O tema proposto para o desenvolvimento do trabalho final de graduação surgiu após análise da situação da educação no país, com foco no Estado de São Paulo e o interesse em utilizar um programa que apesar de recorrente na carreira de um arquiteto, eu ainda não havia trabalhado.
A escolha pelo programa do FDE ( Fundação para o Desenvolvimento da Educação) foi uma consequência uma vez que ele aborda os dois assuntos os quais eu gostaria de abordar: escolas e estrutura pré-fabricada e hoje é um dos principais órgãos relacionados ao Estado responsáveis pelo desenvolvimento da educação, como seu próprio nome já diz.
Apesar de seus esforços, os números atuais sobre a educação no Estado ainda é precária, mas não é de hoje que o Governo se preocupa em construir escolas públicas de qualidade para a população e durante a pesquisa busquei entender as mudanças sócio-econômicas causadoras do desenvolvimento da educação em São Paulo e como a arquitetura teve influência e foi influenciada no decorrer dos anos tanto em relação ao programa escolar quanto às edificações.
O ponto de partida foi a Constituição Paulista de 1891 em que estabeleceu-se a obrigatoriedade e gratuidade ao ensino primário, além de reorganizar a estrutura administrativa do Estado, visando responder à demanda de escolas e outras obras públicas.
Em seguida, os grupos escolares foram criados para atender as necessidades do ensino básico. Esse novo tipo de edifício agrupava várias escolas isoladas num único prédio e o ensino passa a ser seriado, os alunos são agora reunidos conforme o grau de aprendizado e separados em função do sexo, que exigia acessos independentes para cada sexo e resultavam em construções simétricas, com o mesmo número de salas para cada grupo.
Com o aumento de verbas do Estado de São Paulo direcionadas ao setor, novos arquitetos são contratados para ajudar no desenvolvimento de novos projetos. Muitos buscavam expressar em sua arquitetura o que havia de mais atual na Europa, e muitas vezes esses projetos eram elaborados por arquitetos estrangeiros ou com formação europeia.
Durante o governo de Getúlio Vargas, as iniciativas no campo da arquitetura escolar são mais tímidas e é criada a Diretoria de Ensino, que designa uma “Comissão Permanente” responsável pela elaboração do Plano de Ação Governamental na área da construção escolar.
Uma série de tópicos funcionais, programáticos e pedagógicos são definidos, e as escolas resultado do trabalho dessa Comissão são os primeiros edifícios escolares “modernos” construídos no Estado de São Paulo.
Aspectos de iluminação, conforto ambiental, ventilação, entre outros, passam a ser levados em conta no projeto do edifício.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial e a queda de Vargas foi criado o Convênio Escolar, cujo objetivo era suprir a demanda por escolas até 1954.
As décadas seguintes foram especialmente significativas na produção de projetos de escolas pois estes seriam reflexo da efervescência cultural, política e econômica da época. Era tempo da bossa nova, do Cinema Novo e do surgimento da televisão.
Após analisar a história da arquitetura escolar paulista, que ainda passou por outros períodos, iniciei a concepção do projeto e acredito que ele seja a soma desse estudo.
O terreno escolhido para a elaboração do projeto localiza-se na cidade de São Luís do Paraitinga, na rua João Romão, s/n° ao lado do ginásio e da rodoviária do município. Sua área é de aproximadamente 4.800 m².
A sua proximidade com o rio Paraitinga e o fato de ser uma área inundável foram considerados na decisão das cotas de cada pavimento.
Apesar de não estar dentro da poligonal de tombamento determinada pelo CONDEPHAAT, o partido arquitetônico deve seguir certas restrições de caráter urbanístico. São elas: respeitar a altura máxima das edificações vizinhas, não podendo ultrapassar os 12m; e ter no máximo dois pavimentos.
O programa adotado, já pré-determinado para São Luís do Paraitinga pela FDE, é o do Ciclo 1 do Ensino Fundamental, e abrigará dez salas de aula.
O maior desafio foi a elaboração de um projeto de edifício com peças pré-fabricadas que atenda às questões do patrimônio histórico e o próprio programa da FDE, além das dimensões do próprio terreno.
A construção da escola é justificada pela falta de equipamentos públicos na cidade, principalmente após a destruição de parte da mesma devido à enchente do Rio Paraitinga no início do ano de 2010.
A escolha de seu terreno se justifica pela proximidade da rodoviária, facilitando o acesso à mesma por habitantes de cidades próximas.
O edifício foi orientado de maneira que seus acessos ao bloco administrativo fossem facilitados, pois o movimento de pais, fornecedores, entre outros, não deve interferir na dinâmica da escola.
O edifício é o conjunto de três blocos com dois pavimentos cada que abrigam os ambientes administrativos, pedagógicos, de vivência e serviço. Esses blocos dispõe-se ao redor da quadra coberta, que é o centro do edifício.
Por estar situado em uma área inundável, elevei todo o edifício a 1.50m da cota 100.22, deixando somente a quadra neste nível, pois ela pode ser ocupada pela água, assim. Ao elevar o primeiro pavimento, criou-se um porão, cuja ventilação é garantida por blocos vazados que o revestem.
Quanto à estrutura, ela é composta por elementos pré-fabricados e suas dimensões principais são: pilares de 30x60cm, lajes alveolares de 20cm e vigas de apoio das lajes alveolares de 30x80 pois o maior vão entre pilares é de 10.80m, sem continuidade.
Os módulos são múltiplos de 90cm, sendo o maior vão 10.80m e o menor de 7.20m dispostos em dois sentidos diferente, possibilitando um “corredor-varanda” de acesso aos ambientes.
As vigas da parte externa do vão de 7.20m são brises que além de travar a estrutura, ainda impede a incidência direta de luz.
A circulação se dá pelas rampas laterais à quadra, além de dois conjuntos de escadas localizados nas laterais do edifício e um elevador acessível aos portadores de necessidades especiais.