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secao 4!

Projeto de habitação multifamiliar:

um estudo de racionalização

Luiza Junqueira de Aquino

Khaled Ghoubar

INTRODUÇÃO

O tema proposto para este trabalho é fruto de uma reflexão a respeito do cenário atual da construção civil e de como o arquiteto se coloca nesse mercado.

O projeto de arquitetura é apenas uma das numerosas etapas necessárias ao desenvolvimento de um edifício, assim como o arquiteto é somente um dos diversos agentes envolvidos.

A ideia para o trabalho partiu da constatação de que a relação entre esses agentes, e o encadeamento das etapas poderiam gerar produtos com uma qualidade muito superior se houvesse em cada parte uma consciência maior do todo, e se trabalhasse de forma mais integrada.

As consequências da fragmentação das etapas são relevantes não somente na qualidade do produto final, isto é, o edifício, mas também nas esferas social e ambiental.

O objetivo deste trabalho é discutir como essa questão impacta no meio ambiente, na sociedade e na paisagem urbana, mas sobretudo pesquisar quais são as ferramentas do arquiteto para reverter esse quadro através do projeto.

Assim, foi definido desde o princípio que a metodologia deste trabalho seria o desenvolvimento do projeto de uma edificação, mas a princípio nada foi definido a respeito da região a ser trabalhada, pois o tema proposto poderia ser aplicado a qualquer situação, uma vez que é necessária uma transformação na construção civil como um todo.

O TERRENO

Como boa parte das questões levantadas acima podem ser exemplificadas pelo que observo na obra em que faço estágio desde junho de 2010, escolhi como local de projeto o próprio terreno dessa obra. A ideia é propor outro projeto para o mesmo programa do edifício que está sendo construído. Dessa forma ficará mais concreto o estudo de como as decisões de projeto interferem na obra, pois poderá ser sempre feita uma comparação com o que está sendo feito. O terreno tem um desnível de mais de dezenove metros e sua área é de 3.854m.

A PRODUÇÃO DE EDIFÍCIOS DE ALTO PADRÃO EM SÃO PAULO

A realidade atual é uma produção arquitetônica limitada, e um mercado comprometido por conflitos de interesses.

Uma vez que o projeto buscará racionalizar a construção, reduzindo a necessidade de mão de obra e o consumo de materiais, invariavelmente estará favorecendo o interesse primeiro da incorporadora, que é o lucro, através do abatimento de custos. A proposta do trabalho ganha uma dimensão diferente quando se percebe que, atendendo às demandas do incorporador, o arquiteto tem poder para negociar o atendimento às suas demandas em troca, isto é, existe uma forma de trazer a boa arquitetura de volta ao comando do mercado imobiliário.

Ampliando este raciocínio, pode-se pensar que o mesmo tipo de preocupação incorporada ao projeto é capaz de respeitar a uma só vez o incorporador, o arquiteto, os demais projetistas, a equipe de obra, o operário, o usuário, os moradores do entorno próximo e mesmo os habitantes da cidade em geral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste projeto foi pesquisar se é possível e de que forma o arquiteto pode considerar questões construtivas no seu projeto, sem comprometer a qualidade da arquitetura. A primeira conclusão é que é sim possível incorporar essa preocupação no processo de projeto. O projeto de um edifício é sempre uma sequência de decisões com base em um conjunto de critérios. Projetar é tentar, a cada decisão, atender a todos os critérios, ou optar por privilegiar um ou outro quando não é possível satisfazer a todos. Incorporar a questão construtiva no projeto é simplesmente considerar um critério a mais.

A fase de estudo preliminar é a fase em que se tem maior poder para simplificar a execução. Se considerarmos que uma parcela muito significativa do custo da obra é composta pela estrutura e pela fundação, fica clara a importância de ter um cuidado maior no primeiro esboço da implantação, e em seguida na definição dos eixos estruturais do edifício. Os esforços em racionalizar esses dois subsistemas em uma fase mais adiantada de projeto dificilmente terão impacto considerável.

O foco da racionalização construtiva na estrutura e nas fundações não significa que os demais subsistemas não devam ser estudados sempre com o intuito de melhorar os processos. O que foi percebido ao longo deste trabalho é que a fundação e a estrutura dependem mais de um projeto de arquitetura cuidadoso, enquanto que as demais fases podem ser melhoradas independentemente do projeto, ou consideradas na fase de projeto executivo.

A proposta deste trabalho não é criar limitações para a criação da arquitetura, mas a de atribuir ao arquiteto a responsabilidade de, ao projetar um edifício futuro, projetar também o processo de sua execução. O ideal é que nas primeiras fases do projeto ele possa contar com a presença de outros profissionais, que, com informações técnicas, lhe deem subsídios um projeto multidisciplinar.

Assim, o arquiteto não precisa dominar todas as disciplinas, mas precisa ter certo conhecimento, e principalmente a visão das consequências de suas decisões em todas as outras fases do processo, seja no desenvolvimento dos projetos complementares, seja na execução. Conhecendo as consequências, caberá a ele pesar a importância de se privilegiar um ou outro critério.

A economia na construção deve ser pensada em termos de custo-benefício. A intenção deste projeto, ao considerar os custos, não era enxugar o orçamento global, mas eliminar desperdícios, e custos evitáveis, pensando em utilizar a verba economizada com especificações que agreguem valor ao projeto. Ao projetar uma fundação e uma estrutura mais baratas, o projeto não perde valor, pois esses sistemas não são sequer percebidos pelo usuário, ao contrário de outros como acabamentos e caixilhos, em que o acréscimo de custo em geral gera também um ganho de qualidade.

Assim, a preocupação com custos, prazos e produtividade não deve se restringir ao construtor, pois o arquiteto, ao saber lidar com essas questões, consegue agregar qualidade ao projeto.

FICHA TÉCNICA

Localização: Alto da Lapa, São Paulo, SP
Área do terreno: 3.854 m²
Área construída total: 25.352 m²
Área computável: 9.636 m²
C.A.: 2,5
T.O.: 0,31
Total de unidades: 75
Área das unidades tipo: 183 m²

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