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secao 4!

patrimônio e reconstrução:

intervenções em são luiz do paraitinga

Alexandre Nakano Marques

Beatriz Mugayar Kühl

A partir de um interesse pelo conjunto histórico da cidade de São Luiz do Paraitinga, este trabalho procura entender essa área composta por um grande número de construções consideradas de interesse histórico e intervir nela. Seu centro histórico guarda até hoje os ideais de desenho urbano da época de sua fundação.

Situada a aproximadamente 170 km da capital paulista, entre Taubaté e Ubatuba no Vale do Paraíba, a cidade guarda uma preciosa cultura popular que é compartilhada entre seus habitantes e seus turistas.

O trabalho de análise se tornou ainda mais desafiador por causa da tragédia ocorrida nessa cidade pela cheia do rio Paraitinga, em razão das chuvas no início do ano de 2010, o que gerou a inundação da cidade e, consequentemente, perdas de alguns edifícios do conjunto histórico, além de inviabilizar certos serviços públicos em razão dos danos ocorridos no local.

As intervenções de recuperação da cidade se tornaram parte do novo cotidiano dela, revelando a importância de um olhar de todos para as questões de patrimônio histórico.

Escolheu-se a divisão deste trabalho em cinco blocos que se complementam:
1 – São Luiz do Paraitinga: breve histórico;
2 – A disciplina de Restauro como apoio na reconstrução;
3 – Análise de intervenções;
4 – Testemunho da reconstrução;
5 – Diretrizes para uma intervenção.

No primeiro bloco, é apresentada a análise da história da cidade de São Luiz do Paraitinga e os motivos para a sua criação. Dentro desse bloco, o levantamento de informações históricas para se entender a morfologia urbana e as dinâmicas econômicas da cidade auxiliam na leitura e proposição na questão das intervenções no patrimônio histórico da cidade.

São discutidas na segunda parte deste trabalho as teorias de restauro e como elas podem ser encaradas como importantes ferramentas de análise e intervenção em preexistências. Recorre-se à leitura de importantes nomes no estudo e na crítica do campo do Restauro, dentre eles Françoise Choay e Ascención Hernández Martínez, além de documentações que sintetizam diretrizes de como intervir nesses casos, como a Carta de Veneza de 1964 adotada pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos). Esse estudo teórico ajuda a entender e criticar a maneira como está sendo levada a reconstrução de São Luiz do Paraitinga.

A reconstrução idêntica de um edifício está sendo considerada uma saída para se intervir na cidade em questão, gerando um resultado concluído como ruim no campo da preservação, pois esse “falso histórico” se passa como original, mas não gera resultados satisfatórios de composição e muitas vezes distorcem a antiga realidade por meio de supressões ou mesmo mudanças no projeto original. Conclui-se que a saída com melhor resultado é na linha do restauro crítico-conservativo, que avalia a camada histórica envolvida, mas busca intervir de forma a garantir a distinguibilidade entre os períodos históricos, a mínima intervenção nos monumentos, e a possibilidade de retrabalhar as intervenções e o monumento em caso de necessidade disso em um futuro.

Na terceira parte, é realizado um estudo comparativo de diversas intervenções em outros lugares do país e do mundo a fim de comparar a teoria do restauro com a prática realizada por diversos arquitetos com o intuito de solucionar o desafio da inserção no construído. Essas análises ajudam na construção de uma leitura de intervenções já realizadas em patrimônio e procuram entender as posturas que fizeram com que o projeto analisado obtivesse êxito ou não.

Um relato sobre as impressões acerca da reconstrução e do elencamento de algumas questões importantes para discussão fazem parte da quarta parte do trabalho. Procura-se estudar nesse bloco a falta de um plano de ação unificada entre todas as esferas interessadas nas intervenções da cidade, além da falta de um maior acordo sobre métodos de ação na cidade e formas unificadas de se intervir em casos semelhantes.

Ainda nesse bloco, são analisados dois projetos já realizados após as inundações: a nova biblioteca pública e a reconstrução da Capela das Mercês. Nesses dois projetos, pode-se ver certo distanciamento dos órgãos de patrimônio em relação à teoria do restauro.

Na nova biblioteca, o projeto tenta gerar um edifício com distinguibilidade, entretanto se prende à forma e ao ritmo de caixilhos do antigo, gerando um projeto compromissado em manter uma aparência histórica, mas que tenta se mostrar como contemporâneo.

O caso da Capela das Mercês é visto como grave, uma vez que refaz a antiga de forma idêntica, tentando distinguir a intervenção da antiga construção por meio da visualização do antigo embasamento de taipa que foi coberto por um painel de vidro na parte interna da igreja, mas que está causando a prisão da umidade da taipa, podendo levar a uma deterioração do material.

Na última parte, busca-se propor um exercício de projeto que toque nos pontos discutidos durante todo o trabalho, a fim de aproximar a discussão sobre as intervenções no âmbito projetual. É escolhido um terreno na Praça Dr. Oswaldo Cruz, conhecida também como Praça da Matriz, que apresentou uma extensa destruição nessa quadra escolhida.

Na análise das possibilidades de projeto, concluiu-se que um projeto de caráter público para o terreno seria o mais acertado pelas características de centralidade do local e da comunicação do fundo de lote com o rio Paraitinga. Os programas traçados para o local foram uma escola de música, que foi tratada apenas por meio de diretrizes de projeto, e uma sala de espetáculos, esta tratada como objeto de projeto.

Ao final, projetou-se uma sala para 198 pessoas e possibilidade de aumento de público pela abertura lateral do palco, desembocando em uma praça interna do lote, praça essa utilizada tanto no para a escola de música, quanto para a sala de espetáculos. O objetivo principal foi a resolução de questões como a relação do novo edifício com os antigos, a distinguibilidade do novo edifício e a tentativa de leitura do projeto proposto de acordo com as necessidades da cidade de São Luiz do Paraitinga.

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