O objeto deste TFG é o projeto de uma casa de torneios de pôquer, para até 500 jogadores, da modalidade Texas Hold’em, na cidade de São Paulo.
No Texas Hold’em o fator habilidade se sobrepõe ao fator sorte. Essa definição foi comprovada por estudos, como o realizado por laboratório da Unicamp, em que os especialistas, após demonstrações matemáticas e estatísticas, chegaram à conclusão que a habilidade é decisiva. Portanto, de acordo com o artigo 50 do Decreto-Lei 3.688/41, não pode ser considerado jogo de azar. Em 2010 a International Mind Games Association reconheceu o pôquer como esporte da mente, como o xadrez.
O pôquer é um jogo de informações incompletas: os jogadores não tem acesso às cartas dos adversários, e, portanto, cabe a eles tentarem completar a informação faltante. Para isso, o participante deve estudar o adversário, definindo e analisando padrões de atuação do oponente.
A leitura do livro Homo Ludens (“Homem jogador”, em tradução do latim), publicado em 1938 pelo historiador e pensador holandês Johan Huizinga (1872-1945), teve importância fundamental na concepção do projeto. O livro trata da questão do jogo como elemento formador da cultura humana.
“O jogo não é vida ‘corrente’ nem vida ‘real’. Pelo contrário, trata-se de uma evasão da vida ‘real’ para uma esfera temporária de atividade com orientação própria.” “Tal como não há diferença formal entre o jogo e o culto, do mesmo modo o ‘lugar sagrado’ não pode ser formalmente distinguido do terreno de jogo.”
O projeto pretende propiciar ao jogador a melhor transição entre a vida “real” e o “lugar sagrado”, de forma a deixá-lo o mais concentrado possível na prática esportiva. A sala de jogo foi concebida tendo como principal foco permitir que os jogadores explorem as questões psicológicas e comportamentais do pôquer.
O terreno é formado por 7 lotes entre a Av. Sumaré e a rua Dr. Homem de Melo, no Sumaré, zona Oeste de São Paulo, totalizando 7.250m². Localiza-se em Zona Mista de baixa densidade. Perto de grandes avenidas, é bem abastecido de transporte público e de infraestrutura de apoio.
A Casa do Pôquer foi estruturada em duas edificações: a principal, onde ocorrem as atividades de jogo, e a de apoio, que serve para as atividades secundárias. As duas são interligadas por passarelas.
A entrada principal se dá pelo bloco principal, na rua Dr. Homem de Melo, tanto para pedestres quanto para veículos. Neste piso, há um restaurante e um bar. Toda a infraestrutura está no bloco lateral; com isso, o foyer proporciona uma visão ampla e geral do andar, com pé-direito duplo. Essa sensação de grandiosidade dá início ao efeito da transição entre a “vida corrente” e o “terreno do jogo”.
No bloco anexo do andar do jogo, existe um pequeno contato com a vida “real” – pois estão localizados o bar, os sanitários e as lojas. A passarela representa a última etapa de transição. Após romper esta fronteira, o jogador entrou no “terreno sagrado” e está agora sob as leis do pôquer.
A sala de jogo é formada por patamares com desnível de 35cm. A chegada acontece no nível mais alto, propiciando uma visão geral do salão. No patamar mais baixo ficam as mesas da TV e será montada a mesa final.
O andar de jogo conta com espaços de apoio para organização, infraestrutura para transmissões e sala de imprensa.
No andar da torcida, o bloco anexo tem a mesma configuração do andar de jogo: bar, mesas, sanitários e as lojas. No bloco principal, a torcida pode se acomodar em camarotes, pequenas arquibancadas, na arquibancada central ou até em mesas para jogarem com outros torcedores. Terão monitores à disposição, nos quais escolherão as mesas que querem acompanhar, podendo usar seus tablets ou celulares para tanto. Os dois primeiros subsolos são de estacionamento.
No 2º. subsolo fica a entrada secundária do público apenas para pedestres, com acesso pela av. Sumaré. O 3º. Subsolo será usado por funcionários e prestadores de serviço. Com acesso pela av. Sumaré, tem entrada e saída de veículos e pedestres. Dividido em 4 blocos com usos distintos, o andar abriga ainda vestiários, infraestrutura do restaurante, da administração, do hotel e do jogo.
As formas e revestimentos propostos foram pensados para recriar o clima do jogo – e assim proporcionar ao público a tão buscada transição entre a “vida corrente” e o “terreno de jogo”.
O edifício anexo é vedado com vidros, e recebe por fora uma chapa metálica perfurada com os naipes do baralho. Este edifício é estruturado nas laterais através de painéis de concreto – intercalados com os vidros – e da caixa de escada.
O edifício principal também é estruturado nas laterais e na caixa de escada, e através das vigas estruturais da sala de jogo (que configuram os patamares). Foi criada uma casca em formato de catenária para esconder os desníveis da sala de jogo.
O bloco principal, nos pisos do jogo e da torcida, tem dimensões maiores que o restante. As paredes laterais do térreo, em uma determinada altura, são substituídas por cobogós estruturais. Esse conjunto de soluções propicia uma sensação de flutuação, destacando o “terreno sagrado”.
O pôquer vem conquistando legiões de praticantes e se solidificando como um esporte capaz de gerar muitos frutos no Brasil. Assim, nada mais natural do que projetar e construir o primeiro local propício para a prática do pôquer em São Paulo.
O espaço propicia a jogadores que desfrutem o jogo em sua plenitude. Para tanto, a Casa do Pôquer explora as questões sensoriais que esse esporte propõe.
O foyer generoso, a grandiosidade do térreo e a separação física dos outros usuários fazem com que o jogador se desprenda da vida cotidiana e adentre o mundo do pôquer, podendo dessa forma saborear o jogo sem interferências. A iluminação baixa e o formato da mesa proporcionam aos competidores a perfeita possibilidade de “ler” o adversário. E o formato do salão e suas entradas dão aos jogadores uma visão permanente de seu objetivo: a mesa final.
