Através da análise das características de uma vinha, do processo de produção do vinho e das exigências do mercado do enoturismo, desenvolver um projeto de vinícola que contemple em sua arquitetura soluções para as questões específicas ligadas a esta produção e a esta forma de turismo, além da qualidade estética, funcionalidade, racionalidade, economia e conforto.
O trabalho teve início a partir de uma pesquisa detalhada sobre todos os aspectos da produção do vinho e do mercado do enoturismo. Foram estudas as características da vinha, tais como clima, sistemas de condução, períodos de poda, produtividade ao longo dos anos, rendimento da vinha e rendimento da produção. Também foram analisadas as etapas de produção do vinho, que são elas a recepção da uva, preparo desta uva para iniciar o processo de fermentação, as etapas de fermentação, de estabilização, de envelhecimento e de engarrafamento deste vinho.
Essa pesquisa, somada ao entendimento do mercado de vinho no Brasil e das exigências do mercado do enoturismo, tornou possível o desenvolvimento de vários estudos que serviram de base para as decisões de projeto, e só então foi possível escolher o local para a implantação desta vinícola.
A área escolhida para a implantação da vinícola é uma terreno de 30 ha distante 3 km da cidade de São João da Boa Vista, na estrada da Serra da Paulista.
O terreno tem uma ótima inclinação, voltada para norte, que favorece o escoamento da água e a insolação adequada da vinha.
A entrada do terreno se dá pela parte mais baixa, 800m acima do nível do mar, entre duas áreas com vegetação preservada. Existe também um pequeno lago próximo a frente do terreno.
O prédio da vinícola foi implantado no fundo do terreno, por ser a parte mais alta, que favorece a visibilidade e para que o visitante passe primeiro pela vinha antes de chegar ao prédio.
Devido à declividade, será necessário bastante movimento de terra para que o prédio seja implantado, uma vez que, para a produção funcionar bem, não é possível fazer o prédio em muitos níveis.
Para minimizar a movimentação de terra, a vinícola tem uma forma curva que acompanha as curvas do terreno.
Com o intuito de aproveitar a terra que será movimentada e para garantir um bom controle da temperatura no interior da vinícola, principalmente para as áreas de fermentação, estabilização, envelhecimento e armazenamento, foi pensada uma implantação com o prédio semienterrado.
A terra sobre o prédio aumenta a massa térmica, diminuindo a quantidade de calor que chega ao interior do prédio durante o dia e, durante a noite, faz o efeito contrario evitando que o mesmo perca calor para a atmosfera.
Isso reduz a amplitude térmica no interior da vinícola e facilita o controle da temperatura, fundamental para a produção e armazenamento do vinho.
A disposição dos espaços na vinícola foi pensada priorizando-se os percursos, tanto da uva sendo transformada em vinho, quanto o dos visitantes, desde a chegada até a hora da partida.
O primeiro percurso é importante, pois, por se tratar de uma produção, quanto mais eficiente for a disposição dos espaços, mais eficiente será o fluxo de materiais e pessoas e, consequentemente, mais eficiente será a produção.
Os espaços de produção no interior da vinícola seguem as etapas de produção do vinho e as exigências de conforto de cada uma delas, evitando deslocamentos desnecessários e facilitando o controle da iluminação, da temperatura e da ventilação desses espaços.
Para o visitante, a experiência de conhecer uma vinícola também foi pensada como um percurso.
O visitante chega por uma estrada de terra, margeando uma área de mata preservada e entra no terreno passando pela mata e por um pequeno lago.
O caminho que sobe o terreno e leva ao prédio é uma estrada estreita e curva, que atravessa toda a vinha. A estrada é curva para que o ponto de fuga dos olhos seja sempre a vinha e não o final da estrada. Desta forma o prédio não é visto pelo visitante, até que ele tenha chegado à cota 835, quando estará alinhado com o prédio e o terreno para de subir, fazendo com o prédio seja visto todo de uma vez só.
Ao chegar ao prédio, a entrada se dá pelo foyer, que recepciona o visitante e direciona para uma das atividades da vinícola.
A principal atividade é a visita guiada pelo processo de produção do vinho, que começa pelo laboratório no qual a uva é avaliada desde quando ainda está na vinha, segue pelo corredor de recepção da uva, pelas etapas de fermentação e estabilização e por fim pelo envelhecimento do vinho.
A visita termina no restaurante, onde as pessoas podem almoçar ou jantar e vão embora passando pela loja de vinhos, na qual podem provar as variedades de vinhos da casa e comprar não apenas os vinhos, mas também acessórios como taças e abridores.
O caminho até o carro se dá pela área externa do prédio, abrigada pela cobertura em balanço e antes de chegar ao carro o visitante ainda passa pelo café.
área do lote = 30ha
área de mata preservada = 7,13ha
área de vinha = 15,15ha
área do térreo = 8271,80m2
área do mezanino = 666,25m2
área total da vinícola = 8938,05m2