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secao 4!

UM PROJETO PARA O GLICÉRIO –

plano de bairro, habitação, escola e teatro

Márcia Cezar Zaccaria Endrighi

Artur Simões Rozestraten

A temática da habitação no centro de São Paulo é pauta nos grandes debates urbanos. O esvaziamento e a degradação das áreas centrais é resultado de um processo de ocupação e crescimento urbano, caracterizando um cenário de redução acentuada do número de moradores, existência de muitos imóveis vagos e subutilizados, degradação do patrimônio histórico e cultural, concentração de moradias precárias e insalubres, principalmente cortiços, concentração de atividades informais, mudança no perfil socioeconômico dos moradores, usuários e das atividades locais e, ainda, a saída de setores de serviços públicos e privados para outras centralidades.

É nesse contexto que se insere o presente trabalho, procurando fomentar a questão da habitação no centro da cidade através da crítica ao modelo exploratório dos cortiços e da proposição de conjuntos habitacionais.

Para tanto foi escolhido como bairro para estudo a Liberdade, mais precisamente o Baixo Glicério, área central próxima a praça da Sé, onde proliferam os cortiços e habitações informais. Como área de projeto foi selecionado o trecho de quadra compreendido entre as ruas São Paulo, Sinimbú e Glicério. Essa área apresenta um número considerável de edifícios encortiçados, casarões da primeira metade do século XX, compostas por 1 ou 2 pavimentos mais porão. O conjunto é de grande valor arquitetônico, apesar de não ser tombado, no entanto se encontra em total estado de degradação devido ao descaso dos proprietários e ao uso predatório do espaço.

Através de visitas à área foram localizados terrenos não edificados na quadra estudada, que permitiam facilmente a implantação de um conjunto habitacional que possibilitasse a retirada da população que em condições precárias habita os casarões, possibilitando o uso dos mesmos para fins não tão degradantes, como escritórios, creches ou escolas, comércio, como restaurantes, dentre outros usos.

No entanto, durante o processo de desenvolvimento do trabalho, fez-se necessário um estudo mais aprofundado das cicatrizes urbanas que conformam esse espaço. O Glicério é marcado pela segregação resultante da implantação da Radial Leste Oeste, apresentando graves problemas físico espaciais, de transposição, falta de espaços de lazer e de esportes, dentre outros. Essas necessidades foram norteadoras para a realização de um projeto urbano que visa conectar os dois lados do Glicério, o que confere melhores condições para a realização do projeto habitacional.

METODOLOGIA

Durante uma primeira fase foram desenvolvidas pesquisas de uso e ocupação do solo no entorno, com a identificação das ruas de maior fluxo de pedestre, bem como um estudo de gabarito de edificações. Visitas às residências também foram necessários para definição da demanda habitacional, bem como análise da situação estrutural das casas estudadas. Chegou-se assim, durante essa fase, a um projeto urbano esquemático e ao desenvolvimento das primeiras diretrizes para o projeto habitacional, concomitantemente com a realização de pesquisa sobre as casas de origem operária.

Finalizada essa primeira fase, durante uma segunda etapa foram desenvolvidos com maior precisão o projeto habitacional e de readequação dos edifícios históricos e o detalhamento do desenho urbano.

Ficha técnica:

A principal diretriz urbanística do projeto é a conexão de ambas a partes do Glicério, com a valorização paisagística da conexão entre a Rua Conde de Sarzedas( área de intensa circulação devido ao comércio religioso) através da escadaria da Rua Anita Ferraz, passando pelas importantes e desvalorizadas vilas da região, fomentando os usos embaixo do viaduto e conectando com a área de projeto das edificações.

Foi, então, criada uma rua para ligar os dois núcleos do bairro, facilitando o acesso aos pedestres e automóveis. Essa nova via interliga a alça já existente para retorno à rua São Paulo. Para tanto foram demolidas algumas edificações, em sua maior parte galpões de baixo gabarito e sem grandes valores arquitetônicos.

Ao longo das vilas e da Rua Anita Ferraz foram criados calçadões, mas que permitem a passagem de automóveis, se necessário. Ao longo da Rua Anita Ferraz foi destinado espaço para construção de uma praça e de uma escola de ensino técnico, que permanecerá aberta durante o dia e noite, criando uma circulação contínua no espaço e reafirmando o potencial das casas para criação de repúblicas e pensões estudantis.

Ao longo da vila, no local onde havia habitações de origem operária de um pavimento demolidas, será incentivada construção de pequenos comércios, como bares, restaurantes e papelarias, utilizando a fachada das casas demolidas, preservadas, porém em péssimo estado de conservação. Naturalmente é de se esperar que esse processo ocorra naturalmente devido à intensa circulação gerada pela escola técnica de médio porte.

Sob o viaduto foi preservado o edifício da Associação Minha Rua Minha Casa, e construída uma quadra poliesportiva com arquibancada, cercada para permitir fechamento noturno, criando um dos raros espaços para prática de atividades físicas, reivindicação constante dos moradores da região. Foi também construída uma praça para prática de diversas atividades.

Na área compreendida entre as ruas São Paulo, Sinimbú e Glicério foi feito um plano para as casas a serem preservadas, sendo as casas da Rua Sinimbú destinadas a implantação de uma escola de ensino fundamental e médio, atendendo à demanda da população. Na rua São Paulo foi aberta uma praça e construído um pequeno teatro de bairro, referência distante ao antigo Teatro São Paulo, demolido durante a construção do Viaduto. O Teatro apresenta a opção de se abrir para a praça e pode ser usado como palco para shows durante as feiras realizadas na região.

Conectando a Vila Lins, com a Rua São Paulo e Glicério foi criado um projeto de habitação para realocar parte dos moradores dos cortiços desapropriados para restauro e implantação dos novos usos. O projeto reforça o desenho das vilas.

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