O tema abordado por este trabalho final de graduação envolve o projeto de reabilitação do Complexo Sanatorial Vicentina Aranha, localizado na cidade de São José dos Campos, interior do estado de São Paulo.
O sanatório para tuberculosos é um tipo de edificação que surgiu em função da demanda por um espaço de cura aos doentes baseado no tratamento higieno-dietético. Através do pensamento de médicos e teóricos, moldou-se como deveriam ser estes espaços e como os doentes deveriam agir durante o tratamento para obter a cura. Porém, a partir da metade do século XX, com a descoberta de medicamentos e sua aplicação para a cura, estes edifícios se viram esvaziados de seu significado, às vezes sendo demolidos, transformados em hospitais completos com ampliações ou sendo completamente abandonados.
A proposta deste trabalho é, além de propor uma nova ocupação para este sanatório, também discutir a questão da intervenção em edifícios existentes e na sua relação com a malha urbana consolidada em seu entorno. Serão levantadas questões de como será a interação das pessoas com este antigo-novo espaço e de como manter presente sua importância histórica, documental e de importância para o patrimônio cultural da saúde.
Para isto, o Trabalho Final de Graduação iniciou-se com um maior foco na parte histórica para assim embasar o trabalho de projeto. Durante o processo, buscou-se um entendimento e uma contextualização do papel do arquiteto responsável pelo projeto, a questão do programa de necessidades para esta categoria de hospital, um hospital de isolamento, e também um contexto histórico da formação da cidade e sua condição na época da fase sanatorial.
Após esta contextualização, expõem-se informações sobre a construção e funcionamento do sanatório Vicentina Aranha e também sua atual condição. Dado o fato de que se encontra abandonado, no sentido que não possui um uso atual, e ser um bem preservado através das leis estaduais e municipais, foi de extrema importância o estudo acerca da teoria do restauro e o posicionamento de como se intervir em elementos de importância histórica e cultural, um estudo que apontou diversas ideologias correntes para tal tipo de intervenção. Foi necessário pontuar essas diversas vertentes para um entendimento global que assim indicou o caminho escolhido para a intervenção em um dos edíficios do complexo sanatorial, com a intenção de estabelecer diretrizes de intervenção para todo o complexo. É importante ressaltar que sempre foi pensado que a proposição do novo uso para todo o complexo deveria ser o mais coerente possível com suas características. Tal posicionamento defende que mínimas intervenções no edifício escolhido deveriam ser necessárias, a fim de não descaracterizá-lo, porém adequações e atualizações são sempre necessárias e ademais, ambientes que haviam sido descaracterizados anteriormente se mostraram necessários de uma alteração.
Ao final, o trabalho conclui-se com este projeto de intervenção no pavilhão central do complexo, mais como um projeto de diretrizes para posicionar uma linha de intervenção para todo o complexo. O novo uso pensado, um Centro de Inclusão Social pelo Trabalho, ainda se correlaciona com o uso destinado à saúde que havia anteriormente, mas também introduz um outro viés, com a questão do trabalho, e assim também garante espaços para usufruto de toda a comunidade.
É importante pensar que, da mesma forma que os diversos pavilhões estão inseridos na área do complexo sanatorial, este está inserido na cidade, e assim, da mesma forma que se propõe diretrizes de ocupação e de caráter ambiental para a área, a real necessidade é de que mais práticas similares estejam presentes em toda cidade. De nada importa definir questões ambientais sem se considerar as questões sociais e os problemas existentes na cidade. É como Kronka destaca: “Com o crescimento excessivo das cidades, e o consequente aumento dos problemas sociais, como criminalidade, aumento das áreas pobres e agravamento do trânsito, as pessoas acabaram se isolando, anulando a principal função da cidade que é de convivência. Um dos principais problemas deste fenômeno é que se perde a oportunidade de motivação dos cidadãos, um dos aspectos principais na base da formação de uma sociedade mais sustentável.” [KRONKA, 2002. p. 68]. Pode-se então afirmar que, para se alcançar uma prática correta nas questões ambientais, é necessário um equilíbrio em relação também às questões sociais, já que estas muito estão atreladas a questões econômicas presentes nas cidades. É necessário que se pare de pensar a cidade como um espaço de exploração mercantil, que também se desdobra na exploração do trabalho humano e se configura atualmente em uma sociedade de consumidores. Deve-se pensar que se trata de uma sociedade de cidadãos, na qual se permita que o trabalho possa ser um meio de união e colaboração entre pessoas, que proporcione sanidade física e mental, assim provendo qualidade de vida, o que leva a uma sociedade mais equalitária e solidária.
Para o processo real de transformação de todo o complexo, devem ser analisadas suas condições por uma equipe multidisciplinar e com participação da sociedade, para se levantar questões nos mais diversos campos e assim estabelecer um plano de intervenção global. A proposta deste trabalho apenas aponta um dos caminhos possíveis para a reabilitação de uma área, que possui características significativas para a cidade de São José dos Campos, seja por sua presença física em uma região central, seja por sua memória e identidade tão forte com a história de formação da cidade. Assim, parece ser uma decisão correta tanto a proposta de manutenção desta identidade com o campo da saúde, como também não negar a possibilidade de abertura deste espaço a toda comunidade, permitindo uma retomada de laços e colaboração entre as pessoas em projetos coletivos e socialmente conscientes.
