O presente trabalho tem como objetivo estudar as cozinhas domésticas e seu contexto dentro da casa brasileira, isto é, como este ambiente se relaciona com os demais. A pesquisa teórica abrange três esferas:
a) aproximação pela antropologia e os mitos de origem do fogo e arquitetura, mostrando o caráter universal do tema, em que o fogo marca a passagem do mundo natural para o mundo cultural. Foram utilizadas duas referências: os mitos gregos de Prometeu (versão de Hesíodo, Ésquilo e Platão), e a obra "Mitológicas" (especialmente o primeiro volume, "O Cru e o Cozido") de Claude Lévi-Strauss, em que aborda a mesma questão através do estudo dos mitos ameríndios;
b) aproximação histórica, que não pretende organizar de maneira sistemática e cronológica uma "evolução das cozinhas", mas sim ressaltar passagens e pontos de ruptura que influenciaram a configuração do ambiente para o que conhecemos como cozinha hoje em dia e, além disso, mostrar que dentro da cultura brasileira a cozinha é um ambiente coberto por preconceitos (um ambiente de submissos, lugar de escravos na obra "Casa Grande & Senzala" de Gilberto Freyre, depois empregadas domésticas, mulheres e, hoje, mercadoria de luxo que nada tem a ver com a necessidade cotidiana);
c) e, por fim, uma aproximação social, em que relaciona as funções da casa com o cotidiano, demonstrando que é no dia a dia que construímos e produzimos não só bens materiais, conhecimento, etc, mas, também, onde construímos as relações humanas.
Há, ainda na pesquisa, uma relação de projetos de referência selecionados e organizados em ordem cronológica, são eles:
a) casas: Residência Castor Delgado Perez (1958/1959, São Paulo, Rino Levi), Casa Paulo Mendes da Rocha (1964, São Paulo, Paulo Mendes da Rocha), Residência Ariosto Martirani (1969, São Paulo, Vilanova Artigas), Casa em Aldeia da Serra (2001, São Paulo, MMBB), Residência no Butantã (2004, São Paulo, Eduardo de Almeida) e Casa 14 Bis (2006, Botucatu, Pôla Pazzanese).
b) edifícios: Edifício Louveira (1946, São Paulo, Vilanova Artigas), Edifício Havaí (1983, São Paulo, Antônio Carlos Barossi, Jaime Cupertino e José Sales Costa), Edifício Jaraguá (1984, São Paulo, Paulo Mendes da Rocha e equipe) e Edifício Santa Adelaide (1998, São Bernardo do Campo, Apoena Amaral, Carlos Ferrata, Eduardo Ferroni, Kátia Melani, Moracy Amaral e Pablo Hereñu).
Além da pesquisa, foi desenvolvido um projeto de edifício residencial no bairro de Pinheiros, com o objetivo de dar continuidade a discussão,isto é, qual o lugar da cozinha na casa brasileira contemporânea - sempre amparado pelas conclusões e descobertas que foram feitas através do estudo teórico. Este projeto deve ser visto como continuidade da discussão que, mais do que propor soluções fechadas, pretende levantar questões e dúvidas. Procurou-se integrar a cozinha com os demais ambientes de estar da casa, como a sala e a varanda, e tornar a mesa de comer o centro da casa.
Edifício Residencial em Pinheiros, terreno de 1589m2 localizado entre Rua Padre João Gonçalves e Rua Fradique Coutinho.
Projeto de 32 unidades habitacionais distribuídas em dez pavimentos, um subsolo com vagas de estacionamento, unidades comerciais no térreo e programa de uso condominial na cobertura.
Há variação tipológica entre as unidades: três quartos em duplex, 3 quartos em simplex, 2 quartos em simples (duas variações) e um quarto em simplex.
