O presente trabalho trata da implantação de equipamento de turismo para jovens no bairro da Vila Madalena, em São Paulo, levando em conta os aspectos já consolidados desta tipologia e os pontos a serem explorados visando a difusão da mesma. A escolha do local, do programa e do partido arquiteônico estão intimamente relacionados e buscam a melhor solução para o edifício e para o local onde está inserido.
Uma prática ainda incipiente no Brasil, a hospedagem em hostel se caracteriza pelo caráter comunitário do equipamento. Dormitórios, cozinha e banheiros são compartilhados entre os hóspedes, incentivando o intercâmbio cultural e a troca de experiências entre jovens de diferentes localidades que se encontram em situação de viagem. Dessa maneira, aprende-se a respeitar as peculiaridades de cada povo e a conviver em sociedade, reforçando o espírito de amizade, o sentimento de solidariedade e o desejo de viajar.
Segundo a Embratur, um hostel, ou albergue como também é conhecido, consiste em um "Meio de hospedagem peculiar de turismo social, integrado ao movimento alberguista nacional e internacional, que objetiva proporcionar acomodações comunitárias de curta duração e baixo custo com garantia de padrões mínimos de higiene, conforto e segurança”, (EMBRATUR. Projeto dos Albergues da Juventude. Rio de Janeiro, 1987).
O primeiro contato dos fundadores do movimento no Brasil deu-se em 1956, na França, quando um casal de brasileiros, Yone e Joaquim Trotta, que estudavam em Paris, conheceram o movimento e resolveram trazer a idéia ao Brasil. Em 1965, foi instalado o primeiro albergue da juventude na cidade do Rio de Janeiro, com o nome de Residência Ramos, com 36 leitos, que funcionou entre 1965 e 1973. Em 1966, foi instalado um albergue da juventude na cidade de São Paulo. A década de 1990 representou ao alberguismo brasileiro o período de consolidação do movimento.
Um hostel deve estar localizado de modo a proporcionar aos hóspedes facilidade em localizá-lo, acessá-lo e deslocar-se a partir dele. Para isso, deve estar em um ponto relativamente central, próximo a vias que ofereçam transporte público, serviços, atividades culturais e entretenimento.
A Vila Madalena está situada no distrito de Pinheiros, na região oeste do município. É o ponto final da linha Verde do Metrô, onde é servido também por um terminal de ônibus e táxi. Além da grande concentração de pontos de interesse cultural, gastronômico e de entretenimento, permite fácil acesso aos clássicos pontos turísticos da cidade de São Paulo.
Este bairro é bastante conhecido por ser um reduto boêmio da cidade de São Paulo, desde o início dos anos 70, quando estudantes com pouco dinheiro passaram a morar por lá, por causa da proximidade à Universidade de São Paulo.
As primeiras idéias para o projeto surgiram a partir do estudo do corte longitudinal do terreno, em que se revelava uma interessante topografia. Assim, o programa de necessidades foi distribuído, respeitando o fluxo das atividades a serem desenvolvidas em cada ambiente, de maneira a valorizar o aclive do terreno. Contudo, não apoiando-se sobre ele, mas com camadas suspensas que evidenciassem o escalonamento natural do mesmo.
O projeto busca o estabelecimento conceitual de um programa que vise suprir todas as necessidades de conforto e segurança de jovens turistas na cidade de São Paulo, levando em consideração o que a cidade e o bairro têm a oferecer frente aos anseios desse público que integra a grande massa de turistas da cidade como um todo. O partido de projeto se deu a partir do desejo de reproduzir o específico da cidade de São Paulo e do bairro Vila Madalena: sobreposição, encontro e descontração, em uma multi-facetada edificação que permitisse diferentes experiências a cada um que por ela passe. Com este trabalho busca-se, por fim, trazer a tona um debate sobre a implantação deste tipo de equipamento tanto sob o aspecto formal quanto social.
Trata-se de de uma edificação de seis pavimentos, em que os ambientes estão distribuídos considerando o grau de privacidade requerido, de acordo com que se vai ascendendo e adentrando cada espaço, valorizando a circulação e criando espaços de estar onde poderia se imaginar somente passagem.
Na cota mais baixa (800m - acesso da R. Senador César Lacerda Vergueiro), há um bar e uma praça, que também configura-se como saguão do Hostel, de modo a trazer um pouco da cidade e do bairro para dentro da edificação.
Subindo um andar, temos áreas de apoio e serviços de funcionários, não esquecendo da necessidade de um espaço de estar conectado a esses ambientes também.
Já na cota 806m, onde temos o acesso da R. Paulistânia, há a entrada principal do Hostel, que está recuada do alinhamento da via para criar uma segunda praça, tornando mais acolhedora a edificação. Ainda nesse andar, há ambientes de uso coletivo dos hóspedes, que caracterizam fortemente esse tipo de tipologia hoteleira, criando situações de convívio e troca de experiências para os jovens.
Acima, há 3 pavimentos de dormitórios e sanitário, totalizando 47 leitos. Em cada dormitório observa-se uma possibilidade de layout diferente, que possa atender as diferentes necessidades dos hóspedes, mas que não perde em qualidade e que une ao mesmo tempo privacidade e contato social. Em todos os pavimentos, terraços e passarelas promovem o encontro e a circulação.
As fachadas da edificação também mereceram um tratamento especial, principalmente a lateral que se encontra com o passeio público. A passagem para pedestres que liga a R. Paulistânia à R. Senador César Lacerda Vergueiro tem grande importância para a dinâmica do Hostel, na medida em que traz um pouco da cidade e do bairro para dentro da edificação, criando também uma nova forma de circulação entre os espaços. Dessa maneira, a fachada dessa lateral deveria refletir essa fusão entre público e privado, criando certa permeabilidade e curiosidade, sem esquecer da qualidade dos ambientes do prédio.
Área do terreno:1.336,00m²
Área construída total:2.589,74m²
