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secao 4!

Grandes Eventos Mundiais e seu Legado arquitetônico

Mariana Cenovicz Moro

Helena Aparecida Ayoub Silva

Este trabalho busca abordar as questões chave que envolvem a produção de um grande evento de importância mundial, como as Olimpíadas, e de que maneira esses equipamentos se relacionam com a cidade existente. Esses eventos, tão efêmeros em tempo de duração, podem trazer mudanças profundas e duradouras para a cidade, uma vez que raramente se vê investimentos públicos e privados tão intensos em outras circunstâncias. Realizar uma boa olimpíada pode significar garantir a credibilidade internacional em um determinado país, justificando o desenvolvimento.

O primeiro passo para entender o significado de sediar os Jogos Olímpicos foi estudar oito diferentes casos, projetos realizados ou não. Foram escolhidas as cidades de Barcelona, sede em 1992; Sydney, sede em 2000; Pequim, sede em 2008; Londres, que sediará os Jogos em 2012; Paris, que teve sua candidatura para 2012 preterida em relação à Londres; São Paulo, preterida em relação ao Rio 2012, os Jogos Pan-Americanos Rio 2007 e a própria candidatura oficial de 2016. Uma análise cuidadosa permitiu levantar pontos chave determinantes para o sucesso de implantação dos equipamentos olímpicos, se traduzindo em utilização e vitalidade após os Jogos.

A localização é um ponto crucial que reflete na qualidade da intervenção. A proximidade de transportes públicos e a inserção em um sistema de espaços livres garantem a acessibilidade do conjunto, enquanto a utilização de edificações com programa diversificado, a conexão com o tecido urbano e o trabalho em diferentes escalas garantem a costura com a cidade existente, garantindo vitalidade e vivacidade ao espaço.

A Barra da Tijuca, o núcleo principal das instalações dos Jogos de 2016, não possui as características necessárias para garantir a utilização posterior dos equipamentos, uma vez que, por se localizar em uma região muito pouco urbanizada, não possui conexões com a rede de transporte público ou com o sistema de espaços livres, dificultando o acesso às futuras instalações. Por ser uma região com urbanização rarefeita, a conexão com o tecido existente quase não acontece, culminando em uma implantação pouco atrativa para a circulação e a vivência dos equipamentos.

Uma alternativa muito discutida por diversos arquitetos – a utilização da zona portuária, uma área industrial degradada – foi analisada para a definição de um novo local sede. Esta região, muito próxima ao centro, configura-se como a área mais bem servida de transportes públicos de todo o Rio de Janeiro, contando com trens e metrô, além da rodoviária e da possível estação do trem de alta velocidade. De acordo com o Plano Diretor de Transportes do Rio, quase 75% da população se utiliza de transporte público para realizar seus deslocamentos, que acontecem principalmente de casa para o trabalho ou escola. Dessa maneira, é importante implantar as instalações de lazer próximas ao local de trabalho para que o usuário não precise percorrer grandes distâncias que o desestimularia a frequentar os equipamentos. O centro do Rio ainda recebe 23% de toda a população ativa, justificando a implementação de edificações olímpicas na zona do porto. A pouca densidade populacional do Porto também afirma a instalação da Vila Olímpica na região, que se beneficiaria da proximidade do centro e dos transportes públicos para a qualidade de vida do morador.

Dessa forma, visitas e análises da legislação atual - flexibilizada pela existência de uma operação urbana - permitiram compreender a região, que contém um grande número de edificações coloniais e remetentes ao período de capital, além de interessantes exemplares de arquitetura industrial. Essa aproximação permitiu que a distribuição do conjunto proposto fosse feita de maneira a respeitar a dinâmica do lugar, sua morfologia e vocação, buscando revitalizar a área de maneira profunda e duradoura.

O primeiro ponto importante do projeto urbano é a distribuição dos usos pelo território. Um conjunto de quadras e edificações que contém um número variado de utilizações traz maior movimento para a área, contribuindo para a criação de espaços vivos e dinâmicos. A ideia consiste em extrapolar o conceito de uso misto, aplicando-o como elemento chave em todas as escalas, mesclando situações e buscando maior conexão entre diferentes realidades do porto.

O segundo ponto chave é a implantação de um parque linear que se estende por toda a costa, invadindo o tecido construído em certas situações, criando os espaços destinados aos principais equipamentos ligados às Olimpíadas. Essa situação de parque linear tem como função também criar uma nova frente marítima para toda a região, retomando uma ligação intrínseca à cultura carioca, além de funcionar como ligação entre o Aterro do Flamengo e o Parque da Quinta da Boa Vista, de maneira a construir um sistema de espaços livres. Como complemento à mobilidade, linhas de VLT e ciclovias foram propostas de maneira a abranger todo o porto.

Dessa maneira, os equipamentos buscam trazer conexões com a cidade, por meio dos diferentes usos e aberturas que possibilitam a fluidez do espaço e dos fluxos. A região próxima ao píer Mauá receberia usos ligados ao turismo e ao entretenimento da população local, como cinemas, uma biblioteca pública e um liceu de artes e ofícios. Três equipamentos esportivos principais, o Centro de Treinamento Olímpico, o Centro de Tênis e o Centro de Desportos Aquáticos se distribuiriam por este parque linear, agregando valor ao percurso. Uma nova frente para ferrovia seria configurada com a chegada do parque linear, de ciclovias e linhas de VLT, além de novas transposições. A Vila Olímpica se distribui por todo o local, tendo uma ocupação perimetral que remete à ocupação tradicional da Zona Sul, formalizando a existência de um pátio interno com múltiplos usos, permeável à cidade.

Ficha Técnica:

Área de intervenção: 1.824.240,827 m² ~ 182 há

Área construída:

Centro de Treinamento Olímpico: 302.199 m²
Centro de Tênis: 176.880 m²
Centro de Desportos Aquáticos: 87.622 m²
Biblioteca Mauá: 74.374 m²
Vila Olímpica: 573.162,73 m²
Área total: 1.214.237,73 m²

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