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secao 4!

Intervenção no Complexo Ferroviário de Louveira

Flávia Pavani

Beatriz Mugayar Kühl

O Complexo Ferroviário de Louveira foi escolhido como foco deste trabalho pelo seu estado de abandono, principalmente no ambito cultural, em meio a um núcleo urbano ainda crescente e cheio de vida.

Pela sua importância histórica e grande espaço ocupado na cidade, não poderiam ser feitas mudanças meramente pontuais. O Complexo deveria ser tratado como um todo se relacionando com o entorno imediato, economia, necessidades culturais e de lazer, e se tratando especificamente da cidade de Louveira, que tem forte atividade logística, não poderia deixar de estar interligado a outras cidades.

Assim, buscou-se diversas escalas e usos compatíveis, valorizando o bem e buscando uma rentabilidade mínima.

Para chegar às diretrizes e ao projeto, foi necessário buscar bases, muitas vezes em arquivos, uma vez que é rara a bibliografia sobre a cidade e sobre a estação.

Foi feito um levantamento na Prefeitura no arquivo de aprovação de loteamentos para verificar o crescimento urbano; outro no Patrimônio da União para verificar informações de domínio, usos e alguns relatórios; e outro na biblioteca da Companhia Paulista, principalmente nos relatórios de 1870 a 1916 (data de inauguração da linha e ano seguinte da data inscrita no edifício da estação), nos quais foram encontradas algumas informações sobre a construção da gare e de um edifício principal de mesma medida do atual, além de outras que compuseram um fichamento anexo. Outras bibliografias também foram consultadas.

Já as plantas, cortes e elevações necessárias como base, precisaram ser levantadas, o que foi realizado junto com o relatório fotográfico. De uma forma geral os edifícios estão bem conservados, exceto os armazéns (foco da escala de projeto), e permitem facilmente a reativação como estação ferroviária de passageiros, uso este que estava em discução política atualmente como extensão até Campinas da linha São Paulo a Jundiaí. Dentro dessas discuções, pretende-se também estender a linha turistica que faz o mesmo trajeto.

O projeto procurou levar em conta vários aspectos da cidade. Um dos fatores mais marcantes na economia de Louveira que acaba definindo seu perfil é a logística. Para que haja desenvolvimento da cidade e participação maior desta na economia do estado, aumentando ainda mais seu potencial, é necessário que haja um transporte alternativo ao rodoviário, com eficiência e preço justo. Por isso, propõe-se a reabilitação da ferrovia. Esta decisão é ainda complementada pelas audiências públicas supracitadas. Para tal é necessário restaurar a antiga estação que, por seu tamanho e pela demanda, não precisará ser ampliado, apenas readequados os usos.

A transposição da ferrovia também é tema, criando duas passagens subterrâneas para pedestres, uma no espaço dos armazéns, e outra no fechamento da via que atravessa os trilhos. A avenida teve seu início desviado para o final do parque, onde há passagem subterrânea para carros. A ligação dos dois lados da região também pode ser feito de carro pelo viaduto da rodovia.

Outros fechamentos e deslocamentos de vias também foram propostos a fim de criar um parque ao redor do complexo. Ele utiliza o rio Capivary e os recursos topográficos para valorizar o bem edificado, e procura respeitar as edificações existentes mesmo sem qualquer valor histórico, além de atender as necessidades da população de um espaço na área central para descanso e lazer, diferente das praças existentes que possuem características de praças de igreja, englobando inclusive as estruturas existentes (Estádio e Hípica). Atende também ao turista que chega à cidade pela via férrea e valoriza o complexo.

A agricultura e o turismo regional a ela atrelado, são os outros fatores econômicos de grande peso na cidade. Levando isso em conta, foi locada uma feira permanente com produtos da região em um dos armazéns. O uso representa a mescla da organização pública com o comércio privado e traz solução para que todos tenham acesso ao bem sem que seja necessário altos investimentos públicos. Desta forma, o bem tombado pode tornar-se minimamente rentável.

Da mesma forma, no armazém maior, foi instalado um restaurante, que busca trazer a comida típica das fazendas. No espaço entre eles foi deixada uma área para estar ou usos culturais como apresentações ou exposições, e outra área maior deu lugar à passagem subterrânea com arquibancadas que também permitem o uso cultural sob os trilhos.

Para a cabine de sinalização e residências, assim como para a estação, não foi elaborado um projeto, mas definiu-se um uso específico: para a primeira, um pequeno acervo aberto ao público geral, e para a segunda, defendendo a necessidade de habitação popular próxima aos centros urbanos, foi mantido o uso, apenas com o restauro das fachadas.

Resumo técnico

Dentro desse conjunto, foi aprofundada apenas uma das interferências: a do espaço dos armazéns, com dois novos corpos de edifícios e cobertura que buscaram harmonia sem imitar o passado, constituindo um espaço gastronômico e cultural. Os edifícios novos são em estrutura metálica com vedações ou em placas de argamassa sanduiche com tratamento térmico e acústico ou em vidro. A mesma forma de estrutura metálica e argamassa foi utilizada para os novos pisos, tanto dentro dos armazéns quanto nos edifícios novos. A cobertura em concreto une o conjunto formando um bloco de tamanho semelhante ao da estação com a gare.

No bloco da feira permanente, procurou-se trabalhar com o imaginário de uma feira livre, ou seja, o contato com o ambiente externo mesmo que somente visual a partir dos janelões, e a cobertura bastante elevada que fornece uma certa liberdade visual e de ar.

A região central da cidade apresenta-se carente de áreas que favoreçam o estar e apreciação, assim como espaços para apresentações grandes ou pequenas, como moda de viola.

Despreza-se também a presença do Rio Capivary, que deu o nome inicial da estação, seguindo as tradições do urbanismo português que utiliza o rio apenas como fundo de lote ou fundo do núcleo.

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