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secao 4!

Do Abrigo Emergencial à Habitação Evolutiva

Clarissa Camargo Tiseo

Fábio Mariz Gonçalves

Hoje, as chuvas e os abrigos

A questão do abrigo emergencial no momento atual de nosso país se torna cada vez mais importante. Pensar em como abrigar as populações que são afetadas por desastres naturais é uma das tarefas do arquiteto contemporâneo, uma vez que a quantidade e amplitude dos desastres naturais no território brasileiro tem aumentado de maneira nunca vista antes.

A idéia de abrigo emergencial esbarra no formatos tenda e barraca, os quais criam, em sua maioria, grandes áreas degradas ou favelas, como pode ser observado nos acampamentos para desabrigados no Haiti após o terremoto de 2010.

Após um desastre natural de grande dimensão é de extrema importância a relocação das pessoas afetadas no menor tempo o possível.

Abrigo Emergencial

Um abrigo emergencial deve contemplar algumas características: proteger o usuário dos elementos externos, preservar a dignidade, e promover e restaurar a identidade. Para um abrigo proteger o indivíduo dos elementos externos, o mesmo deve ser pensado de acordo como ambiente e clima aonde ele será instalado, além de, é claro, respeitar aspectos culturais da população que irá atender. O restabelecimento da dignidade de uma população começa com a criação de um abrigo que proporcione segurança e privacidade. As populações afetadas por desastres naturais, em sua maioria, sofre algum tipo de perda de identidade, e o desabrigado fica desorientado devido ao fato de ter perdido sua residência e todos seus pertences. A restauração dessa identidade pode ser atingida ao se proporcionar um abrigo que possa ser chamado de lar e no qual se investa tanto emocionalmente quanto em benfeitorias ao imóvel.

Habitação Evolutiva

Habitação evolutiva é um tipo de residência construída quando há restrição de caráter financeiro, um projeto mais enxuto, mas que apresente as condições mínimas para atender às necessidades da família, prevendo futuras ampliações de responsabilidade do morador, quando tiver disponibilidade financeira.

A idéia de habitação evolutiva, isto é, a habitação uni-familiar que cresce e muda de acordo com as necessidades de seus habitantes não é nova no cenário mundial, principalmente no brasileiro. O conceito do “puxadinho” é amplamente difundido no vocabulário construtivo do brasileiro.

O grande problema dessas ampliações, os famosos “puxadinhos”, é que não foram imaginados ou projetados no início da construção. A relação entre a primeira residência e suas ampliações é muito precária, sem nenhuma organização ou princípio arquitetônico.

Baseado na idéia de ampliações e evoluções, surgiu na arquitetura a idéia de projetar moradas evolutivas, isto é, projetar desde o a primeira etapa (o embrião) até todas as suas evoluções, desta vez seguindo todas as normas e diretrizes. Fornecendo, assim, uma residência de qualidade ao usuário final.

O Brasil Petrópolis

Nos últimos anos, nosso país tem sido vitimas de grandes desastres naturais, que não só deixaram muitos desabrigados, como também muitas vítimas, chamando a atenção para como nossos governos não estão preparados para lidar com a quantidade de desabrigados, frutos de chuvas, enchentes e desabamentos.

O município de Petrópoilis (local escolhido para ensaios de implantação), situado a 68km da capital fluminense, conta atualmente com uma população de 296.044 habitantes, de acordo com o censo feito pelo IBGE no ano de 2010. Desta população, cerca de 30% (10.000 pessoas) mora em 86 áreas de risco, de acordo com reportagem de um jornal afiliado à Globo. Essa população fica extremamente vulnerável no caso de algum chuva mais forte, como as dos últimos 3-4 anos.

O Projeto

Esse projeto surgiu após o estudo da situação dos abrigos emergenciais atuais e de como a população afetada por desastres naturais sofre por não ter um lugar aonde ela possa voltar à sua rotina, à sua normalidade. É importante para uma pessoa que perdeu tudo, que tenha um lugar aonde ela possa realmente criar raizes, e não somente criar uma relação afetiva, mas também possa fazer planos para aquele lugar que é seu permanentemente.

Levando em consideração esta idéia e que o projeto deveria ter em sua essência tanto a ideia do abrigo emergencial quanto a de habitação evolutiva, o conceito de pré-fabricação e/ou industrialização torna-se bem claro. Para que essa industrialização funcione o melhor possível, é necessário que todo o projeto seja pensado de maneira modular.

Após estudar a obra de Lelé, e observar como ele trabalha com a industrialização da argamassa armada, chegou-se então à solução de se criar um conjunto de peças em argamassa armada que seriam a base para todas as etapas do projeto. Essas peças seriam fabricadas de ante-mão pelo governo e estocadas para que no eventual caso de um desastre natural elas sejam transportadas para o local afetado e implantados em terrenos das prefeituras.

Até chegar na versão final do embrião e de suas evoluções passei por algumas versões de estudo. Na primeira a principal idéia era o fato de que o embrião deveria ter por volta de 20m2, e ser implantado de forma geminada. Já na segunda versão a questão da modulação apareceu com mais força, entrou nesta a vedação com “masterboard”da Brasilit, que com seus 1,2m faziam a modulação do embrião e das evoluções.

Estrutura

Toda a estrutura do projeto foi pensada em argamassa armada. Com peças leves e encaixes simples. A maior peça, a viga V1 de 3,2m de comprimento, devido seu formato não tem mais do que 115kg.

O encaixe das vigas com os pilares e com as vigas são feitos atraves de esperas metálicas chumbadas nos pilares. Essas esperas são chumbadas através de placas metálicas colocadas já na forma dos pilares nos locais exatos. Já no canteiro a espera é instalada no pilar e a viga é colocada em cima.

As placas de laje são de 60x120cm e são somente de encaixe. Sobreposta a viga secundária V3 e na mesma cota da viga principal V1. Deixando assim todo o piso em um mesmo nível sem a necessidade de um contra-piso.

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