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secao 4!

Reabilitação do edifício:

proposta de uma faculdade de tecnologia no antigo conjunto hoteleiro da Rua Mauá

Vinícius Murad Constâncio Pereira

Carlos Augusto Mattei Faggin

“A conservação de um monumento antigo não significa a conservação de uma vitrina de museu, mas a integração do antigo na vida de hoje. Neste sentido, um edifício não tem que ser isolado, monumentalizado, ao contrário, tem que ser humanizado.”
Lina Bo Bardi
(Crônicas de arte, de história, de costumes, de cultura da vida: arquitetura, pintura, escultura, música e artes visuais. Caderno olho sobre a Bahia n.3, Diário de Notícias. Salvador, 21 de set. 1958)

A região da Luz, como centro da malha ferroviária que propiciou o desenvolvimento de São Paulo, teve a função de pólo irradiador dos eixos de mobilidade da cidade, e conseqüentemente ganhou importância fundamental na estruturação da metrópole. Com o decorrer do século XX, a mudança do caráter produtivo da cidade e o conseqüente deslocamento de seu núcleo econômico, essa região viu seu papel de centralidade decair cada vez mais, culminando em um período de evidente deterioração.

Soluções de recuperação deste ambiente urbano têm sido estudadas há décadas, mas apenas nos últimos anos, o poder público começou a caminhar no sentido de retomar e revitalizar a região. Os primeiros movimentos se deram através da transformação de seus edifícios mais simbólicos em equipamentos de cultura, como Pinacoteca, Sala São Paulo, Museu da Língua Portuguesa. Essas intervenções pontuais foram seguidas da criação do Projeto Nova Luz, um plano bastante impactante, a ser desenvolvido com apoio da iniciativa privada, que promoveria a requalificação das quadras do bairro de Santa Efigênia. O projeto foi bastante criticado, apontado como pobre na sua capacidade de resolver a complexa problemática social apresentada.

Este trabalho se insere nessa agenda de reavivar o espaço urbano central, propondo a gradual criação de um campus de ensino tecnológico, fazendo uso da estrutura existente e subutilizada. No início do século passado, tempo de seu apogeu, a região era um dos principais núcleos de atividade científica e cultural, com importantes instituições de educação ali instaladas, como a Escola Politécnica, o Liceu de Artes e Ofícios e a Escola de Farmácia e Odontologia. Essa identificação da região com a educação também foi se diluindo na segunda metade do século.

Tomando como partido a concentração de estruturas de ensino tecnológico já existente na área, e a larga e acelerada expansão pela qual esse tipo de educação passa no país, é aceitável acreditar na viabilidade desse campus.

O que é desenvolvido, de fato, no trabalho é o projeto de uma das unidades do campus. Sob a premissa de fazer uso da estrutura existente, através da conversão de um edifício de valor simbólico para a região, foi escolhido um dos prédios que compunha o chamado conjunto hoteleiro da Rua Mauá, que confronta os fundos da Estação da Luz.

O sobrado, que se estende pela rua, viu toda a massa de edifícios vizinhos ser demolida para a construção da nova estação de metrô da linha 4. Foi poupado exatamente por seu simbolismo histórico. Um segundo edifício a ele conectado é incluído para compor o conjunto. O plano ainda abrange uma proposta para a área pública nascida dessa demolição.

O prédio data da última década do século XIX, e ao longo de toda sua vida abrigou dois hotéis: Federal Paulista e do Comércio. É um dos poucos remanescentes de um conjunto de edifícios hoteleiros de características próximas, que se estendida pela Rua Mauá, emoldurando o edifício da estação.

Ao criar o programa do novo uso, ciente das dificuldades técnicas que poderiam surgir na inevitável profunda reorganização do espaço de um edifício construído em técnicas tradicionais, para abrigar essa nova função, procurei escolher cursos cujas instalações representassem menos impacto. Foram, então, escolhidos cursos nas áreas de Tecnologia da Informação e Artes Digitais, por suas necessidades por oficinas e laboratórios específicos não serem muito complexas.

Por ser o programa mais complexo do que o edifício, com seus mais de cem anos, pode abrigar, foi proposto um segundo, a ser implantado na área remanescente da construção do metrô. Este novo edifício deve ocupar o espaço posterior ao existente, seguindo sua simetria e respeitando suas proporções, mas ao mesmo tempo sendo estruturalmente independente e formalmente diverso daquele. A intenção é de que o conjunto seja mesmo lido como dois volumes independentes, apenas com dois pontos de ligação elevados, ocultos a primeira vista. Busca-se, de fato, o contraste entre novo e antigo.

Esta adição toma a forma de um pavilhão longilíneo, suspenso sobre a praça, servindo também como abrigo para seus usuários e para o acesso ao metrô. E como boa parte do subsolo da quadra está comprometida pela presença de instalações deste, o edifício deve ter os pontos de apoio reduzidos. Para que seja compatível com a bilheteria que ocupa a área imediatamente posterior ao prédio dos hotéis, ele é concebido como um edifício-ponte, com um grande vão-livre nesta área sobre a bilheteria.

Também o problema do isolamento entre a praça e a Rua Mauá, separadas pelo edifício dos hotéis, é sanado quando no térreo deste é implantada uma galeria comercial, que possibilita esta conexão e, ao mesmo tempo, se beneficia dela.

O prédio da Rua Mauá deve abrigar parte dos espaços didáticos da faculdade, além de toda a parte administrativa, de representação acadêmica e áreas de apoio e serviços. Enquanto o novo receberá espaços maiores ou mais complexos, como biblioteca, auditório e laboratórios.

Tratado como parte de um plano mais longo e complexo, é esperado que o projeto atue como um componente de estímulo à revitalização econômica, social e ambiental de sua vizinhança, sem representar um agente excludente de qualquer forma.

Ficha técnica:

Área total do projeto: 8.270m2
Área do edifício existente: 3.745m2 (45%)
Área do edifício proposto: 4.525m2 (55%)
Área total da faculdade: 6.755m2 (82%)
Área total da galeria comercial: 1.515m2 (18%)
Número de cursos previsto: 8
Número de alunos previsto: 1.150

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