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secao 4!

sem mim

Giovana Freguglia Aiello

Myrna de Arruda Nascimento

Bases Fundamentais

O trabalho se sustenta na tradução de formas de linguagem, através da produção de associações entre elementos de naturezas diversas. A linguagem, seja ela verbal ou não-verbal, estabelece relações que produzem a comunicação; e a concepção de uma lógica de linguagem (semiótica), parte do princípio de que o controle do raciocínio seja dado pela associação de idéias e completado pelo controle da experiência, exercido pela percepção (Ferrara, 1993).

A semiose se insere no trabalho ao traduzir o processo de produção de significados, que se dá por meio das relações entre signo, objeto e interpretante, apresentando os modos de elaboração, de funcionamento e de construção de significados processados em distintas experiências de recepção de vários fenômenos percebidos individual ou coletivamente.

Linguagens Selecionadas

A linguagem coreográfica permite o contato com uma rede de sistemas de comunicação, cuja significação é resultante da percepção simultânea de signos e da representação a eles conferida pelos espectadores. Ela possibilita o envolvimento dos receptores com linguagens de ordem corporal, sonora, lírica, cenográfica, entre outras, que são trabalhadas analogicamente em conformidade com o release coreográfico, a fim de que a mensagem do espetáculo seja transmitida, estabelecendo comunicação entre a composição coreográfica (emissor) e o público (receptor).

Os bailarinos e os diversos elementos cênicos (cenário, iluminação, figurino e trilha sonora) são encarregados de transmitir os signos, artifícios projetados que se completam formando uma linguagem homogênea. A cenografia, ao definir a configuração espacial do palco também estabelece condições para que o coreógrafo, através de seu elenco, explore-o com a própria presença dos corpos. A plasticidade produzida pela movimentação, intenção e interação destes também é produto do figurino e da trilha sonora.

O objeto gráfico projetado mantém uma condição de exploração conceitual, formal e sinestésica com o espetáculo, que permite a tradução dos conceitos abstratos das linguagens verbais e não-verbais do fenômeno artístico. Através de um processo de semiotização, o projeto gráfico se sustenta em elementos sígnicos traduzidos em imagens que correspondem a um código adotado para servir de mediador entre o objeto e o receptor. Para que um código traduza uma imagem com mais eficiência, esta deve conter em si, elementos que façam parte do repertório deste receptor ou que, por algum motivo, estabeleçam relações com este repertório. (Pignatari, 2008). Assim, a proposta do objeto-livro só se consolida quando associada ao espetáculo coreográfico: à sua temática e, aos seus movimentos.

Coreografia “sem mim”

Rodrigo Pederneiras criou, em 2011, para o Grupo Corpo, um release complexo e profundo. Buscou inspiração no mar de Vigo, na Espanha e atribuiu como título da coreografia uma referência às letras de cantiga de amor medievais do poeta galego-português Martín Codax, nas quais são baseadas as músicas, cujo eu-lírico feminino se lamenta da ausência do amado. Foram orquestradas com viola caipira e percussão, mesclando ritmos galegos, africano lundu e Bach.

Em muitos momentos, a movimentação dos bailarinos se remete às ondas, como uma alusão ao mar que leva os amados para longe e é feito com a água dos choros das amadas que estão a dançar. Esta comparação também está presente no cenário, que, como uma benção da natureza à dança que a homenageia, envolve o elenco com uma rede. O figurino, uma malha justa cor da pele com grafismos tribais e florais, tatuam os corpos com cores discretas e quentescontrapondo-se à iluminação.

O espetáculo se sustenta em diversos elementos sígnicos que possibilitam indicar diretrizes para a elaboração de um objeto que o represente.

Proposta

A inserção deste conteúdo semiótico no trabalho está na criação de signos visuais que representem a coreografia ao longo do objeto-livro considerado, portanto, como um objeto sígnico. A proposta é que ele traduza a linguagem do espetáculo “sem mim” em elementos gráficos.

O projeto enfoca três variáveis principais: a superfície do papel (base que dá o suporte para o funcionamento do objeto-livro; a volumetria (elementos tridimensionais); e a impressão gráfica (marcas dos desenhos e das tipografias espacializadas nas páginas).

Partido Projetual

Tendo partido do encarte do CD da trilha sonora da coreografia, o projeto teve como princípio a criação de uma peça gráfica que fosse considerada um lobjeto-ivro e não um suporte para o CD, o que determinou uma reestruturação conceitual, formal e sinestésica do mesmo. As características das músicas foram determinantes para a associação de cada página a uma canção.

As linguagens presentes na coreografia (de ordem corporal, sonora, lírica, cenográfica, entre outras) foram desmembrandas gerando signos que seriam as marcas gráficas reproduzidas ao longo do volume. Estas unidades de desenho foram trabalhadas de forma a criar composições portadoras de significados e, como resultado, assumem diferentes sentidos conforme aparecem em diferentes tipos de organização e em diferentes situações no espaço definido pelas páginas.

A abordagem do projeto no campo da arquitetura e do design foi tornada mais evidente com a inserção de recortes bidimensionais e de pop-ups tridimensionais.

O pouco uso de cor (o azul do mar e o cinza da solidão) teve como premissa a valorização das marcas gráficas, das aplicações bidimensionais e dos pop-ups tridimensionais.

Nomenclatura

Com um objeto gráfico que traduz a coreografia “sem mim” projetado, sentiu-se a necessidade de lhe atribuir um nome capaz de transmitir a amplitude de sua abordagem sígnica. Mais que um objeto-livro, o produto final do trabalho é uma “espectrografia”. A nomenclatura foi conferida através da associação entre os termos “espetáculo” e “grafia” e se associa também ao termo “espectro” aludindo à “transmissão, absorção e reflexão da coreografia na escrita”.

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