Meu objetivo inicial para o Trabalho Final de Graduação da FAUUSP era desenvolver o projeto de um espaço livre público que oferecesse formas variadas de lazer e recreação para a população, além de uma maior aproximação e contato com a natureza. Após pesquisas de locais pela cidade de São Paulo e demais cidades próximas, acabei me deparando com um grande vazio urbano na divisa entre os municípios de São Paulo e São Caetano do Sul, onde antes funcionavam diversas fábricas da família Matarazzo. Escolhe ao fim esse terreno como escopo do meu trabalho dada as características únicas que apresentava, além de se tratar de um brownfield, hoje tão comuns nas cidades mas que ainda um é um tema de pouca discussão e menos ainda intervenções e projetos no Brasil. Com essa escolha, meu trabalho tomou novo rumo, visto que o terreno englobava questões ambientais muito fortes (contaminação do solo pelo antigo uso industrial e córrego contaminado), barreiras urbanas (desconexão com a malha urbana e linha férrea cruzando o terreno), além ainda da existência de alguns edifícios da antiga fábrica.
Depois de estudar a região de trabalho e antigos mapas do complexo fabril antes existente, pude saber realmente os limites da área que iria trabalhar. Além do terreno da família Matarazzo, anexei ao escopo do projeto uma área ao norte, hoje também sem uso, que pertence ao município de São Paulo. Assim, definido os limites do parque, a área a ser trabalhada totalizou aproximadamente 140.000 m².
A área escolhida para a execução do projeto do parque situa-se na divisa entre os municípios de São Paulo e São Caetano do Sul, abrangendo terrenos das duas cidades, sendo que a maioria da área está localizada em São Caetano, no terreno da antiga área industrial da Família Matarazzo. Ela é definida como um trecho lindeiro à ferrovia e à cursos de águas, marcada por um tecido típico de plantas industriais, que hoje encontra-se em desatividade. Ao norte da área, encontra-se o Rio Tamanduateí e a Av. do Estado, que fazem a divisa entre São Caetano do Sul e o bairro de Vila Prudente em São Paulo além de alguns condomínios habitacionais; a leste, estão zonas mistas (habitação e comércio) e a Estação São Caetano do Sul da CPTM ; à oeste está o córrego dos Meninos, que faz a divisa com o bairro Ipiranga de são Paulo, assim como a Estação Tamanduateí de metrô e CPTM; e finalmente ao sul encontra-se a antiga linha ferroviária de Santos (hoje linha de trens da CPTM), o centro de São Caetano do Sul e avenidas importantes que ligam diversos pontos da cidade entre si e com são Paulo, além do Cingapura Heliópolis e a própria favela.
Diretrizes: O estudo apresentado permitiu um melhor conhecimento do local e o contexto em que se insere, revelando as principais questões urbanas, sociais e ambientais, e que então serviram de produto para a elaboração das seguintes diretrizes e propostas para o projeto:
- Valorização da paisagem do entorno, seja ela ambiental ou construída
- Recuperação ambiental
- Priorização da escala do pedestre e seus sentidos
- Transposição da ferrovia pelo pedestre, de forma fácil e agradável
- Transposição do Rio Tamanduateí, conectando os dois lados do rio e criando uma visual de parte de sua extensão
- Transposições do Córrego dos Meninos, permitindo a conexão das duas partes do terreno que são cortadas por ele
- Alargamento do córrego dos meninos, visando uma diminuição das enchentes, além de valorizar o mesmo e criar uma aproximação ao pedestre
- Priorização de espaços públicos de lazer e culturais
- Preservação da memória da indústria antes existente no local, enquanto patrimônio cultural e da paisagem
- Preservação dos edifícios da antiga fábrica que se encontram em melhores condições físicas estruturais, dando novos usos aos mesmos
- Demolição dos edifícios da antiga fábrica que não apresentarem boas condições
- Criação de uma malha principal de caminhos, que funcionem como uma extensão dos caminhos da cidade que adentrem o parque
- Setorização do parque, para uma melhor organização e separação das diversas atividades lá realizadas
- Criação de um projeto paisagístico visando uma qualificação dos espaços, além de conforto e visual para os usuários e valorização das construções existentes
- Criação de novas infraestruturas e integração com as já existentes
- Criação de diferentes formas de acesso ao parque
- Promoção da continuidade urbana e inserção na malha
- Adensamento diversificado da área do entorno através da mistura de usos e de usuários e valorização da mesma
Essas diretrizes culminaram no projeto do parque, que tem como pontos importantes:
- Criação da marquise um dos elementos mais marcantes, estruturadores e conector de todo o parque. Em sua cota superior há uma avenida, a ciclovia e um caminho para pedestres, e no inferior um espaço livre. A conexão entre esses dois níveis entre si e com as demais áreas do parque ocorrem por meio de rampas circulares situadas ao longo da marquise.
- Projeto de um deck que percorre um lado do parque conectando áreas e equipamentos, além de fazer a transposição da ferrovia e a aproximação com o córrego dos meninos. Nesse deck estarão restaurantes, reforçando ainda mais a idéia de estar, visual para o córrego e demais paisagem, além do uso noturno.
- Criação de uma nova estação da CPTM, que mantém relação visual com o córrego é acessada pela marquise e pelo deck
- Transformação dos antigos edifícios da fábrica para receberem novos usos. Em um dos galpões foi criado um teatro (o foyer é um edifício novo e anexo), salas multiusos e um local para eventos, e o outro galpão abrigará também algumas salas multiusos, áreas de administração e depósitos, espaço para exposições e o Museu das Fábricas Matarazzo e da cidade de São Caetano do Sul.
- Criação de áreas com equipamentos esportivos como quadras, campo de futebol, pista de cooper, ciclovia, pista de skate, quadras de bocha e malha, equipamentos de ginástica, etc.
- Criação de uma praça ao ar livre para eventos, possibilitando diversos tipos de intervenções e um uso também noturno.
