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secao 4!

Cidade, Moda e Identidade

Natália Frazão Nicolau

Giselle Beiguelman

O presente trabalho trata da relação entre os fluxos informacionais que regem a cidade e o reflexo dessas dinâmicas na criação do campo da Moda, sob a ótica de três casa de criação, e como esses dois fatores influenciam e possibilitam a formação da imagem e identidade dentro do contexto urbano.

O interesse para o estudo partiu de uma série de questões levantadas no filme documentário dirigido por Wim Wenders, A identidade de nós mesmos, (1989).

Durante o filme, o diretor acompanha o trabalho do estilista japonês Yohji Yamamoto no desenvolvimento de uma coleção que será apresentada na semana de moda de Paris. A partir da comparação entre os processos de produção da coleção e o processo de produção e direção de um filme, Wim Wenders levanta questionamentos, comuns aos dois universos, sobre identidade, linguagem, autoria e imagem.

Um depoimento de Wim Wenders no decorrer do filme chamou minha atenção para as questões anunciadas:

" Meu primeiro contato com o estilista Yohji Yamamoto foi, de certa forma, uma experiência de identidade. Comprei uma camisa e um casaco; você sabe como é, você veste a roupa, se olha no espelho e fica satisfeito e animado com sua nova 'pele'. Porém, com essas peças foi diferente. Desde o começo elas eram velhas e novas ao mesmo tempo. No espelho, vi uma versão melhorada de mim mesmo, mais eu do que antes. Senti que usava a camisa em si e o casaco em si e me senti eu mesmo. Eram como armaduras. Na etiqueta, li Yohji Yamamoto. Quem é esse? Que segredo ele conseguiu descobrir?"

Surgiu então a motivação investigar de quais recursos linguísticos e estilísticos se valem esses estilistas para traduzir suas visões sobre como se dá a construção da identidade. Qual é o segredo que faz com que os estilistas consigam manipular a construção da identidade a fazer com que uma pessoa se ache dentro das roupas?

Yaohji Yamamoto não será um dos estilistas investigados, porém, por pertencer ao um grupo de estilistas que tem como prática a contestação dos padrões determinados pela indœstria da moda, essa declaração se faz um pertinente ponto de partida para o estudo.

As casas de criação escolhidas para o estudo são Comme des Garçons, dirigida pela estilista Rei Kawakubo, baseada no Japão, Maison Martin Margiela, do estilista belga com mesmo nome, baseado em Paris e Viktor e Rolf, também baseados em Paris, uma dupla de estilistas holandeses. O presente trabalho se pauta na comparação entre as bases conceituais que norteiam o trabalho dessas três casas de criação.

Rei Kawakubo, pertencente à vanguarda da moda japonesa, sempre produziu um corpo de trabalho intrigante que tem como proposta redefinir os padrões de moda e beleza a cada coleção.

Apresentando reflexos das manifestações da vanguarda japonesa da moda, Maison Martin Margiela, do estilista belga homônimo, também se destaca por tratar de temas como identidade e autoria de forma contestadora.

Por ultimo, a dupla holandesa Viktor e Rolf, esses criadores tecem seus comentários e criticas do lado oposto do espectro da Moda, ressaltando todos os elementos espetaculares da indœstria e ainda assim, tratam dos mesmos assuntos colocados por esses estilistas apresentados.

Os três estilistas tratam das questões colocadas com uma visão que parte de contextos urbanos e a validação dessas experiências exige uma percepção do funcionamento midiático atual. A Moda pode ser imagem também, assim, imagem e ilusão como forma de realidade fazem com que a produção imaterial se validade por se materializar midiaticamente.

Há finalmente, evidencias de que todos os estilistas mencionados têm uma percepção aguçada do tempo em que vivemos. Pretendo, então, investigar, a partir do contexto urbano da cidade informacional e das novas formas de se constituir a identidade do indivíduo inserido nesse cenário, quais respostas as casas de criação fornecem e de quais recursos lingüísticos se apropriam para tanto.

Para isso, montarei uma análise comparativa entre essas três casas a fim de tentar definir a bandeira comunicativa e conceitual de cada uma delas. Montarei, então, um quadro sobre as mudanças da cidade causadas pela revolução tecnológica e informacional e apontarei algumas vertentes que surgem em reação a tal revolução no que se diz respeito a construção de identidade.

Finalmente, levanto hipóteses sobre como a produção de moda de cada objeto estudado se encaixa dentro das tendências atuais de comunicação e na constituição da identidade e imagem de cada indivíduo inserido na cidade.

Considerações finais

A partir do trabalho de investigação realizado, considero possível afirmar que a produção de Rei Kawakubo, Martin Margiela e Viktor e Rolf estão de acordo com uma percepção muito sensível e avançada do funcionamento das dinâmicas urbanas e da formação da identidade de um indivíduo inserido nessa dinâmica. Os três conseguem criar imagens que respondem às mudanças e angœstias do tempo presente, cada um a seu modo.

As três casas de criação conseguiram com sucesso inverter o medo e as inseguranças da sociedade, assim como os mecanismos de dominação por meio da imagem e apresentaram saídas criticas para a possibilidade de comunicação e construção da identidade.

Seja oferecendo a possibilidade de liberdade a seus consumidores com ferramentas como o anonimato e invisibilidade e propondo uma armadura de isolamento da super exposição e auto proclamação para que o indivíduo possa se relacionar com o mundo de forma mais sensorial e presencial; ou então exaltando o mundo da validação imagética para que se triunfe em meio à avalanche informacional e imagética.

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