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secao 4!

Arquitetura na Reestruturação do Território do Bexiga

RICARDO LOPES GUSMãO

KLARA KAISER MORI

I - INTRODUçãO

A arquitetura na cidade de São Paulo tem de ser pensada em uma escala metropolitana. Se apoiados em um visão mais abrangente da construção da cidade, os pressupostos do projeto de arquitetura extrapolam as questões internas ao lote para assumir um papel mais ativo na constituição da cidade e na inclusão do cidadão. Pensando um sistema de intervenções que contenha um pensamento mais coerente entre as diversas necessidades da cidade, a arquitetura pode alcançar uma transformação local e que ao mesmo tempo lida com problemas envolvendo a escala metropolitana. O tema deste Trabalho Final de Graduação é de como, através da arquitetura, ativar relações programáticas e espaciais já presentes em um contexto urbano complexo como o de São Paulo, mas que são sistematicamente negligenciados pela falta de coesão no ato de construir a cidade.

Partindo do ideal de planificação moderno, o desfio enfrentado neste TFG é de como aplicar a contundência moderna na cidade de SP sem passar pelo processo de tabula rasa, mas trabalhando a partir do tecido urbano existente e dos antagonismos do modo de produção da cidade para transformá-lo. A proposta é de se pensar em uma rede de equipamentos públicos de grande escala na área central da cidade. Por se localizarem em uma área já densa e consolidada, estes equipamentos devem se articular com o tecido urbano existente e transformar o seu entorno criando novas conexões e potencializando fluxos programáticos. É claro que a intervenção lote a lote ficaria inevitavelmente aquém das necessidades (radicais) de transformação da metrópole. Para alcançar essa intensidade de transformação, o programa dos equipamentos deve ser pensado para além dos limites do lote e desenhar novas articulações com seu entorno.

Desde o inicio, as referencias programáticas foram claras: trabalhar com espaços que pudessem abrigar atividades educacionais, culturais e de lazer tomando como exemplo equipamentos existentes tais quais a Escola Parque, o CEU e o SESC. Alguns projetos me inspiraram na busca por uma espacialidade que tira proveito da situação existente do entorno para a partir disso propor uma intervenção que lida com a questão de como preservar e ao mesmo tempo transformar seu contexto. Como o SESC Pompéia, o Teatro Oficina ambos de Lina Bo Bardi, o concurso para o parlamento holandês de Den Haag, do arquiteto holandês Rem Koolhaas e o conceito das Escolas Classe Escola Parque, do educador baiano Anísio Teixeira.

II - SãO PAULO

Na busca de sobrevivência nas condições de acumulação vigentes, a população de baixa renda gerou dois anéis de informalidade: a periférica - onde suas condições de assentamento se apoiou na ocupação informal da terra. E na área central, onde sua localização se torna possível pela decadência física das edificações. É no domínio desse anel central de informalidade que recai a opção de localização do projeto.

A idéia de um plano mais abrangente para a cidade torna-se cada vez mais urgente para buscar grandes soluções para os antagonismos da metrópole paulistana. A proposta se delineou então como construção de uma rede de equipamentos nas regiões centrais de maior carência: Luz, Brás, Santa Cecília, Glicério e Bexiga.

III - O BEXIGA

Por se tratar de um bairro onde a segmentação do pensamento na construção da cidade e os antagonismos legislativos que orientam as transformações do meio urbano ficarem muito evidentes, o bairro do Bexiga foi eleito para uma investigação projetual mais aprofundada que se orienta a partir da leitura de sua geografia e sua diversidade de usos, cultura e população. Localizado no sub-distrito da Bela Vista, o bairro se encontra na área de Reestruturação e Requalificação. Essa delimitação feita pela prefeitura reforça a necessidade de se pensar um plano para a região, que a transforme mas que busque preservar sua identidade.

O bairro começou a se urbanizar ainda no final do século XIX, sendo ocupado principalmente por imigrantes italianos que buscavam em São Paulo novas oportunidades para trabalhar como artesãos ou pequenos comerciantes. A população residente neste começo de urbanização era muito heterogênea, composta por diversas culturas e classes sociais1. No mesmo lote habitavam os proprietários da casa principal e do comercio e em alguns casos no fundo lote era construída uma habitação coletiva ocupada por uma população de baixa renda. Esse modo de viver coletivo teve posteriormente a conotação pejorativa de cortiço, cujo estigma dificulta uma investigação aprofundada sobre seu modo muito particular de convivência e perde a oportunidade de se criar uma base teórica para uma possível elaboração projetual que visasse adequação desse modo de viver aos dias de hoje, não simplesmente a remoção desses cortiços das áreas centrais.

IV - PROJETO

A partir da idéia de uma rede de equipamentos sociais nas áreas centrais de São Paulo, o projeto desenvolvido no segundo semestre deste Trabalho Final de Graduação consiste na elaboração de um dos núcleos deste sistema. A análise urbana feita no primeiro semestre apontou possíveis localizações para estes pólos estruturadores, como os bairros da Santa Cecília, Bom Retiro, Brás, Glicério e Bexiga, por se tratarem de regiões centrais e articuladas com a rede de infra-estrutura da metrópole, porém com alta taxa de informalidade, baixa qualidade dos espaços públicos e pouco acesso à equipamentos complementares à vida urbana. Dentre estes possíveis endereços, escolhi o bairro do Bexiga para a elaboração de um projeto que busca integrar questões do desenho urbano e da arquitetura.

O ponto de partida do projeto foi a compreensão da heterogeneidade do bairro, tanto do ponto de vista cultural quanto social, que se materializa em sua construção gerando um tecido urbano resultante da sobreposição de modos distintos de se construir a cidade.

O projeto busca equalizar uma resposta conjunta à problemática levantada. Os temas da habitação, equipamentos públicos e infra-estrutura nortearam o desenvolvimento espacial do projeto que, reagindo ao tecido urbano existente, formou três frentes de aturação: enfrentar a passagem da Radial Leste pelo bairro, propondo um redesenho para esta via estrururadora da metrópole, que contemple a sua função de circulação mas transfigure seu impacto negativo em um eixo agregador de vida urbana.

A segunda frente do projeto é o conflito entre a necessidade de se preservar um bairro histórico da cidade e simultaneamente adequá-lo às necessidades atuais da metrópole. O projeto aqui proposto buscou preservar a morfologia da parcela do bairro que mantinha suas características originais, para então reativá-la com novos programas.

O terceiro movimento projetual, escolhido para um desenvolvimento mais aprofundado, é o local onde modos distintos (e quase antagônicos) de construir o meio urbano colidem. A obra do Viaduto Martinho Prado marca o fim das construções da primeira metade do século XX das transposições da Avenida Nove de Julho. Na década de 1970 a Ligação Leste-Oeste entra em contato físico imediato com as transposições anteriores. O contraste destas construções cria um espaço interessante para uma intervenção.

  1. Para uma leitura mais aprofundada sobre a formação inicial do Bexiga, ver LANNA, Ana Lúcia Duarte - Os Italianos do Bexiga: Calabreses em São Paulo, 1878-1930.

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