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secao 4!

Parque Fluvial Urbano da Eclusa de Pedreira

Eduardo Pompeo Martins

Alexandre Delijaicov

O projeto para o Parque Fluvial Urbano da Eclusa de Pedreira é um desdobramento dos Estudos de Pré-viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental do Hidroanel Metropolitano de São Paulo. A FAUUSP, através do Grupo de pesquisa Metrópole Fluvial – GMF – realizou em 2011 a articulação arquitetônica e urbanística desse estudo.

Trata-se do projeto de um parque fluvial urbano localizado na barragem de Pedreira – que marca o limite entre a represa Billings e o rio Pinheiros – em São Paulo. Dentro do âmbito do projeto para o Hidroanel Metropolitano de São Paulo, a construção de um canal lateral com eclusas a fim de permitir a navegação fluvial entre os dois corpos d’água motivou a implantação do parque.

Parte da motivação em desenvolver este projeto específico (e não algum outro dentro do mesmo estudo) se deve a duas visitas técnicas realizadas, uma à Usina Elevatória de Traição (que guarda semelhanças com a Usina de Pedreira) e outra ao próprio sítio da Barragem de Pedreira. As primeiras fotografias que apresento ilustram essas visitas.

Os principais objetivos do projeto, alguns deles motivados pela própria visita, são o de permitir o acesso público à orla fluvial dos principais rios urbanos de São Paulo na forma de parques fluviais urbanos, permitir acesso ao interior da usina de pedreira e, finalmente, permitir o reconhecimento do sítio da Barragem de Pedreira. Isso se daria na forma de um circuito de visitação que permite o conhecimento das diversas estruturas de grande porte que compõem parte da rede de infraestruturas metropolitanas de São Paulo (Usinas termoelétricas, hidrelétricas, eclusas etc.), além do reconhecimento do próprio sítio em que estão inseridas.

O lugar é marcado pela existência da barragem e se caracteriza pela intensa transformação de seu território em um período muito específico da história da cidade (entre as décadas de 1920 e 1940), em que a demanda por energia elétrica crescia intensamente. Nesse sentido, entende-se que o acesso público a esse local levanta um tema de extrema relevância para toda a cidade. O conjunto formado pelo canal do rio Pinheiros, as usinas, a barragem e a represa são um testemunho importante deste período. Nesse sentido, a intensão de garantir legibilidade à paisagem torna-se uma questão relevante por permitir melhor entendimento da própria história da cidade. Justamente essa relação com o território faz com que o parque adquira importância metropolitana.

Outro conceito norteador do projeto é a distinção estabelecida por Milton Braga entre infraestrutura urbana e infraestrutura metropolitana. As primeiras amparam a vida habitual na cidade de forma a integrar o tecido urbano e os principais serviços de âmbito local. Já as infraestruturas metropolitanas são aquelas que garantem articulações na grande escala, como sistemas de transporte de alta capacidade, transmissão e geração de energia elétrica etc., mas que, em geral, causam impacto local negativo por onde passam, provocando fraturas no tecido urbano. O sítio da Barragem de Pedreira é marcado pela presença de diversos elementos ligados à rede de infraestruturas metropolitanas.

Nesse sentido, uma operação fundamental para garantir acessibilidade ao local é a própria costura do tecido existente, atualmente fragmentado, por meio de passarelas de pedestres (transposições), novas ruas com amplos passeios, além da criação de praças de acesso ao parque na confluência dos principais caminhos, existentes e propostos.

Um circuito de visitação se sobrepõe a estes novos caminhos criados, marcando o perímetro de uma “clareira” identificada no local, formada pelas usinas, pela barragem, pelas pontes e pelo canal lateral com eclusas a ser implantado. Este circuito apresenta três momentos principais: um trecho em via elevada, que permite o reconhecimento daquelas estruturas de funcionamento ininterrupto (usinas) sem atrapalhar seu funcionamento habitual; um segundo trecho, sem balizamentos, que percorre a crista da barragem; e, por fim, um terceiro trecho no interior do parque propriamente dito, em forma de calçadão ao longo do canal lateral.

O canal lateral é formado por uma primeira eclusa, que vence um desnível de 7m; uma bacia de espera e manobra de 400x50m, além de uma segunda eclusa de 19m. O espelho d‘água formado entre as duas eclusas se converte no principal corpo d’água do parque, valendo-se do potencial paisagístico dessas estruturas.

Uma “praia urbana” se conforma no interior da clareira, como uma ilha, convertendo-se no local de maior densidade e vida do parque. Um recinto conformado pela topografia construída a seu redor e dotado de equipamentos de lazer ligados à água valem-se do potencial da mesma em aglutinar usos e sentidos para o local. A praia confronta-se com a paisagem definida pela presença marcante das usinas, estabelecendo uma desejável relação de convívio entre infraestrutura e urbanidade.

Dentre as estruturas visitadas ao longo do percurso, uma delas recebeu um projeto mais detalhado, na escala do objeto arquitetônico. Um passadiço elevado permite a entrada ao interior da Usina Elevatória de Pedreira, revelando sua espacialidade sem interferir em seu funcionamento cotidiano. A estrutura metálica instala-se como uma estrutura parasita no edifício, garantindo o respeito à tríade da preservação de edifícios de valor histórico: distinguibilidade, reversibilidade e mínima intervenção. Ao posicionar a nova estrutura em sobreposição exata à faixa inferior de caixilhos existente, buscou-se não alterar a composição de sua fachada. Desta maneira, a semelhança e reconhecimento com a Usina de Traição não é perdida, além de garantir a associação desta obra com outros edifícios do mesmo período. Assim, preserva-se o sítio como um importante testemunho do projeto de retificação e reversão do rio Pinheiros, da atuação da Cia. Light como um todo, bem como a relação da cidade com seu território em um momento fundamental para a formação da metrópole.

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