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secao 4!

O espaço e o comportamento do usuário

Jennifer Wen Lin Liao

Roberta Consentino Kronka Mülfarth

O homem e o espaço

A psicologia ambiental defende que o homem é muito mais do um simples observador no espaço, mas também que ele interage com o meio ambiente, com o qual está em intercâmbio constante, ativo, sistemático e dinâmico. Em outras palavras, o usuário está sempre trocando informações com o espaço, seja através dos aspectos físicos ali existentes, seja através das relações sociais presentes. Assim, não se trata do homem e o meio, mas sim o homem no meio (Rapoport, 1978).

Os estudos concluem que a arquitetura dificilmente pode gerar ou determinar o comportamento dos usuários, seus temperamentos, sua satisfação, interação e atuação de uma forma direta, mas pode facilitar, inibir ou catalisá-los. Rapoport (1978) mostrou que existem efeitos indiretos que influenciam na maneira como as pessoas percebem o ambiente, alterando suas expectativas ou dificultando seu objetivo (Rapoport, 1978).

Almeida (2001 apud Fonseca, 2004) afirma que no primeiro momento, as relações sociais e funcionais definem a arquitetura. No segundo momento, a arquitetura passa a moldar essas relações.

Onstein (1995 apud Fonseca, 2004) mostra quatro itens importantes na relação entre homem e espaço:
1. O projeto do ambiente construído (e não construído), o uso e a sua operação;
2. As condições de conforto ambiental: iluminação, ventilação, térmica, ruído, insolação;
3. As características do uso, da função do edifício e
4. As relações pessoais ali existentes.

O termo percepção segundo Kuhnen (2011) corresponde à maneira como o usuário experimenta o espaço, tanto seus aspectos físicos como sociais, culturais e históricos. Esse processo está ligado ao fluxo de informações e estímulos que o usuário troca com o ambiente aliado à capacidade do seu cérebro de processá-los. Essas informações estão relacionadas tanto com as interações sociais quanto aos aspectos físicos do espaço, além de depender da cultura e personalidade de cada indivíduo (Cheng 2010; Rapoport 1978; Gifford 1997; Lee, 1976).

O processo de construção da percepção ambiental é complexo e dinâmico (Kuhnen, 2011). O cérebro internaliza constantemente imagens do exterior criadas a partir do ambiente físico e reinterpretadas pelo histórico, cultura e aspectos sociais da ocasião. Assim, as pessoas criam filtros na realidade em que vivem. O observador seleciona, organiza e confere significado ao que está sendo observado o que lhe permite estruturar e identificar o ambiente (Kuhnen, 2011)

A maneira como o usuário percebe o espaço reflete em seu comportamento. A conduta espacial, na maioria das vezes, não é verbalizada e nem consciente (Pinheiro & Elali, 2011). Um ser humano se comunica no silencio, através de gestos, posturas, distâncias interpessoais, orientação corporal, toque entre outros, ou seja, estamos sempre nos comunicando (LaFrance & Mayo, 178 apud Pinheiro & Elali, 2011).

ESTUDOS DE CASO - conclusão

Durante as observações dos estudos de caso, alguns comportamentos comuns foram encontrados. Primeiramente, a ideia de Beltrame & Moura (s.d.) de que um pátio com uma função especificada e clara é muito mais rico, mostrou-se verdadeira. No Arquidiocesano, a maioria preferiu ficar no poliesportivo, sentada na arquibancada observando os outros colegas jogarem nas quadras disponíveis. O pátio de voltado para contemplação foi menos usado. No E. E. Professor Ennio Voss, as crianças do Ensino Fundamental II preferiram ficar do lado do pátio em que a corda era distribuída e todos brincavam no mesmo pátio, mesmo que nada os impedisse de mudar de local. No Colégio Presbiteriano Mackenzie, pode-se observar uma aglomeração de alunos ao redor das mesas de ping pong e das quadras esportivas.

Outro aspecto interessante foi a relutância que os usuários apresentaram para se apropriarem dos pátios menores e sem função definida. No caso do Arquidiocesano, os pátios secundários eram apenas locais de passagem. No E. E. Professor Ennio Voss, pequenas áreas de vegetação ao redor e no meio do pátio tinham um uso muito indefinido: não se sabia se eram parte do pátio ou destinados à contemplação apenas e, por isso, permaneceram sem uso.

Houve no geral, uma preferência por locais cobertos, talvez devido à sensação de proteção, mas, em todos os casos, apesar do tempo não chuvoso, a maioria dos alunos preferiu se sentar no espaço coberto, em geral, próximos às paredes. O Pátio Central do Arquidiocesano foi mais um lugar de passagem do que um espaço de estar: as crianças preferiram ficar sentadas nos corredores. Provavelmente, isso ocorreu devido à grande dimensão do pátio e à sensação de isolamento que se pode ter ao sentar-se no local. Talvez também haja influencias sociais, pois como ninguém estava sentado no pátio, portanto, fazê-lo não deveria ser aceitável naquele contexto.

Uma característica observada nas escolas foi a agitação das crianças até o 3º ano, aproximadamente, enquanto que as crianças mais velhas preferem andar ou ficar conversando em grupos. Essa animação das crianças talvez exigisse um projeto de pátio com um perfil menos acidentado, porém que incentivasse a criatividade na hora de brincar, como mencionou Arbogast, Kane, Kirwan & Hertel (2009). Isso foi um diferencial nos pátios do Colégio Presbiteriano Mackenzie, onde diversas brincadeiras eram incentivadas, desde ping pong à futebol, basquete e brincadeiras com cordas. Pode-se perceber um entrosamento maior entre os alunos, que ao invés de se fecharem em pequenos grupos, buscavam se reunir em grupos maiores para usufruir das brincadeiras. Foi interessante perceber, por exemplo, que no pátio do Ensino Fundamental I não havia uma divisão territorial clara entre as diferentes brincadeiras que ocorriam simultaneamente.

No caso dos intervalos em que várias turmas participavam simultaneamente, percebeu-se que as crianças tendem a ficar com os outros colegas da mesma idade. No caso do Arquidiocesano, alguns alunos sentavam nos corredores do pátio central enquanto os outros ficavam no poliesportivo. Poucos grupos de alunos escolhiam passar o intervalo em outros espaços da escola, que também estavam disponíveis.

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