Desde o inicio, o que motivou o trabalho foi o desafio de propor um novo uso a um edifício existente, focando nos edifícios de uso industrial já em desuso, localizados na cidade de São Paulo.
Na busca pelo objeto de estudo deste trabalho foi feita uma vasta pesquisa dos edifícios industriais da cidade que estivessem abandonados, degradados e segregados da vida da cidade. Foram encontrados alguns exemplares, mas o que mais se destacou foi o conjunto de edificações do antigo Complexo do Gasômetro, também conhecido como antiga Casa das Retortas.
A antiga casa das retortas se localiza no bairro do Brás, na quadra delimitada pelas ruas da Figueira a oeste, do Gasômetro ao norte, Ministro Anacleto a leste e Maria Domitila do sul.
Foi analisada a área de intervenção a fim de definir um programa que se encaixasse no local de modo a aproveitar o potencial do existente e conferir uma nova identidade ao local. A análise foi feita observando-se a escala do entorno e a escala do edifício. Constatou-se que se trata de área fortemente comercial, com ênfase ao comercio de vestuário: artigos de couro, calcados, enxoval e vestuário popular, que atrai pessoas de outras partes da cidade, de outras cidades e de outros estados e que garante ao bairro uma circulação intensa de pessoas e veículos em todos os dias da semana. Quanto ao edifício, constatou-se que o local está intimamente ligado à história da cidade, por se tratar de um ícone da arquitetura industrial do final do século XIX, e que possui um potencial incontestável, dada sua singularidade e expressividade de seus espaços.
O terreno que abriga os edifícios encontra-se fechado, com muros a sua volta. A proposta vai no sentido de criar um espaço público: abrir esta área, antes limitada para o uso de poucos, para a população que transita pela região. Esta medida a é tida como primordial antes mesmo da escolha do programa, pois julga-se que o local somente gozará de vida urbana e se integrará completamente ao entorno se configurar-se como espaço público.
Para a escolha do programa foi levada em conta a vocação histórica e atual da região: antigo centro industrial da cidade que abrigava, entre outras, as indústrias têxteis e que hoje concentra parte importante do comercio de roupas e artigos de vestuário em geral, o local possui grande potencial para abrigar usos relacionados ao tema da moda.
O terreno de projeto contava inicialmente com a seguinte situação: além dos edifícios históricos, outras edificações posteriores (na sua maioria galpões) ocupavam a área. O estado de conservação dos edifícios históricosnão era bom e estas edificações adicionais estavam comprometendo ainda mais aquelas de valor histórico.Com isso, decidiu-se remover estas construções e manter somente aquelas com algum valor histórico no terreno, e trabalhar com a inserção de novos elementos que proporcionassem valor ao conjunto através da conversa do antigo com o novo sempre tentando respeitar o bem antigo e garantir a reversibilidade da intervenção.
A distribuição do programa proposto no terreno se deu apos diversas idas e vindas de propostas feitas para o local, sempre pensando primeiro no existente em como este atenderia as necessidades e no novo em como este se encaixaria. O conjunto final apresenta o mesmo gabarito da situação inicial, pois nenhuma adição excedeu a altura máxima presente nos edifícios, que é a da cumeeira do volume principal, nem a (18m), ou a da chaminé externa (28m).
O terreno, que inicialmente se apresentava fechado, com muros a sua volta, e portanto com controle de acesso, na proposta se torna uma praça pública, ocupada com equipamentos culturais. A tentativa foi a de proporcionar um espaço publico de qualidade para a região e tentar estabelecer um dialogo com o Parque Dom Pedro e com os demais equipamentos públicos e culturais do entorno.
Ideia de criar edifício único veio de um estudo feito com a inserção de volumes entre os edifícios existentes, sempre alinhados com o limite do terreno, que resultou em um jogo de planos com texturas diferentes em um jogo de “novo e velho” que me agradou muito e que se mostrou pertinente com a motivação inicial de estudar a mistura das linguagens e dos materiais.
A implantação do edifício, em forma de “U”, acompanha o alinhamento do terreno a leste, o alinhamento da Rua Maria Domitila ao sul e uma terceira ala fecha a forma, conformando uma praça secundaria, que funciona como pátio para a escola, com espaços sombreados e bancos.
O bloco localizado mais ao sul compreende todas as salas de aula, o mais ao norte, a biblioteca e o que interliga os dois, as circulações verticais e os sanitários.
Optei por remover a cobertura existente para poder crescer com o edifício para cima inserindo elementos novos. Um volume tipo caixa para abrigar a galeria expositiva (batizada de galeria superior) foi adicionado sobre o existente. Elevei esta caixa para criar uma espécie de vão entre os dois volumes, antigo e novo, do edifício, e neste vão inclui um pavimento, batizado de intermediário, inteiro envidraçado que possui uma varanda que percorre todo o perímetro do prédio. Por achar que ainda precisaria de mais área e que poderia explorar mais as pré-existências, decidi criar uma nova galeria, suspensa, dentro do volume principal das retortas, conectada com o edifício do museu através de uma rampa que a liga a galeria superior e uma escada que a liga ao térreo, próxima ao restaurante.
A decisão de implantar a área destinada a eventos no edifício principal das retortas se deu pela configuração do edifício existente: já desprovido do maquinário para produção de gás que uma vez ocupou seus espaços internos, o que restou foi uma grande casca vazia ideal para abrigar um espaço com uso flexível. Houve a inclusão de uma cobertura entre o volume o edifício e o muro de arcos.
