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secao 4!

Nem Clarim, ... Nem Clarineta

Ana Beatriz Nestlehner Cardoso de Almeida

Eduardo de Jesus Rodrigues

O TFG

Devido à minha experiência em áreas de proteção ambiental, principalmente na cidade de Iporanga, Região do Vale do Ribeira, constatei a necessidade da existência de abrigos que, além da função básica da proteção, pudessem ser utilizados como observatórios, ou mesmo como unidades avançadas de pesquisa cientifica.

Iporanga possui a maior área contínua preservada de Mata Atlântica do Estado de São Paulo, apresenta topografia acidentada com rios de águas ligeiras e inúmeras cavernas. Seu clima quente e úmido é marcado pela alta pluviosidade, o que lhe confere uma vegetação exuberante de grande biodiversidade. Estas características naturais atraem grande número de turistas, praticantes de esportes radicais, cientistas e estudiosos. Por ser uma região de colonização antiga, possui diversas trilhas de viajantes e tropeiros, além de abrigar comunidades tradicionais isoladas no meio da floresta de difícil acesso e com pouca comunicação com o exterior. Os caminhos são extremamente íngremes, restritos ao uso de pedestres e animais de carga.

A intenção é que esses observatórios sejam locados em áreas florestais isoladas. Como a região é caracterizada pela dificuldade do acesso humano, comecei de forma empírica a determinar um programa inicial baseado na dificuldade de transportabilidade de material. A construção deveria possuir um sistema constituído por peças simples, leves, de fácil transporte e montagem.

Visitei a região amazônica em decorrência da minha pesquisa, lá tive contato com outros tipos de comunidades isoladas. Pude perceber a semelhança de algumas dificuldades identificadas tanto no bioma da Mata Atlântica quanto no da Amazônia, destacando-se a precariedade do acesso a redes de transporte e infraestrutura das populações que vivem em áreas de proteção ambiental. A viagem para Amazônia reforçou, para mim, a necessidade de criar um habitáculo que pudesse ser facilmente transportável, principalmente para localidades isoladas.

O começo do processo projetual foi o desenvolvimento empírico de alguns croquis, que ao serem apresentados a alguns arquitetos e professores, gerou a orientação de pesquisa sobre o trabalho de Richard Buckminster Fuller- o maior inspirador de todas as minhas referências.

Em seguida iniciei um trabalho investigativo sobre as características de estruturas espaciais, Sistemas Construtivos Transportáveis (S.C.T.), Micro-Arquitetura, Design nômade e Casas nas Árvores. Essas referências embasaram o meu programa arquitetônico, proporcionando a base teórica para o desenvolvimento das Premissas, do Partido e do Projeto Arquitetônico.

Como definição meu trabalho final de graduação, consiste no projeto de uma construção desmontável, com função de um habitáculo temporário, com área mínima, de caráter projetual flexível, que possa ser reproduzido industrialmente, adaptável em diferentes realidades ambientais e transportável para locais de acesso restrito.

O Partido Arquitetônico

A fase de pesquisa teórica forneceu um embasamento consistente para o desenvolvimento de uma série de premissas arquitetônicas definidas a partir da análise das problemáticas apresentadas no meu projeto arquitetônico:

O aspecto da transportabilidade ergonométrica foi o maior desafio para a definição de um programa arquitetônico. Suas problemáticas relacionadas ao peso e armazenamento direcionaram a busca de um sistema construtivo desmontável e a pesquisa de materiais leves e resistentes. Já a restrição ao acesso impossibilitou a adoção de sistemas construtivos em que a montagem dependesse do uso de energia elétrica ou equipamentos especiais.

A questão da sua adaptação em diferentes realidades ambientais pressupõe que o habitáculo possa estar apoiado, pendurado ou boiando. Essa característica impõe que sua estrutura seja dinâmica o suficiente para resistir aos esforços de diferentes condições de contorno: apoiada, pendurada e boiando.

Para as questões de conforto térmico é previsto o uso em locais com temperaturas características de regiões de clima tropical, buscando prover um ambiente ventilado, protegido contra as intempéries e invasão de animais. O uso como um observatório do meio, determina que as vedações possuam um certo, nível de transparência, possibilitando assim, a visibilidade de todo o entorno.

Premissas Arquitetônicas

1-O projeto deve prever o uso temporário do habitáculo e o desenvolvimento de seu desenho deveria encontrar o máximo de eficiência em uma área mínima, suficiente para contemplar as atividades de trabalho, higiene e descanso, para no máximo três pessoas.
2-O projeto deve prever que o sistema construtivo desmontável fosse ergonomicamente transportável para regiões de difícil acesso.
3- O projeto deve prever as mais diversas situações de montagem do sistema construtivo: apoiado, flutuando ou estaiado. Portanto, deveria possuir um sistema estrutural capaz de possibilitar mais de uma forma de montagem.
4- O projeto deve prever o uso materiais construtivos capazes de oferecerem segurança e conforto térmico em áreas de Clima Tropical Úmido.
5-O projeto deve prever a utilização do habitáculo como unidade avançada de pesquisa cientifica, um observatório do meio.
6- O projeto deve prever a possibilidade da produção industrial do modelo e sua comercialização em kits.

Desenvolvimento do Projeto

O processo criativo foi baseado na construção de modelos seguido do desenho técnico 2D . Com a finalização do primeiro projeto executivo, partimos para a segunda fase de do trabalho – A construção de modelos em escala funcionais e os testes de desempenho estrutural. Foram construídos dois modelos em escala 1:2. O primeiro foi submetido a diferentes instalações: apoiado, flutuando e estaiado – As diferentes situações de contorno apontaram algumas deficiências estruturais nas suas peças. A Construção do segundo modelo, buscou melhorar a performance do sistema estrutural como um todo. Dessa forma, o projeto executivo estrutural foi criado a partir de uma afirmativa hipotética, que após a sua experimentação, foi modificado e adequando-se pra uma realidade factível.

“Nem Clarim, Nem Clarineta” é uma micro-habitação proposta para uso em situações extraordinárias, com a função primordial de fornecer abrigo e proteção. O sistema estrutural básico é constituído por hastes tubulares e conectores que formam uma treliça espacial metálica. O sistema de conexões permite mais de uma forma de montagem, possibilitando a adequação estrutural a diferentes formas de instalação. O revestimento de toda sua superfície é previsto usando uma malha de aço inox, que será fixada com cabos de aço e braçadeiras, junto às hastes do sistema estrutural. A escolha desse material justifica-se por suas características físicas de resistência estrutural, resistência a corrosão, maleabilidade, peso e fornecimento de proteção. Contra as intempéries haverá uma super - cobertura em lona plástica.

O projeto também prevê a comercialização do habitáculo em kits, onde estão organizados os adicionais básicos de instalação, de amarração e mobiliário. Também está descriminado uma sugestão de montagem para o sistema estrutural e para as opções de assentamento apoiada, estaiada e flutuante .

O Patrocínio

Durante o processo de desenvolvimento do Trabalho entrei em contato com a empresa alemã Promesh , produtora exclusiva da malha de aço inox da linha Alphamesh. Ao mostrar o projeto, ocorreu o interesse do fornecimento gratuito de uma cota de malha de 13,16 m² - o suficiente para vedar um modelo em escala 1:2 , além da disponibilidade de patrocínio do frete aéreo.

O custo para o recebimento , como pessoa fisica dessa cota de malha inox se mostrou inviável , devido as altas taxas de importação. Foi necessário recorrer ao apoio da FAUUSP para a abertura de um processo de importação isento de impostos , no caso específico de doação de material para uma instituição de ensino com uso para fins de pesquisa.

O processo via USP foi iniciado, no entanto os longos períodos necessários para os trâmites entre as entidades burocráticas impediram o recebimento da malha no período previsto.

A mercadoria permanece no local de origem até que ocorra a conclusão do processo aduaneiro.

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