logofau
logocatfg
secao 4!

A influência das estratégias passivas de projeto no desempenho energético do edifício e as falhas no processo de certificação nacional

Eza Silveira Martins Renattini

Roberta Consentino Kronka Mülfarth

O homem em sua incessante busca por formas de saciar suas necessidades, não se preocupou, a princípio, em considerar essencial para a sobrevivência humana, a convivência harmoniosa em relação à natureza. A discussão em torno da degradação do meio ambiente e de suas respectivas consequências ganhou maior relevância a partir da crise do petróleo na década de 70.

A degradação do meio ambiente e a exaustão dos recursos naturais é uma consequência da evolução e do crescimento da humanidade. Por isso, a análise do impacto da atividade humana é de extrema importância para a manutenção do planeta para as gerações futuras. A elaboração de estudos sobre o desempenho energético das edificações tem como objetivo demonstrar a importância e melhorar a eficiência da arquitetura.

Com a crise do petróleo na década de 70 e o esgotamento do modelo de geração hidroelétrico nacional, a pesquisa por novas fontes de energia se fez necessária. No entanto, o custo elevado e o longo período para implantação dessas fontes, fez com o incentivo às políticas de conservação de energia fosse a melhor estratégia de combate imediato ao problema. O problema com o abastecimento de energia em 2001 desencadeou a elaboração das politicas nacionais no âmbito energético. Também foram redigidas normas sobre o desempenho térmico de edifícios habitacionais, além de regulamentos de cunho voluntário para incentivar a eficiência energética.

Entretanto, a política brasileira ainda está longe de ser adequada. Os níveis e parâmetros da legislação atual são facilmente atingíveis e a não obrigatoriedade dos regulamentos reduz a eficácia das medidas. Ainda inexiste uma legislação específica que regule e controle a política energética nacional, além de incentivar pesquisas no âmbito da eficiência energética, bem como financiar e baratear sistemas e tecnologias eficientes. Quanto ao setor de edificações, a legislação deveria definir parâmetros obrigatórios de conservação energética como um dos quesitos na aprovação do projeto por parte da prefeitura, além de criar um órgão que regule e controle o consumo de energia nos edifícios.

No Brasil, o setor de edifícios é responsável por grande parte do consumo de recursos e o maior consumidor de eletricidade. Sendo assim, o arquiteto tem um papel essencial na busca por um desenvolvimento mais sustentável, através da elaboração de projetos baseados no conforto ambiental. As estratégias passivas de projeto têm um papel importante na eficiência energética do edifício, e o uso de sistemas artificiais deve ser utilizado de maneira complementar. Através da análise da bioclimatologia de São Paulo, foram levantados dados sobre quais estratégias deviam ser mais exploradas para promover maior conforto aos usuários de acordo com o clima local.

A gama de parâmetros que devem ser estudados no desenvolvimento de um projeto sustentável é muito ampla. A avaliação conjunta desses aspectos reflete diretamente na escolha das estratégias de projeto e, consequentemente, no desempenho das edificações. A determinação não está condicionada apenas ao fator climático e ao entorno imediato, mas também a função do edifício, no que diz respeito ao seu uso e ocupação.

O presente trabalho tem a finalidade de apresentar de que forma as estratégias passivas de projeto influenciam no desempenho energético das edificações. Além disso, esse estudo pretende apresentar como a preocupação desde a etapa de projeto, maximiza a potencialidade do edifício sustentável, possibilitando uma eficiência muito superior à de edifícios onde estão presentes apenas equipamentos eficientes. Por fim, busca-se avaliar a precariedade da legislação nacional no que diz respeito à conservação de energia e as falhas dos processos de certificação nacional.

Para demonstrar de que maneira as soluções de projeto podem contribuir para maximizar o desempenho do edifício, analisei o edifício comercial Duquesa de Goiás, projetado pelo escritório Paulo Bruna Arquitetos Associados, e localizado no bairro do Morumbi, na zona sul da cidade de São Paulo. O edifício levou em consideração desde a etapa de projeto o conforto ambiental dos usuários e a redução do consumo energético da edificação.

A orientação das fachadas principais na direção norte-sul, a forma em “H”, a vegetação do lote e do entorno, o envidraçamento das fachadas e os brises metálicos foram projetados de maneira a favorecer a ventilação e a iluminação do edifício, minimizando o consumo de eletricidade. O planejamento desse edifício se baseou principalmente nas estratégias passivas de projeto, utilizando dos sistemas artificiais como elementos secundários. O resultado foi além da conservação da energia na edificação, propiciando também conforto aos usuários, o que proporciona melhoria na saúde dos funcionários e aumento na produtividade dos escritórios.

O edifício comercial Duquesa de Goiás é um exemplo de projeto arquitetônico a ser seguido pelos grandes incorporadores imobiliários da cidade, nas busca por produzir uma arquitetura mais sustentável, que degrade menos a natureza e privilegie o bem estar dos usuários. Essa edificação difere dos edifícios comerciais existentes em São Paulo, não pelo custo do edifício, mas sim pela redução no consumo de energia e pelos benefícios gerados aos usuários.

No caso do processo de certificação de edifícios no Brasil, a etiquetagem, de caráter voluntário, serve de diferencial competitivo entre as construtoras, e de incentivo à construção de edifícios sustentáveis. No entanto, por se basearem ou nas normas americanas ASHRAE ou em avaliações de pós-ocupação, os indicadores de conforto ambiental nacionais são falhos, por não analisarem quantitativamente o desempenho do edifício e por não estarem adaptados a realidade climática brasileira. Para uma certificação coerente é preciso um aprofundamento das metodologias de avaliação da eficiência das edificações, a criação de uma base de dados nacionais e a formulação de uma política abrangente, rigorosa e obrigatória em relação a níveis de consumo em edifícios e ao impacto do setor da construção civil sobre o meio ambiente.

slideshow image

If you can see this, then your browser cannot display the slideshow text.

 

topo