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secao 4!

Centro de atendimento para autismo

Luiza Ho

Roberta Consentino Kronka Mülfarth

Este trabalho teve como objetivo propor um centro de atendimento para autistas que permaneceriam no local por meio período (manhã ou tarde), com prioridade àqueles que apresentam características mais severas e que, portanto, possuem maiores dificuldades de se comunicar e de desenvolvimento intelectual e social.

O que motivou a escolha desse tema foi a falta de bibliografia existente sobre experiências nesse campo e de centros de atendimento especializado em São Paulo, diante do crescente número de pessoas diagnosticadas com essa síndrome no decorrer dos anos no mundo inteiro e que demandam esse tipo de equipamento. O autismo é um distúrbio do desenvolvimento caracterizado por desvios qualitativos na comunicação (verbal e não verbal), na interação social e no uso da imaginação, e o diagnóstico e a intervenção precoce são vitais para que haja melhor desenvolvimento do individuo nesses campos, de modo que há a necessidade da existência de lugares onde há atendimento contínuo para autista.

O trabalho foi realizado em duas etapas. Primeiramente foi feita uma pesquisa sobre autismo, sobre seus sintomas e formas de tratamento mais usuais. Foi feito também um levantamento sobre qual é a atual situação do atendimento e diagnóstico do autismo no Brasil e, particularmente, em São Paulo, além de quantos e onde há alguma instituição que ofereça algum tipo de auxílio para pessoas autistas. Isso foi pertinente para a escolha do terreno no qual seria implantado o edifício proposto. Dentre as instituições encontradas nessa pesquisa, optou-se por estudar com mais foco os centros de atendimento da Associação de Amigos do Autista (AMA) e foram feitas visitas a alguns centros de seus centros. Nessas visitas foram feitas entrevistas com profissionais da área para obter dados importantes para se construir um possível programa de necessidades desse tipo de equipamento.

Diante do pouco material encontrado utilizando apenas bibliografia nacional, também se pesquisou antecedentes e estudos feitos fora do Brasil, particularmente em países europeus como a Inglaterra, onde o estudo sobre o autismo é mais avançado, na busca por referências de projeto e mais informações sobre características particulares desse tipo de centro. Outros tipos de edifício, cuja linguagem plástica parecia relevante para o que se pretendia desenhar na etapa seguinte, também foram estudados. Os projetos do arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé), como os hospitais da rede Sarah Kubitschek, foram as principais referências utilizadas, por apresentarem soluções interessantes de iluminação e ventilação natural.

Já a segunda etapa consistiu em elaborar um projeto de centro de atendimento para autismo na Região Leste de São Paulo, onde há carência desse tipo de equipamento. Isso só foi possível graças à pesquisa teórica da primeira etapa. A escolha do local foi influenciada não somente pela falta de centros desse tipo na região leste, mas também pela localização, próxima a uma estação de metrô, e por ser um dos terrenos que estavam sendo cogitados pela AMA para a construção de um novo centro de atendimento. Um dos fatores negativos da escolha desse lote é sua alta declividade, mas o fato foi usado a favor do projeto, agrupando os usos que deviam ficar próximos em blocos. Estes foram distribuídos verticalmente, de modo que os usos conflitantes ficassem separados através de um bloco intermediário de apoio, de uso comum. Voltou-se a parte de atendimento inteiramente para dentro do lote, colocando as áreas públicas mais próximas da rua, agrupando as funções administrativas entre o atendimento e o público. Assim, a administração agiria como barreira física entre eles.

As principais questões que foram foco durante o projeto foram as de layout, modulação e ergonomia. Entretanto, questões de térmica e iluminação natural, além do paisagismo e comunicação visual através da cor, também foram contempladas durante o desenho do edifício. . A busca por uma modulação para o projeto se mostrou de extrema importância, por facilitar a adequação da caixilharia do mobiliário e dos elementos estruturais e construtivos. A parte de térmica foi calculada com o auxílio do programa Ecotect, enquanto que a iluminação natural foi estudada com base em maquetes físicas e eletrônicas.

Ao final, concluiu-se que uma das maiores dificuldades desse tipo de projeto é a questão do layout, pois há muitos usos que devem ficar próximos, ao mesmo tempo em que há outros que são conflitantes, de modo que para se organizar os espaços e fluxos do usuário foi necessário elaborar um diagrama de proximidades e um diagrama de fluxos antes de se começar a desenhar o edifício. Viu-se que, contrário à crença popular, o centro de atendimento para autismo tende a ser muito mais semelhante à estrutura de uma escola pequena do que de uma clínica, pois os meios de tratamentos convencionais são muito próximos do ato de se ensinar uma criança. Entendeu-se que projetar para um autista não quer dizer fazer um ambiente totalmente isolado e alienado ao que ele pode encontrar no mundo externo ao centro de atendimento, mas sim projetar espaços que permitam ser a ponte entre o mundo deles e o resto da sociedade mundo, que seja mais favorável às suas necessidades, mas sem fugir da realidade. Por fim, concluiu-se que o estudo de arquitetura voltado para o autismo é ainda muito recente e com pouco material disponível, pois grande parte da bibliografia encontrada sobre o assunto é de outros países e ainda não há consenso sobre qual metodologia de projeto seria a mais apropriada nesse campo.

Ficha Técnica

Local: Rua Wadih Hatti, Vila Ré, São Paulo – SP
Subprefeitura: Penha
Área total do terreno: 2152,90 m²
Taxa de permeabilidade: 0,35
Taxa de ocupação: 0,42
Coeficiente de aproveitamento: 0,97
Recuo frente: 5m
Recuos laterais e de fundo de lote: 3m
Gabarito: 6,15m (medida da cota da R. Wadih Hatti)
Altura total (medida da cota mais baixa do terreno): 12,95m
Número total de pavimentos: 3
Ocupação total: Aproximadamente 120 pessoas (48 autistas, 24 orientadores, 11 funcionários, 15 pais e responsáveis nas áreas de espera e média de 20 visitantes).

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