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secao 4!

Retrofit:

Edifício Jaçatuba

Anna Paula Barbugli Sortino

João Carlos de Oliveira César

O projeto do Retrofit passou por diversas etapas. A primeira delas foi a análise do edifício existente, a relação do edifício com o entorno e a cidade, sua importância histórica no contexto urbano e na forma arquitetônica. Depois de completa a percepção e contextualização os estudos passaram a focar o que um hotel nesse espaço significaria, como ele interagiria com o entorno e que elementos seriam necessários para que ele tivesse um funcionamento racional. Com todo embasamento necessário, diversas plantas e estudos de viabilidade foram desenhando o perfil e conceito do hotel.

Como o terreno encontra-se em um terreno defendido pelo patrimônio histórico a preservação da fachada e valorização da arquitetura do edifício, projetado por Oswaldo Brakte, foram levados em consideração em todo processo. Juntamente com a definição das plantas o conceito de brasilidade começou a ser explorado. O desejo era colocar o que significaria um “cidade de São Paulo” para mim, uma vez que cada um tem uma visão diferente da cidade, dentro do hotel. Os meios utilizados foram estudos do estilo de vida paulista, materiais e mobiliário nacional.

O QUE É UM RETROFIT?

Processo de modernização, buscando a customização, adaptação e adequação do elemento as tecnologias atuais, as normatizações e possíveis novos usos. Retrofit é o nome que se usa para designar o processo de modernização de algo, adaptando a um novo uso ou atualizando o elemento a uma nova situação. Esse processo tem a intenção de aumentar a vida útil dos antigos edifícios, buscando uma melhoria dos equipamentos, conforto e possibilidade de uso.

As modificações são feitas por meio da incorporação de tecnologias modernas e utilização de materiais avançados, combinando a reforma e a restauração, trazendo os avanços tecnológicos sem desfigurar os projetos arquitetônicos originais. Esse processo alia o “renascimento” dos edifícios aos conceitos de preservação, memória e história. A maior preocupação ao se decidir realizar um retrofit é conseguir perceber a identidade do Edifício, contextualizando ele historicamente e garantindo uma personalidade própria, que o torne uma referência. E através de artifícios, como a criatividade, se recria e renova a construção, conectando-a com os serviços e comércios do entorno, assegurando sua atualidade no futuro.

“Não se trata simplesmente de uma reconstrução, pois esta implicaria em uma simples restauração. Ao invés disto, busca-se o renascimento.” Rodrigo Basto, especialista no mercado de espaços urbanos.

PORTE DO HOTEL

Quando o edifício foi definido iniciaram-se estudos de viabilidade, porte e situação das plantas e corte. O porte do Edifício Jaçatuba é bem pequeno, possui:
ÁREA TÉRREO 355m²
ÁREA PAV. TIPO (até o 6º andar) 262m²
ÁREA PAV.TIPO (do 7º ao 10º andar) 215m²
ÁREA CONSTRUÍDA 3.127m²

Com uma área total pequena, uma das opções seria transformar o edifício em um hotel de padrão industrial, como o caso das redes Fórmula 1, Íbis e Accor, onde o objetivo é a alta rotação dos hóspedes e ocupação constante a baixos preços. Porém, um hotel desse tipo possui um pensamento muito mais voltado para a economia, giro de pessoas e praticidade, do que para o conforto dos hóspedes, que não é a linha de projeto desejada.

Outro ponto em questão foi o numero de hotéis que já estão instalados no centro.” Existem cerca de 10 mil quartos de hotéis no centro num total de 35 mil em toda cidade” (Federação de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado). Sem possuir um diferencial, não haveria justificativa para implantação desse novo uso. O conceito escolhido foi, portanto, o de Hotel Boutique, que pode ser descrito como um “Hotel de Charme”. Nele os detalhes são essenciais, quase o equiparando com uma obra de arte, com personalidade nos cômodos, individualidade no conceito e uma interatividade entre hóspede e hotel mais próxima e particular.

HOTEL BOUTIQUE

O Hotel Boutique possui características personificadas e um conceito único. O objetivo não é a maximização do uso do espaço, nem economia em materiais, mas encontrar a particularidade e elementos que tornem esse hotel um marca na memória dos hóspedes, além de oferecer o conforto residencial para aqueles que buscam um espaço para descansar, mesmo em uma viagem rápida. Esse estilo de Hotel é como uma extensão da casa de cada hóspede. Ele possui um conceito residencial, do ponto de vista do conforto; um conceito artístico, do ponto de vista do design e um engajamento com a cidade tão direto, que poderia ser considerado quase um espaço público.

A preocupação em relação ao aproveitamento do espaço é válida até a fronteira artística, garantindo a personalidade e individualidade tanto das áreas comuns, como dos quartos. Considerando a localização do novo hotel, a escolha do estilo é ainda mais justificada. Como podemos ver no mapa da página a seguir, a região é envolta por uma série de patrimônios históricos, teatros, bares e restaurantes, que clamam por artistas, designers e pessoas que vêem à cidade para conhecer sua essência.

“Boutique hotel é muito semelhante ao conceito de hotel de charme, mas com uma ênfase maior nos elementos de arte, individualidade e interatividade.” Cool Hotels America.

UMA SÃO PAULO

Para os hóspedes que vem visitar a cidade, geralmente a estadia é rápida, apenas a trabalho, ou, os que vêem a turismo, acabam conhecendo a cidade superficialmente, não reparando em alguns elementos marcantes da cidade.

O objetivo, é trazer um pouco da cidade em que o Hotel se encontra, no caso São Paulo, para “dentro” dele. Mostrando alguns símbolos da cidade, mesmo que de forma inconsciente, para os hóspedes. Colocar elementos que compõe a cidade toda, seria inviável, uma vez que a cidade possui diferentes elementos marcantes para cada pessoa. Então separou-se alguns pontos de UMA São Paulo. Com pequenos simbolismos e materiais que cabiam no conceito de forma adequada e se enquadravam dentro dos espaços do hotel.

O principal meio de trazer a cidade para a desenvoltura do hotel é através da identificação dos elementos da cultura paulistana e disseminação da mesma, através do uso de mobiliário nacional, materiais e relação com o espaço público. Cada item é explicado com exemplos nas páginas seguintes. Além dos materiais, o conceito aborda o estilo de vida paulistano, onde elementos como a conversa de rua, o tradicional cafezinho, a oferta de diferentes restaurantes e a vontade de se divertir se instalam na alma do hóspede e na essência do hotel, oferecendo a oportunidade para viver uma parte da experiência de um morador de São Paulo.

Na caracterização dos ambientes a tentativa foi utilizar alguns materiais nacionais ou com memória paulistana. O mobiliário seria basicamente nacional, de design contemporâneo, histórico ou vernacular. O intuito é apresentar e proteger as produções nacionais, compondo um ambiente brasileiro na essência, mesmo que de modo indireto.

LOCALIZAÇÃO

A localização do Edifício Jaçatuba é na Rua Araújo, 165, com a Rua Major Sertório. O edifício está inserido em uma quadra irregular e poligonal devido ao prolongamento e alargamento da Rua Ipiranga e São Luís, e prolongamento da R. Major Sertório.O edifício é um das três obras feitas por Oswaldo Bratke na região, de frente para a fachada principal está o Edifício Renata Sampaio Ferreira e na outra rua o Edifício ABC. Em frente ao Jaçatuba está a Praça Darcy Penteado.

O Jaçatuba é constituído por dois corpos de tamanho e altura desiguais. O corpo principal com onze pavimentos configura-se como um edifício de esquina com três faces bem definidas: uma côncava na bissetriz da esquina e duas outras planas. Percebe-se claramente a simetria bem definida, tanto externamente, nas fachadas, quanto internamente, nas plantas. Encostado diretamente neste corpo principal, encontra-se o seu “apêndice”, com suas dimensões e altura reduzida a seis pavimentos. A questão das altura do edifício foi um ponto muito importante na criação do projeto. O fato do corpo principal possuir o rebatimento das volumetrias em duas ruas distintas foram frutos de negociação com o presidente Prestes Maia. Na negociação das alturas, conseguiu-se elevar dois pavimentos a mais com a justificativa do recuo côncavo. O apêndice se manteve mais baixo, acompanhando o edifício até o 6º pavimento. Apesar de ser um elemento praticamente acrescido, ele possui o mesmo diálogo marcante das esquadrias das janelas.

RELAÇÃO COM A PRAÇA

A relação entre o Edifício Jaçatuba e a Praça Darcy Penteado, hoje em dia, é praticamente inexistente. O Jaçatuba é fechado com grades na esquina e como abriga escritórios de advocacia em sua totalidade, a interação acaba sendo distante. Com o retrofit transformando-o em hotel, a conexão com a praça aumentaria, não só pela retirada das grades, mas pelo novo uso oferecido. A proposta de um café vinte quatro horas na parte térrea do edifício, mais precisamente no espaço na Rua Major Sertório, seria um ponto encontro, espera e descanso para o uso dos serviços do entorno, como a boate LOVE Store, o Bar da Onça, entre outros restaurantes e bares do entorno e do próprio hotel.

A praça se tornaria ponto de espera para decidir que local de lazer as pessoas querem ir, já que é a interligação entre muitos deles. A manutenção e preservação da praça seria quase automática, uma vez que ela se tornaria o pátio urbano do hotel e sua vista principal.

CARACTERIZAÇÃO DO EDIFÍCIO

O edifício Jaçatuba possui uma linguagem construtiva e plástica que se encontra entre manifestações ecléticas e modernistas, mas não possui uma definição estilística clara. Ele se enquadra em um processo de transição que ruma em direção ao moderno. Sua geometria forte, sem muitos detalhes ornamentais, as paredes lisas nas transições entre edifícios e as mudanças de direção da fachada principal podem ser entendidos como detalhes clássicos ou, o início de uma abstração modernista. Um dos elementos mais marcantes do edifício são as janelas, elas são grandes e iluminam muito bem os ambientes, que tinham como objetivo serem salas de consultório. Suas esquadrias são feitas em madeira e possuem um desenho na parte externa que se repete em todas as janelas do edifício.

Pode se dizer que o edificio já pensava em uma racionalidade construtiva, voltada para a industrialização, por seu desenho claro e simetria, mas sem a preocupação com o vínculo com o programa funcional. As principais características do Jaçatuba seriam marcadas pelo ritmo, simetria e equilíbrio. O Jaçatuba foi projetado como um conjunto para consultórios médicos, mas nunca foi utilizado para esta função. A planta original possui algumas diferenças dos elementos encontrados no edifício atual, estas serão descritas conforme os pavimentos.

ZONA DE PRESERVAÇÃO

“Z8-200- Zona de preservação de imóveis de caráter histórico, artístico, cultural e paisagístico. Em 1975, através da Lei nº 8.328, decidiu-se utilizar o zoneamento como instrumento de preservação de bens culturais. Criou-se, assim, a Z8-200, que estendeu o zoneamento à preservação de imóveis de caráter histórico, artístico, cultural e paisagístico. Este instrumento permitiu ao Município definir como bens culturais uma série de imóveis de grande valor histórico para a cidade, na intenção de preservar a memória de sua evolução.” (Fonte: site da prefeitura de São Paulo)

Como o edifício Jaçatuba se encontra em uma zona de Proteção ao Patrimônio, apenas mudanças internas e na sua cobertura serão efetuadas. A tentativa com o projeto é mais do que apenas preservar, mas valorizar os elementos marcantes, trazendo eles para dentro da edificação. As cores e materiais da fachada seriam os mesmos, apenas como uma nova demão de pintura e manutenção básica necessária.O pequeno jardim, que se encontra na parte côncava, seria mantido, sem descaracterizar a entrada principal.

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