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secao 4!

Percursos Urbanos

Lígia Santi Lupo

João Sette Whitaker Ferreira

O trabalho se estruturou à partir da análise da apropriação das ruas em oito diferentes bairros da cidade de São Paulo. Essa análise foi feita através de um embasamento teórico que buscou discutir e compreender a relação entre a sociedade e a cidade nos dias de hoje, principalmente no que diz respeito a vida cotidiana dos indivíduos na cidade em que moram. Para isso foi necessário compreender a maneira como a nossa sociedade vive seu cotidiano e como o espaço urbano é construído e constituído.

Guy Debord utiliza um conceito que ele chama de pobreza da vida cotidiana, e nele discute que a nossa sociedade vive a raridade do tempo livre e a raridade das maneiras de utilizar esse tempo na vida cotidiana em uma cidade. O trabalho, portanto, desenvolve essas duas questões que estão diretamente ligadas a nossa vida cotidiana e aos espaços de convívio da nossa cidade.

Compreendendo que as pessoas sofrem da raridade do tempo livre por uma necessidade de reprodução do sistema capitalista, através da valorização da atividade produtora (e não mais da criadora), da concepção do tempo do relógio e não mais do tempo vivido, o que fragmenta nossas experiências e atividades, do tempo livre cooptado à televisão e à indústria do turismo e dos longos deslocamentos que precisamos enfrentar na cidade.

Já a raridade dos meios de utilizar esse tempo livre foi compreendida principalmente pela privatização dos espaço de convívio, o que normaliza e regulamenta esses espaços, e associa o seu uso com algo necessariamente lucrativo e interessante economicamente, restringindo as possibilidades de uso e de apropriação dos espaços.

A relação entre mercado imobiliário e terra urbana influência diretamente a nossa vida na cidade de São Paulo, restringindo também os espaços urbanos residenciais, uma vez que é o mercado imobiliário que constrói e determina a classe social e o tipo de moradia de cada bairro de São Paulo, deixando na mão da valorização economica a construção de toda a nossa cidade.

Além da parte teórica o trabalho teve uma parte empirica e prática muito importante. Foram realizadas visitas em oito bairros com a intenção de observar e constatar como era a vida cotidiana e a apropriação de seus moradores. Essa observação foi feita, principalmente, através do uso das ruas e da relação que as construções mantiam com o entorno.

Os bairros foram escolhidos através da combinação de quatro fatores diferentes: a classe social moradora predominante, as diferentes tipologias de habitação, os usos das ocupações dos lotes, e local de inserção na cidade, pois esses quatro pontos, combinados em diferentes arranjos, possibilitam um interessante panorama das possibilidades de moradia e apropriação do espaço público dentro da cidade de São Paulo.

Assim, foram levantadas as seguintes categorias: assentamento precário inserido na malha urbana: Paraisópolis; bairro central sem interesse do mercado imobiliário de classe baixa: baixada do Glicério; bairro residencial com atuação do mercado imobiliário de classe média: Tatuapé e Moema; bairro residencial com estrutura física que não tenha sofrido muitas transformações: Mooca; bairro que tenha sofrido uma transformação radical recentemente: região da Berrini; bairro exclusivamente residencial de classe alta: Morumbi; e conjunto habitacional na periferia da cidade: região próxima ao metro Artur Alvim da linha vermelha.

Utilizando a teoria da deriva (Internacional Situacionistas, 1960), do andar sem rumo para apreender o espaço urbano, as visitas foram registradas através da fotografia e de relatos escritos, que pretenderam constatar os quatro pontos mencionados e analisar a relação deles com a vida cotidiana do bairro, sempre deixando espaço para o espontâneo e outras possíveis leituras do espaço.

O produto final se constituiu, portanto, em dois cadernos, o primeiro com todas as fotos das visitas organizados em grupos e tratados de maneira a mostrar a visão que eu tive em cada visita. Porém, por este ser um caderno apenas com fotos, ele permite também que o leitor tire suas próprias conclusões e apreenda aquele espaço à sua maneira. O segundo caderno é divido entre o embasamento teórico, a metodologia do trabalho, os relatórios das visitas e os cometários finais sobre os bairros.

Cada bairro mostrou uma característica diferente e interessante para a leitura do espaço público da cidade, e me fez compreender um pouco mais as complexas relações do habitar e do viver a cidade. Compreendi que as relações que construímos com o espaço que vivemos são muito mais subjetivas, que envolvem indentidade e memória, e uma construção emocional do espaço. E o que observamos hoje é uma maneira de construir os espaços da cidade que não leva isso em conta, que não olha para o que existe, e que está amarrado à necessidade de lucro e de reprodução do capitalismo.

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