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secao 4!

O Centro Cultural São Paulo sob a ótica da restauração

Marcos Vismona Gibrin

Beatriz Mugayar Kühl

Ficha Técnica

Localização: Rua Vergueiro, 1000. São Paulo, SP.
Autores do projeto: Eurico Prado Lopes e Luiz Benetido de Castro Telles.
Cliente: Secretaria da Cultura da Prefeitura do Município de São Paulo.
Data da inauguração: 13 de Maio de 1982.

Resumo

Inicialmente, a proposta deste trabalho era a de propor uma intervenção de restauro na Residência Joaquim Franco de Mello – localizada na Avenida Paulista, 1919, e datada do ano de 1905 – sob a luz dos conceitos contemporâneos da restauração. Em um processo peculiar, o tema do trabalho, o objeto de estudo, foi radicalmente alterado, de uma casa do início do século XX para o Centro Cultural São Paulo, construído no começo dos anos 1980. Mas a intenção de realizar um trabalho no campo da restauração persistiu.

A restauração é compreendida pela maioria das pessoas como ação profissional voltada somente à preservação de bens de interesse cultural ou para “resgatar” um passado à beira da extinção (aplicado em obras conformadas até o século XIX). Muito pelo contrário, a restauração, como campo disciplinar, propõe uma releitura, feita necessariamente no presente, de qualquer produção humana, provendo condições e informações necessárias para a sobrevida da obra ou reinserindo-a em um novo contexto – intervindo sempre de maneira respeitosa em relação ao objeto a ser preservado. Entretanto, o campo da restauração enfrenta uma questão a mais: a preservação de obras modernas e contemporâneas – que geralmente são alvo de intervenções desvinculadas de sua trajetória temporal.

Assim, este trabalho procura reafirmar que a restauração pode, sim, ser aplicada à qualquer bem de interesse cultural da humanidade, independente da época de sua produção/construção, sendo a obra tombada ou não.

O Centro Cultural São Paulo – um edifício público, inaugurado no ano de 1982 – tem um histórico conturbado. Com quase três décadas completas, o CCSP passou por períodos com manutenção precária, o que ocasionou diversas patologias e ainda depreciou a sua aparência. Isso não impediu, no entanto, o Centro Cultural de oferecer/promover atividades, atrair visitantes e de ser um marco arquitetônico paulistano.

Por ser um edifício complexo e de grandes dimensões, é difícil compreendê-lo profundamente em pouco tempo. Isso ocasionou em intervenções pontuais, que não consideraram o conjunto, e que buscavam apenas atualizar o edifício, deixando de lado a sua importância histórica e documental (incluindo aqui, a arquitetura como documento estético e histórico).

Seu projeto agrega tanto elementos da escola paulista como também de uma arquitetura mais orgânica, intuitiva. Entretanto, ele não foi muito apreciado pela crítica da época, porém começou a ser desvelado recentemente, mas sem ainda conter uma análise crítica profunda.

Neste trabalho, a intenção é sugerir uma reflexão das práticas de preservação em um edifício contemporâneo e em que o uso ainda é significante – ao contrário de outras obras “antigas” em que o uso foi perdido ou completamente alterado –, mostrando que é possível intervir de maneira respeitosa e que, se devidamente compreendido, o edifício suporta alterações significativas, sem, no entanto, que sua linguagem seja deturpada.

A primeira parte deste trabalho consiste em uma aproximação ao edifício. O seu processo projetual e histórico, o contexto histórico em que foi elaborado (Regime Militar), os motivos de sua construção (para ser a Nova Biblioteca Municipal) e as suas alterações programáticas; os seus princípios, que nortearam a sua configuração espacial e a sua inserção no tecido urbano e na paisagem da cidade: um edifício que incorpora o relevo e a vegetação da região, se mesclando à cidade, com a adoção de uma solução baixa e horizontal, permitindo que a cidade se aproprie de seus espaços, sem, no entanto, deixar com que a sua identidade (e de seus espaços) desapareça. Outra questão é a de conceber espaços pensados, não para o acervo, mas sim para o usuário, procurando, pela arquitetura, aproximá-lo de novos universos e convidá-lo a participar de diferentes atividades e a descobrir e desenvolver novos gostos e apitidões. Assim, princípios como livre acesso e transparência são fundamentais para o Centro Cultural, conformando as relações (humanas e físico-espaciais ou físico-sensoriais) entre os seus espaços e ambientes internos, sugerindo um percurso onde planos transparentes revelam espaços e atividades.

A segunda parte contempla as questões da preservação, abrangendo (de forma sucinta) o conceito de patrimônio cultural e o processo de desenvolvimento do restauro como um campo disciplinar autônomo até o estudo da Carta de Veneza e a pontuação dos princípios do restauro contemporâneo (mínima intervenção; compatibilidade de técnicas e de materiais; re-trabalhabilidade; disitnguibilidade da ação contemporânea), desembocando nas problemáticas que esse campo enfrenta em relação às obras modernas e contemporâneas.

Por fim, a terceira parte finaliza com as percepções a respeito do Centro Cultural São Paulo – em uma análise de seu estado atual, apontando patologias, revelando intervenções que modificaram o espaço de maneira siginificativa e a maneira em que as funções e o programa estão distribuídos no edifício. Nesta última parte foram propostos, também, princípios e diretrizes de atuação (indentificando as necessidades básicas do edifício e sugerindo caminhos para o desenvolvimento de futuros projetos arquitetônicos) e estudos de aproximação projetual, com o intuito de mostrar que é possível intervir de maneira respeitosa, com base nos princípios estipulados, contribuindo para a potencialidade arquitetônica do Centro Cultural (em contraposição à idéia de que a restauração deve cristalizar o edifício em uma determinada época).

O desenvolvimento deste trabalho foi possível graças ao professor arquiteto (e co-autor do projeto) Luiz Telles e à equipe do Centro Cultural São Paulo. A participação desses profissionais no processo facilitou o levantamento histórico e documental do edifício, além de revelar as preocupações e dificuldades enfrentadas pelo corpo técnico atualmente.

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