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secao 4!

Intervenção em Jardins Históricos:

Parque Modernista à Rua Santa Cruz

Nathalia Dias Fonseca

Maria Lucia Bressan Pinheiro

Este trabalho parte do questionamento sobre qual é a metodologia de restauro e conservação válida no caso de intervenções em parques e jardins históricos, levando em consideração que a principal matéria que constitui tais espaços, a matéria vegetal, tem caráter cíclico. Por um lado, esta característica aponta, de imediato, para a necessidade de um tratamento específico do tema, dentro da teoria geral da preservação e da conservação; por outro, se considerarmos que também a matéria construída apresenta determinada durabilidade, de certa forma caem por terra os primeiros argumentos, relativos ao desenvolvimento de uma teoria exclusiva para o tratamento de jardins históricos.

É esta segunda tendência - de ponderação dos casos - que tem predominado nos recentes estudos a respeito do tema. Tem-se considerado a intervenção em jardins históricos a partir da óptica da teoria geral do restauro e conservação, levando em consideração as especificidades implícitas no tratamento da matéria vegetal. A bibliografia de referência busca contemplar, desta forma, tanto os conhecimentos e teorias gerais do restauro, sobretudo o de tipo arquitetônico, quanto as teorias específicas sobre o restauro de jardins, sobre as quais muito tem sido escrito nos últimos anos, principalmente após a elaboração da Carta de Florença (1981).

Como forma de facilitar o entendimento e o desenvolvimento do trabalho, dividiu-se a bibliografia em três diferentes frentes: 1) teorias gerais do restauro e da conservação; 2) textos e experiências relativos às intervenções em jardins históricos; 3) bibliografia específica sobre o conjunto da Casa Modernista e o parque que a contém.

Passa-se por teóricos como Ruskin, Viollet-le-Duc, Camillo Boito e Gustavo Giovannoni. Cesare Brandi é outro teórico de destaque nesse contexto: a leitura de sua Teoria da Restauração (1963) configurou-se como um ponto crucial no desenvolvimento do tema aqui em estudo.

Em complementação, a bibliografia de Giovanni Carbonara oferece ricas referências às diversas correntes teóricas do restauro e seus estudiosos. Em seu livro Avvicinamento al Restauro. Teoria, Storia, Monumenti (1997), um de seus capítulos é dedicado ao restauro de jardins históricos.

Sobre a bibliografia específica, cabe mencionar Maria Adriana Giusti e sua obra Restauro dei giardini. Teoria e storia. O entendimento de seu trabalho é muito pertinente ao estudo aqui realizado, mostrando-se muito completo. É importante levar em consideração que as obras estrangeiras estudadas, apesar de oferecerem elementos e conceitos básicos sobre a intervenção em jardins históricos, o fazem levando em conta o cenário europeu de atuação. O Manual de intervenção em jardins históricos, do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) oferece uma primeira tentativa de aproximação do tema no cenário brasileiro.

Como suporte à teoria, foram escolhidos alguns estudos de caso, revelando o aspecto prático da intervenção. Surge, além disso, a indagação de como transferir esse conhecimento aos espaços verdes modernos realizados, respeitando o valor singular que assumem na memória da população e considerando novos usos e apropriações desses espaços.

Tendo isso em vista, nota-se a adequação do Parque Modernista como objeto de intervenção, não só pelo caráter de modernidade que tem, mas também pela mudança de usos que o conjunto - arquitetura e jardins - sofreu ao longo do tempo.

O Parque Modernista, localizado à Rua Santa Cruz, 325, Vila Mariana, São Paulo-SP, trata-se de um conjunto de quase 13.000 m² constituído pela residência do casal Warchavchik e filhos, diversos anexos menores e uma ampla área ajardinada.

Entender a linguagem tanto do arquiteto Gregori Warchavchik quanto de sua esposa Mina Klabin Warchavchik - responsável não só pelo projeto dos jardins da Casa Modernista como também de outras casas projetadas por seu marido - se faz imperativo para uma intervenção respeitosa e acurada no conjunto.

A tese de mestrado de Tatiana Perecin - Azaleias e Mandacarus: Mina Klabin Warchavchik, paisagismo e modernismo no Brasil – configura-se como uma das maiores contribuições relacionadas à trajetória de Mina e seu papel de transição no paisagismo brasileiro - do estilo eclético ao moderno.

A segunda parte do trabalho diz respeito ao projeto de intervenção nesse jardim histórico, completamente enraizado e fundamentado na etapa anterior de levantamento. Vale lembrar que se trata de um parque público, devendo contemplar e responder a todos os requisitos mínimos que um espaço desse tipo solicita.

Inicia-se esta segunda parte com o levantamento das espécies existentes no jardim da Casa Modernista, buscando compreender o repertório paisagístico de Mina e as funções que ela atribuía a cada tipo de vegetação.

Busca-se, assim, resgatar o “espírito do lugar” - termo de René Pechère -, ou seja, intende-se retomar a linguagem de Mina e o “espírito” daquele jardim residencial, cujos aspectos essenciais não podem ser perdidos. Além disso, realizam-se os estudos e análises competentes a qualquer tipo de projeto paisagístico. Por fim, cabe mencionar o esforço de considerar as condições de manutenção e de exequibilidade do projeto.

Sabe-se que as questões a serem consideradas são muitas e que só serão bem resolvidas por meio da atuação de profissionais de diversas áreas. É somente com a interdisciplinaridade e a dedicação total de profissionais qualificados ao tema, que será possível realizar avanços significativos.

É necessário, para tal, que a temática dos jardins históricos passe a ser tratada com maior naturalidade e aproximação; figurando, com maior frequência, nas discussões relativas ao patrimônio histórico e nas notícias e informações que chegam à população em geral.

Mais do que uma resposta final, o presente projeto de intervenção configura-se como um exercício e uma tentativa de aplicar as teorias referentes à intervenção em jardins históricos. É fruto de interesse e curiosidade pessoal pelo tema e objetivou demonstrar as dificuldades enfrentadas e as possibilidades entrevistas em seu tratamento.

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