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secao 4!

Unidade das Artes:

Exposições Didáticas no MASP

Julia Rettmann

Luciano Migliaccio

Este trabalho centrou-se na observação das três Exposições Didáticas que foram realizadas no MASP, entre 1947 e 1951.

As Exposições Didáticas eram formadas por uma sucessão de mais de oitenta painéis com imagens e textos, que ofereciam panoramas comentados de história da arte. Procuravam compor uma narrativa com um sentido educativo e aberto, que oferecesse uma ideia geral das manifestações artísticas ao longo da história humana, abarcando expressões de diversas origens no espaço e no tempo.

A experiência das Exposições Didáticas marcou o momento da fundação do Museu, em que a instituição se propôs a organizar e sistematizar de maneira clara a sua compreensão sobre a arte. A grande narrativa composta pelo MASP se construiu sobre uma vontade de abarcar a história da humanidade como um todo, mostrando a arte como um dado eternamente presente na vida humana. Constituía um filtro com critério rigoroso, mas aberto e humano, que não propunha um sentido evolucionista, unívoco e fechado.

As Exposições Didáticas funcionavam em conjunto com a Vitrine das Formas, que, situada na mesma sala, dispunha objetos produzidos ao longo da história humana independentemente de um critério cronológico. Além de exemplificar concretamente o conteúdo da parte gráfica, esse arranjo aprofundava o questionamento acerca do conceito de arte.

O MASP buscava promover uma aproximação do público com a arte, procurando fazer do Museu um espaço habitual e cotidiano. Estruturou-se como um museu de arte universal e didático : aberto, acessível e voltado para a formação do público.

Essa postura assumida pelo Museu resultava de uma discussão iniciada na Europa no pós guerra, quando se operou uma ampla revisão da cultura em crise. Nesse contexto de transformações de conceitos, observa-se a criação de museus com princípios modernos. Seu foco de atuação, antes especialmente voltado à conservação do acervo, direciona-se para o público, numa abordagem mais humana e extrovertida, que explora o potencial educativo da instituição.

No caso do MASP havia ainda um dado importante, que era uma compreensão e incorporação das potencialidades próprias à cultura brasileira. Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi, responsáveis pela elaboração dos princípios do Museu, traziam do pós-guerra italiano ao Brasil uma abertura para a variedade das manifestações locais, contra o autoritarismo racionalista. O Brasil industrializava-se rapidamente, ao mesmo tempo que abrigava no interior das suas formas de sociabilidade manifestações primitivas africanas e indígenas, como o carnaval e o vocabulário autóctone incorporado ao português brasileiro. Era nesse contraste que o casal de italianos enxergava a potencialidade brasileira, atribuindo grande importância ao universo primitivo, ao qual as mazelas da cultura ocidental ainda não teriam chegado.

Nessa perspectiva, poder-se-ia associar sem distinção hierárquica o primitivo e o moderno, o popular e o erudito, numa diluição das fronteiras construídas entre os saberes e experiências, para compor uma modernidade autêntica. Tal compreensão da cultura como um domínio único, que acolhe e valoriza de forma igual manifestações usualmente consideradas antagônicas, fundamentou o programa elaborado para o MASP. Caracterizado por uma visão abrangente, tentava incorporar forças frequentemente consideradas não artísticas.

Essa intenção manifestava-se claramente na maneira como se constituía o acervo do museu. Os investimentos de Assis Chateaubriand, mecenas do Museu, não se focavam em nenhum período ou técnica específicos. Ao contrário, prezavam pela abrangência e acreditavam na possibilidade de aproximação entre as esferas erudita e popular da cultura.

Mas o Museu não se limitava a abordar apenas as artes plásticas: abrigava todas as formas e produtos da expressão artística. Com espaço para conferencias, teatro, cinema, música, propunha-se a entrelaçar as artes num único conjunto de cultura, superando o sistema de repartição em tantas especialidades. Isso fazia dele, como queria Bardi, o Museu de Arte, tão somente isso, sem adjetivos que restringissem o seu escopo (como belas artes, arte antiga ou moderna). Bardi queria que o MASP não fosse um museu de arte moderna, mas um museu de arte, moderno. Ali todas as artes estariam incluídas, e todos os períodos assumiriam igual importância, colocados no presente.

As Exposições Didáticas sistematizavam a abordagem que orientava as atividades desenvolvidas pelo Museu.

O trabalho se organizou em algumas partes que se complementam:

A parte 1 centrou-se na observação da organização geral das Exposições Didáticas, com base no material disponível no acervo da biblioteca do MASP. O livro Pequena História da Arte, de autoria de Bardi, contribuiu significativamente para iluminar muitas das ideias discutidas no trabalho.

Quatro painéis pertencentes à primeira Exposição Didática foram analisados com maior profundidade nessa parte, na tentativa de extrair seu significado para a concepção de um olhar para a história da arte . A escolha de tais painéis deve-se ao fato de que foram retratados em imagens suficientemente nítidas, permitindo a compreensão de todo o seu conteúdo.

Reproduções desses 4 painéis foram colocadas soltas na caixa que contém o trabalho, para que também se possa olhar para elas independentemente das informações sobre o contexto e as intenções que estavam por traz da sua elaboração, da mesma maneira que era proposto nas exposições originais.

Para melhor entender a maneira como o Museu posicionava-se no âmbito cultural e social da cidade, fez-se necessária uma aproximação ao contexto da sua fundação. O foco dessa abordagem, desenvolvida na parte 2, está no cruzamento entre as experiências culturais italianas vividas por Pietro Maria Bardi e sua mulher Lina Bo Bardi e a realidade brasileira do período em que aqui chegaram.

Os arranjos expográfico e arquitetônico do MASP foram, desde o princípio, tratados como meios de comunicação. Essa experiência desenvolveu-se no edifício-sede da Avenida Paulista de 1968, em que o elemento didático foi incorporado ao projeto arquitetônico de Lina Bo Bardi.

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