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secao 4!

Córrego Afluente – Nascente Urbana

Projeto de Arquitetura de Infra-estrutura Fluvial Urbana

Guilherme Cassis de Araujo Moreira

Alexandre Delijaicov

“Nascida nas colinas de nível intermediário (745-750m), a cidade de São Paulo se expandiu segundo um eixo Leste-Oeste, na vertente esquerda do Rio Tietê, saltando de colina em colina e, eventualmente incorporando baixos terraços (725-730m) e várzeas dos afluentes. Aos poucos a cidade conquistou algumas das colinas da vertente direita do Tietê, enquanto a Cantareira (900-110m), por diversas razões, restou a escapo da onda urbana, da mesma forma que a grande planície do Tietê.”
AB’SABER, A. N. Geomorfologia do sítio urbano de São Paulo. São Paulo: Instituto de Geografia, FFLCH/USP, 1957.

Seja pela importância do transporte fluvial ou por interesses sociais os rios estiveram presentes por séculos na vida de São Paulo, mesmo que a instabilidade de suas várzeas limitasse a ocupação urbana próxima às águas. As várzeas eram necessariamente vazios espaciais, preenchidos por qualquer uso que a cidade pudesse lhe dar.

O crescimento urbano acelerado do século passado, instrumentado pela especulação imobiliária e aliado à escolha do rodoviarismo como meio de transporte principal, teve como conseqüência a ocupação dos fundos de vale com grandes avenidas, ora sobre os rios canalizados, ora em suas margens, confinando-os em seus leitos menores. A cidade desceu das colinas em direção às várzeas “mal enxutas”, isolando, porém, seus rios da vida urbana.

É nessa várzea mal enxuta que o trabalho se desenvolve, dividido em duas partes: a análise do ambiente urbano da nascente do córrego, não apenas na relação do espaço com a água, mas também com a bacia que o compõe. Para tanto, serão observadas duas situações particulares: as principais nascentes do córrego Água Branca e do Pirajussara, determinando semelhanças e diferenças dessa questão em uma área central e outra periférica da metrópole. O segundo momento será da aproximação projetual, tendo como tema de projeto a arquitetura de infra-estrutura urbana fluvial, e como objeto, a nascente do córrego Pirajussara, principal afluente do Rio Pinheiros. O trabalho pretende reforçar a idéia do rio como eixo estruturador primordial das grandes cidades através de sua transformação em canal navegável e de sua integração ao ambiente urbano de forma clara e distinta, conduzida por interesses públicos, tanto econômicos como sociais.

A partir deste recorte espacial - córregos afluentes e nascentes urbanas -, pretende-se analisar sua presença na estruturação da metrópole e na produção do tecido urbano e as potencialidades que se apresentam para o resgate desses espaços como endereços e memórias da cidade. Três conceitos-chave enquadram o olhar para o foco determinado: lugar, fresta e infra-estrutura urbana fluvial.

Lugar.

“O espaço, enquanto agente e produto da ação social, é registro cultural. Registra em sua morfologia habitada, o sítio que foi, a ação que o construiu e as possibilidades de sua reinvenção.”
SANTOS, Milton. Espaço do Cidadão. São Paulo: EDUSP, 2007

A produção do espaço habitado define situações diferenciadas na paisagem. Além de promover a diversidade espacial, é também origem de desigualdades, definindo lugares e posições. Se as diferenças na paisagem são necessárias na constituição de espaço capazes de suscitar o sentimento de pertencimento, identidade e inclusão, quando seu desenvolvimento ocorre por fatores excludentes sua relação com os indivíduos que o constituem é hostil. O homem estabelece uma relação conflituosa com o meio em que habita e a conquista do espaço é apenas parcial. O lugar não se constitui enquanto cenário de encontros e nem o entorno urbano como paisagem, contexto, local de produção e formação cultural. Carente de elementos que o estruturem, como urbanidade, imagem e memória, o espaço torna-se um ”espaço sem cidadãos”.

Fresta.

“Uma forma só tem sentido por sua estreita ligação com seu espaço interior (vazio-pleno)”.
CLARK, Lygia. Lygia Clark da obra ao acontecimento. Somos o molde. A você cabe o sopro. São Paulo: Pinacoteca, 2006

Pretende-se aqui aproximar a nascente urbana do conceito de fresta. Em uma escala distanciada, o rio como um todo pode ser considerado uma fresta, ou uma fenda. Porém, na escala do homem, essa fenda só é facilmente reconhecida próxima à nascente do rio, onde a bacia aparece claramente nos horizontes que ela cria. Nos lugares em que a cidade se volta de costas para o rio, não apenas a água é deixada de lado, mas também o horizonte. Perdendo a relação com o vazio espacial que o rio apresenta, a cidade deixa de se enxergar, diminuindo a relação que o indivíduo cria com o lugar.

Infra-estrutura Fluvial Urbana

Dentro do conceito de infra-estrutura, a infra-estrutura fluvial aborda, no seu desenvolvimento, aspectos referentes ao saneamento ambiental, a mobilidade urbana e ao transporte público. Alguns conceitos contidos na infra-estrutura urbana fluvial são fundamentais para o seu desenvolvimento na Metrópole de São Paulo, tanto pelas características geomorfológicas do local quanto pela conformação histórica do território urbano. Serão desenvolvidos aqui os conceitos de canais estreitos e rasos, transporte de cargas e cidade-canal

A partir dos estudos de caso desenvolvidos e das referências levantadas, pretende-se aqui elaborar uma proposta de reurbanização da sub bacia da nascente do córrego Pirajussara, propondo um canal navegável como eixo primordial da estruturação urbana. Em um primeiro momento, a análise partirá do córrego todo, desde sua nascente, no município do Embu, até sua foz junto ao Rio Pinheiros, buscando definir as relações existentes com a cidade e com as outras infra-estruturas urbanas, além da sua própria sistematização. Em seguida, o recorte delimitará a micro bacia da principal nascente do córrego, relacionando-o não apenas com a infra-estrutura urbana, mas também com equipamentos públicos e habitações. O conceito norteador nesse momento é a infra-estrutura fluvial urbana, tomando como referência base o projeto do Hidroanel Metropolitano de São Paulo.

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