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secao 4!

Déjà Vu |

Projeto urbano em Aldeia de Barueri, SP

Fábio Takayama Garrafoli

Fábio Mariz Gonçalves

Este trabalho pretende abordar uma questão essencial para o desenvolvimento das cidades: a importância do desenho urbano na transformação do território. Embora fundamental, este tema é atualmente negligenciado pelos agentes que promovem a produção do espaço urbano – poder público e mercado imobiliário –, propagando práticas geradoras de segregações e exclusões sociais. Deter-se então, no projeto da “vida urbana que queremos” possibilitará extrair diretrizes para a construção de cidades menos desiguais e mais humanas.

O que podemos acompanhar no momento atual são áreas que antes ofereciam poucos atrativos imobiliários, mas que por um processo recente de transformação do espaço urbano e valorização fundiária, começam a apresentar fatores interessantes para a implantação de empreendimentos. Estes locais estão necessariamente “destinados” ou “condenados” a tornarem-se “mercadoria” na lógica da especulação ou dos interesses estritos do mercado imobiliário? Quais estratégias de projeto urbano e gestão territorial podem ser utilizadas pelo Estado com vistas ao cumprimento da função social da propriedade em uma região?

Para compreender alguns aspectos das dinâmicas que incidem sobre o território urbano e seus citadinos, mostra-se necessário delimitar uma área para melhor identificar e observar os fatores que modificam a estrutura da cidade. O bairro Aldeia de Barueri, localizado no município de Barueri – integrante da Região Metropolitana de São Paulo e situado a oeste da capital paulista – mostra-se um caso interessante, pois possui uma importante carga histórica ao mesmo tempo em que passa atualmente por um intenso processo de transformação urbana e valorização imobiliária.

A Aldeia de Barueri, originária de um aldeamento jesuíta do séc. XVI, bairro de atmosfera interiorana e fisicamente afastado do centro de Barueri, mas que agora se encontra no caminho do maior vetor de expansão da cidade. Barueri cresce para leste em direção à Alphaville por meio do loteamento residencial e de negócios Bethaville, região alvo de diversas intervenções do governo municipal. Justamente “entre alpha e beta” localiza-se o pacato bairro, condição esta que deverá ser alterada rapidamente, pois a construção de uma nova ligação viária entre o centro de Barueri e Alphaville atravessará a Aldeia, modificando drasticamente sua inserção no município.

Dentro deste cenário complexo de interesses, antagonismos, desequilíbrios e transformações, este trabalho busca conhecer os processos em curso na Aldeia de Barueri e arredores para então imaginar um produto final possível, uma configuração urbana que promova o desenvolvimento sem denegrir a memória, onde elementos díspares integram-se a um todo apreensível e a arquitetura constrói um espaço de riqueza de apropriações e sentidos.

O projeto desenvolvido procura justamente uma maneira de que o arranjo espacial dos espaços públicos do bairro não seja enfraquecido pelas transformações promovidas pelos novos empreendimentos imobiliários, visando a manutenção da vitalidade comercial e social hoje observada em suas ruas. Para tanto, este projeto concentra-se no desenho dos espaços de uso coletivo, pois nestes espaços residem o caráter e a identidade do bairro. Este desenho porém, não pode vir descolado de um planejamento urbano que reafirme a vocação habitacional e comercial do bairro, propondo políticas públicas que impeçam a gentrificação da área e a perda da rica composição social e arquitetônica que hoje caracterizam a Aldeia de Barueri.

Partido: Déjà Vu

O bairro de Aldeia de Barueri é pontuado por uma série de vestígios de seu passado. Estes fragmentos de memória urbana abrangem séculos de ocupação humana no local e são elementos presentes nas lembranças e relatos de moradores.

Desconexos e degradados, estes fragmentos, apesar de constituírem a qualidade distintiva deste bairro em relação aos demais, são pouco valorizados dentro da paisagem urbana existente. A proposta de intervenção foi então desenhada justamente no sentido de recuperar e integrar estes souvenirs dentro de uma nova configuração espacial. Ao projetar uma nova espacialidade através de um exercício de memória das espacialidades que já foram vivenciadas nesta região, provoca-se, num primeiro momento, um sentimento de estranheza e confusão. Isso se deve ao fato de que o novo arranjo do território já estava de certa forma presente anteriormente na paisagem do bairro. A sensação de déjà vu é portanto um desdobramento da percepção desta nova estrutura em que os vestígios foram organizados, unificando os diversos tempos do bairro em um único território.

Arquitetura, Cidade e Natureza

Reestruturar o bairro Aldeia de Barueri consistiu no exercício de optar por um modo de construção do ambiente urbano que retome o papel original da cidade enquanto espaço de qualidade ambiental promovedor da reunião da diversidade humana. Busca-se a partir da reincorporação dos rios ao território urbano, sustentar a água como elemento fundamental ao cotidiano. Ao recuperar a associação entre cidade e natureza, abre-se a possibilidade de criação de lugares de uso múltiplo, capazes de fortalecer a coletividade ao despertar a multiplicidade de usos e apropriações.

O conjunto de intervenções propõe a manutenção da leitura distinta entre Aldeia de Barueri e sua vizinhança, através do restabelecimento do antigo traçado do rio Tietê. Desta maneira, a colina onde está implantado o bairro histórico irá configurar-se como ilha urbana, exaltando a singularidade de Aldeia e recuperando a importância que os locais de transposição fluvial detinham na vida cotidiana local, dado que o ato de atravessar o rio sempre foi um referencial simbólico e lúdico dos moradores.

Todas as medidas adotadas possuem objetivo comum: substituir a cidade hostil ao pedestre e marcada pela segregação socioespacial por uma cidade mais humana e democrática, onde prevaleçam os espaços de encontro e convivência. Este projeto urbano deseja que esta nova configuração urbana possua qualidade ambiental aliada à vitalidade das ruas e dos espaços de uso coletivo, promovendo a urbanidade.

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