realidade e consegui me aproximar efetivamente quando fui contratado como estagiário pela Secretaria Municipal da Habitação (SEHAB) da PMSP. Esse período foi fundamental para a definição do tema deste trabalho. Trabalhei na Superintendência de Habitação Popular (HABI), na regional com o maior número de favelas e alguns dos maiores projetos da prefeitura, a HABI-Sul.

Trabalhando para a prefeitura, pude me familiarizar com a forma com que os técnicos desenvolvem os projetos e todas suas derivações. O projeto da unidade habitacional em si faz parte de um processo muito mais amplo no qual a arquitetura é apenas um dos agentes. A problemática da urbanização de favelas é um assunto vasto que abrange diversos setores profissionais e trabalhos relacionados tanto aos assuntos da construção civil como a abordagem perante os moradores na favela, o aspecto social do processo.

O contato direto com os agentes que promovem essa urbanização levantou diversas questões que eu gostaria de enfrentar. Apesar dos muitos problemas, o que mais me chamou a atenção foi a restrição de soluções que os arquitetos dispõem para projetar.

Como dito anteriormente, o projeto é apenas uma parte do processo, mas é nesse momento que acontece a síntese de todo trabalho realizado até então. Considerando que cada favela possui uma trajetória e uma conformação específica, era de se esperar que cada urbanização colaborasse com o desenvolvimento relativo às experiências urbanísticas, trouxesse um avanço nas experiências projetuais, já que cada caso demanda uma solução única. Porém, não é isso o que ocorre. Pude perceber que apesar do esforço enorme que os arquitetos empreendem em dar soluções versáteis, suas alternativas acabam, na grande maioria dos casos, sendo confrontadas por uma visão, por vezes descompassada com a realidade atual, e por posturas políticas e decisões de poder que fogem do âmbito e da realidade social da metrópole.

As tentativas de renovar as práticas de urbanização, presentes em todas as regionais, esbarram em uma administração comprometida com políticas partidárias, que ignora os trabalhos desenvolvidos internamente, enquanto valoriza projetos de arquitetos externos – que nem sempre possuem noção de todo o processo – contratados pelas licitações. Dessa maneira, o trabalho elaborado pela equipe interna da prefeitura acaba por ser tolhido e ter muito mais restrições relativas às práticas projetuais, devido a dificuldade de aquisição de verbas para seus projetos. Assim, muitas propostas são implementadas de maneira diferente ao que se foi projetado, sacrificando qualidade em detrimento de requisitos financeiros, como casos em que tipologias foram desconsideradas pela suposta dificuldade de execução; projetos de implantação de equipamentos foram revistos porque a execução de taludes em curva era muito trabalhosa e complexa; e a implantação de inovações tecnológicas que ajudariam os moradores a manter seus condomínios foi cancelada devido ao elevado custo.

Em um primeiro momento, imaginei que essa rigidez de normas de projeto visava à redução de custos da obra, argumento que inviabilizaria minhas ideias de utilização de novos materiais. Por outro lado, percebi que diversos projetos de habitação e equipamentos foram construídos com orçamentos muito mais generosos e com projetos caros de arquitetos tanto nacionais quanto internacionais.

A escolha pela madeira para o sistema estrutural dos conjuntos habitacionais se mostrou, nesse trabalho, superior aos demais métodos e materiais aplicados na construção civil. Esse material e a técnica escolhida garantem flexibilidade projetual e ainda, quando associadas ao concreto, tem a sua resistência estrutural aumentada. Sua produção é totalmente industrializada e suas peças podem ter grande variação formal, o que pode auxiliar a redução de desperdício no canteiro de obras.

Para obter resultados mais factiveis, pesquisei sobre créditos de carbono e realizei o cálculo da compensação financeira que poderia ser obtida pela certificação, seja pela própria SEHAB, seja pelo fabricante das peças. O preço da madeira poderia ser reduzido com a venda de Certificados de Reduções de Emissões de carbono, sendo competitivo no mercado.

A busca por novas soluções para a produção habitacional – algumas vezes mais econômicas – poderiam ser incorporadas às práticas profissionais da SEHAB, além da valorização dos técnicos da prefeitura, já que estes possuem conhecimentos necessários que abrangem tanto a aspecto social quanto físico-estrutural e financeiro da região e da população.

Com esse percurso, pude concluir que um estudo sobre novas formas de aplicação de materiais construtivos é, além de pertinente ao âmbito acadêmico, possível na realidade da urbanização de favelas. Isso porque não só explora novas maneiras de satisfazer às necessidades habitacionais, renovando a arquitetura, mas também prioriza o atendimento à população através do trabalho dos técnicos que têm contato com a realidade em detrimento de grandes projetos que por vezes não refletem o ideal dos moradores.

Ficha técnica

Localização: Favela real parque, Rua Paulo Borroul
Área total: 47.300m²
Domicílios: 1.325
Área de intervenção: 16.473m²
Domicílios removidos: 556
Unidades construídas: 557
Estrutura: Laminado de madeira colada e concreto pré-fabricado
Vedação: Sistema com módulos de tábuas de madeira

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