O tema proposto para este trabalho é fruto de uma reflexão a respeito do cenário atual da construção civil e de como o arquiteto se coloca nesse mercado.
O projeto de arquitetura é apenas uma das numerosas etapas necessárias ao desenvolvimento de um edifício, assim como o arquiteto é somente um dos diversos agentes envolvidos.
A ideia para o trabalho partiu da constatação de que a relação entre esses agentes, e o encadeamento das etapas poderiam gerar produtos com uma qualidade muito superior se houvesse em cada parte uma consciência maior do todo, e se trabalhasse de forma mais integrada.
As consequências da fragmentação das etapas são relevantes não somente na qualidade do produto final, isto é, o edifício, mas também nas esferas social e ambiental.
O objetivo deste trabalho é discutir como essa questão impacta no meio ambiente, na sociedade e na paisagem urbana, mas sobretudo pesquisar quais são as ferramentas do arquiteto para reverter esse quadro através do projeto.
Assim, foi definido desde o princípio que a metodologia deste trabalho seria o desenvolvimento do projeto de uma edificação, mas a princípio nada foi definido a respeito da região a ser trabalhada, pois o tema proposto poderia ser aplicado a qualquer situação, uma vez que é necessária uma transformação na construção civil como um todo.
Como boa parte das questões levantadas acima podem ser exemplificadas pelo que observo na obra em que faço estágio desde junho de 2010, escolhi como local de projeto o próprio terreno dessa obra. A ideia é propor outro projeto para o mesmo programa do edifício que está sendo construído. Dessa forma ficará mais concreto o estudo de como as decisões de projeto interferem na obra, pois poderá ser sempre feita uma comparação com o que está sendo feito. O terreno tem um desnível de mais de dezenove metros e sua área é de 3.854m.
A realidade atual é uma produção arquitetônica limitada, e um mercado comprometido por conflitos de interesses.
Uma vez que o projeto buscará racionalizar a construção, reduzindo a necessidade de mão de obra e o consumo de materiais, invariavelmente estará favorecendo o interesse primeiro da incorporadora, que é o lucro, através do abatimento de custos. A proposta do trabalho ganha uma dimensão diferente quando se percebe que, atendendo às demandas do incorporador, o arquiteto tem poder para negociar o atendimento às suas demandas em troca, isto é, existe uma forma de trazer a boa arquitetura de volta ao comando do mercado imobiliário.
Ampliando este raciocínio, pode-se pensar que o mesmo tipo de preocupação incorporada ao projeto é capaz de respeitar a uma só vez o incorporador, o arquiteto, os demais projetistas, a equipe de obra, o operário, o usuário, os moradores do entorno próximo e mesmo os habitantes da cidade em geral.
O objetivo deste projeto foi pesquisar se é possível e de que forma o arquiteto pode considerar questões construtivas no seu projeto, sem comprometer a qualidade da arquitetura. A primeira conclusão é que é sim possível incorporar essa preocupação no processo de projeto. O projeto de um edifício é sempre uma sequência de decisões com base em um conjunto de critérios. Projetar é tentar, a cada decisão, atender a todos os critérios, ou optar por privilegiar um ou outro quando não é possível satisfazer a todos. Incorporar a questão construtiva no projeto é simplesmente considerar um critério a mais.
A fase de estudo preliminar é a fase em que se tem maior poder para simplificar a execução. Se considerarmos que uma parcela muito significativa do custo da obra é composta pela estrutura e pela fundação, fica clara a importância de ter um cuidado maior no primeiro esboço da implantação, e em seguida na definição dos eixos estruturais do edifício. Os esforços em racionalizar esses dois subsistemas em uma fase mais adiantada de projeto dificilmente terão impacto considerável.
O foco da racionalização construtiva na estrutura e nas fundações não significa que os demais subsistemas não devam ser estudados sempre com o intuito de melhorar os processos. O que foi percebido ao longo deste trabalho é que a fundação e a estrutura dependem mais de um projeto de arquitetura cuidadoso, enquanto que as demais fases podem ser melhoradas independentemente do projeto, ou consideradas na fase de projeto executivo.
A proposta deste trabalho não é criar limitações para a criação da arquitetura, mas a de atribuir ao arquiteto a responsabilidade de, ao projetar um edifício futuro, projetar também o processo de sua execução. O ideal é que nas primeiras fases do projeto ele possa contar com a presença de outros profissionais, que, com informações técnicas, lhe deem subsídios um projeto multidisciplinar.
Assim, o arquiteto não precisa dominar todas as disciplinas, mas precisa ter certo conhecimento, e principalmente a visão das consequências de suas decisões em todas as outras fases do processo, seja no desenvolvimento dos projetos complementares, seja na execução. Conhecendo as consequências, caberá a ele pesar a importância de se privilegiar um ou outro critério.
A economia na construção deve ser pensada em termos de custo-benefício. A intenção deste projeto, ao considerar os custos, não era enxugar o orçamento global, mas eliminar desperdícios, e custos evitáveis, pensando em utilizar a verba economizada com especificações que agreguem valor ao projeto. Ao projetar uma fundação e uma estrutura mais baratas, o projeto não perde valor, pois esses sistemas não são sequer percebidos pelo usuário, ao contrário de outros como acabamentos e caixilhos, em que o acréscimo de custo em geral gera também um ganho de qualidade.
Assim, a preocupação com custos, prazos e produtividade não deve se restringir ao construtor, pois o arquiteto, ao saber lidar com essas questões, consegue agregar qualidade ao projeto.
Localização: Alto da Lapa, São Paulo, SP
Área do terreno: 3.854 m²
Área construída total: 25.352 m²
Área computável: 9.636 m²
C.A.: 2,5
T.O.: 0,31
Total de unidades: 75
Área das unidades tipo: 183 m²