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secao 4!

Interface, Comunicação e Espaço:

o corpo tecnológico nas heterotopias contemporâneas

Rita de Cassia Cheng Wu

Giorgio Giorgi Junior

Este trabalho pretende o estudo das relações entre o corpo, o espaço e a tecnologia. A relação entre as diferentes escalas, e na forma como cada um dos sistemas influencia e modifica o outro passam a ser objeto de estudo. Para tanto, são necessárias aproximações com diversas áreas do conhecimento humano, mas, principalmente o trabalho se focou na sensibilidade humana.

Com a Revolução Eletrônica praticamente concretizada, e a Revolução Digital avançada, não podemos ignorar que as novas formas do sentir atravessam nosso corpo, potencializando nossos sentidos. O próprio sentir tornou-se híbrido, e podemos ampliá-lo a partir de dispositivos tecnológicos.

Quando pensamos, portanto, neste contexto digital em que vivemos e a forma como nos relacionamos, a exotopia passa a ser a palavra que mais caracteriza a forma como vivemos. De certa forma, passamos a deslocar nossas experiências para além de nós mesmo, para o nosso exterior e, consequentemente, para o outro. Isso é o que Perniola chama de “sentir inorgânico”. Quando pensamos no exterior imediato a nós mesmos, pensamos na nossa pele como interface interior-exterior de nosso corpo. Com o avanço das tecnologias digitais, se tal interface estiver “protegida” ou equipada com dispositivos, poder-se-ia potencializar nossas experiências cotidianas, multiplicar o nosso sentir, modificar e subjetivar o espaço ocupado e ressignificar a territorialidade geográfica local, que já não é mais a mesma.

Precisamos pensar o corpo neste novo estatuto e elucidar a forma como ele poder vir a funcionar em um futuro bastante próximo. Devemos pensar nas múltiplas naturezas que nossos corpos têm hoje disponíveis e de que forma este corpo híbrido pode melhorar a nossa existência. Por conseguinte, deve-se apontar os perigos da hibridização entre homem e máquina, mas não deixá-los obstruir uma busca por novas formas de sentir, da mesma forma que o homem vem buscando a sua instrumentalização para possibilitar novas experiências, desde sempre.

Assim, propõe-se aqui um trabalho experimental de investigação, que pode estimular novas formas de projetar espaços, como também novas formas de projetar corpos no espaço. Da mesma forma que nossas relações sociais passaram a ser mediadas eletronicamente, ratificando nossa forma técnica de existência, a arquitetura, o espaço e o território também passam por essa medição, assim como o nosso corpo.

Portanto, o trabalho é uma tentativa de aprofundar, sem vínculos a visões preestabelecidas, o estudo do impacto das novas tecnologias na mediação da nossa relação, corporal e sensória, com o espaço. Ele apresenta-se como uma busca pelo sentir, como uma maneira de pensar o espaço de forma mais afetiva e sensível. Poder trazer à tona sensações antes ocultas, remanejadas para o esquecimento, e que passam a fazer parte de nós através de dispositivos. Por isso, o objetivo do trabalho é de como dispositivos tecnológicos podem potencializar a nossa experiência, a nossa vivencia, a nossa percepção.

Assim, a intenção foi de quebrar a regularidade da experiência que temos na FAU, desestruturar de certa forma, nossa estrutura perceptiva. Assim, adicionando um novo dado para a nossa experiência, chamou-se a atenção para o que já estava presente, mas não era percebido em sua intensidade.

O projeto consiste, portanto, em um dispositivo tecnológico, vestível, cujo principal objetivo é alterar a nossa percepção espacial. Através da captação das vibrações da rampa da FAU, essa mesma vibração é passada para o corpo do usuário. Essa desobjetivação da visão é uma estratégia de desentorpecimento do espectador para libertá-lo da prisão do visível, e introduzi-lo em uma experiência no qual as sensações táteis tomam conta de seu corpo. A proposta dessa prática artística é de um laboratório no qual se pode estabelecer uma relação entre o humano e o computador de forma mais sensível, através dos efeitos da tecnologia.

Assim, o aparato vestível percorre todo o corpo. Nele estão inseridos 44 motores de vibração que respondem as vibrações captadas nas rampas da FAU, através de um sensor chamado geophone. O dados são enviados da rampa para a roupa via ondas de radiofreqüência, através de um dispositivo chamado Xbee.

Assim, a arquitetura passa a ser sentida no corpo da pessoa. Passamos a ter consciência que a própria arquitetura é um organismo vivo e pulsante. Um corpo que pode ampliar nossa dimensão tátil. Essa arquitetura, agora sensível e interativa, passa a responder de maneira mais clara aos nossos deslocamentos no seu espaço. Ao vestir a roupa nos sentimos acolhidos, tanto pela vestimenta quanto pelo edifício. Poder compartilhar sensações com o corpo da arquitetura nos faz poder sentir parte dela. O trabalho possibilita perceber vida no que parecia inanimado. Esse trajeto, não racional, chama a nossa atenção para o fato de que é na relação com o humano que as coisas inanimadas mostram seus potenciais e sua vida. Quando andamos nas rampas afetamos, mudamos o espaço, e ele passa também a nos afetar.

A ideia original do projeto foi se moldando ao longo da pesquisa. O trabalho apresentado tentou unir, de forma sensível, a vontade de estabelecer relação direta entre corpo, espaço e tecnologia, para possibilitar uma nova percepção espacial. A tentativa de escancarar a forma como nosso corpo afeta o espaço e de como o espaço afeta nosso corpo só foi possível através da utilização de tecnologias digitais e analógicas. Apesar de ainda ser um projeto preliminar, não acabado, aberto ainda a outras discussões e pesquisa, ele é aqui apresentado como uma ideia possível para encarar os questionamento levantados. Assim, o projeto se constituí enquanto faísca para a ignição de um projeto mais elaborado.

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