A preocupação com a preservação dos recursos naturais e com as consequências das atividades humanas para o meio-ambiente tem se tornado cada vez mais presente na discussão e no planejamento do projeto de arquitetura. A busca pela sustentabilidade na arquitetura deve traduzir-se na discussão e reavaliação contínua das diretrizes que deverão nortear as definições e decisões a serem tomadas nas diversas etapas de desenvolvimento do projeto de arquitetura, considerando os diversos fatores envolvidos, desde a concepção do projeto, como a escolha adequada dos materiais, os métodos e sistemas construtivos adotados, a definição e dimensionamento de mecanismos passivos visando a otimização da eficiência energética, o planejamento das etapas executivas, bem como outros aspectos relativos ao uso, ocupação e funções que o edifício exercerá. A sustentabilidade na arquitetura é, portanto, uma temática abrangente, que pode ser abordada e deve estar presente nas diversas esferas de atuação dentro das atribuições do arquiteto urbanista.
Em diversos países, é possível averiguar que o setor da construção civil vem buscando alternativas para garantir um processo cada vez mais racionalizado e eficiente na utilização dos recursos e da mão-de-obra envolvidos. No Brasil, apesar de já dispormos de diversas tecnologias no que se refere a sistemas complementares ao projeto – como, por exemplo, sistemas de geração e conversão de energia, reaproveitamento de água, captação de águas pluviais e mecanismos de ventilação – não vemos o mesmo avanço tecnológico em relação aos sistemas construtivos, havendo ainda uma predominância massiva de métodos construtivos artesanais, mais tradicionais, que se mostram, na prática, pouco eficientes do ponto de vista do aproveitamento dos materiais empregados, uma vez que geram considerável desperdício em sua execução e dificultam o posterior descarte ou a reutilização dos resíduos oriundos de reformas ou demolições.
A difusão de novos métodos e sistemas construtivos, contudo, enfrenta obstáculos de naturezas diversas, como, por exemplo, a própria falta de formação acadêmica dos profissionais do setor, não havendo por parte dos mesmos o conhecimento ou domínio na aplicação destes sistemas. Há ainda fatores de ordem cultural que contribuem para dificultar uma maior difusão de métodos que se distanciem dos mais tradicionais.
A utilização de sistemas industrializados na construção civil pode contribuir para minimizar o impacto gerado pelas atividades do setor. A fabricação de componentes em um ambiente industrial, com mão-de-obra qualificada e sob um controle mais rigoroso de produção durante todo o processo, garante maior precisão e reduz sensivelmente o desperdício de material. A utilização de componentes pré-fabricados garante ainda uma melhor organização do canteiro, pois sendo um processo racionalizado, elimina a necessidade de grandes depósitos de materiais. A aplicação destes sistemas permite ainda prescindir ou reduzir ao mínimo o consumo de água no canteiro.
Sendo sistemas de fabricação industrial, há alguns fatores, contudo, que não podem ser negligenciados na concepção dos projetos que adotem estes sistemas. Deve-se prever, por exemplo, a padronização dos componentes utilizados, pois isto se reflete diretamente nos custos de produção. Dessa forma, é imprescindível que o projeto seja concebido respeitando a relação de modularidade estabelecida a partir da definição e dimensionamento dos componentes do sistema.
Considerando os resultados da pesquisa e os estudos de embasamento teórico realizados, optou-se por utilizar um sistema construtivo industrializado, constituído por um sistema estrutural de pilares e vigas metálicos e um sistema de fechamentos, composto por módulos independentes, utilizando-se o Light Steel Framing não-estrutural. Para tanto, buscou-se, a partir do pré-dimensionamento da estrutura e da definição da configuração dos módulos de fechamento, desenvolver o detalhamento das soluções adotadas quanto à compatibilização e interface entre os componentes, bem como dos subsistemas incorporados ao projeto.
O sistema estrutural independente do sistema de fechamentos permite flexibilizar o projeto e favorece ainda alterações posteriores, sem comprometimento da função estrutural e sem geração de entulho, de acordo com as necessidades de uso, visando atender a diferentes demandas de ocupação. Estes aspectos favorecem também a manutenção do sistema, permitindo a substituição individual de componentes ou a reutilização dos mesmos, e a reciclagem, ao passo que o sistema utilizado facilita a separação posterior dos diferentes materiais empregados.
Para se definir a malha modular segundo a qual seria concebido o projeto, foram considerados os seguintes parâmetros: a definição de dimensões adequadas à compartimentação dos espaços internos de uma unidade habitacional; as dimensões do lote, as condições de seu entorno e as restrições urbanísticas estabelecidas pela legislação do município; e as especificações e dimensões comerciais disponíveis dos componentes adotados, considerando as informações obtidas por meio de sites e catálogos de fabricantes, bem como a consulta às normas técnicas correspondentes.
O sistema construtivo adotado, como dito, confere ao projeto condições favoráveis à flexibilização quanto à configuração interna da unidade, permitindo adequar-se a diferentes demandas de ocupação. Para a concepção e detalhamento da unidade habitacional proposta, contudo, estabeleceu-se um modelo de ocupação e um programa com a respectiva compartimentação dos ambientes internos:
- Suíte de casal
- Suítes de solteiro (duas)
- Sala de jantar
- Sala de estar
- Sala de televisão
- Cozinha
- Área de serviço
- Lavabo
Terreno: 155m²
Área de projeção da unidade: 61,92m²
Área total da unidade: 123,84m²
Gabarito: 7,35m
TO: 40%
CA: 0,8
