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secao 4!

ESCOLA, TRANSIÇÃO, CAMINHO:

PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DE EQUIPAMENTO ESCOLAR ÀS MARGENS DO CÓRREGO PINHEIRINHO

RAFAEL ASSUNÇÃO SANTOS

ALEXANDRE DELIJAICOV

O ponto de partida para a abordagem que proponho neste trabalho - ainda que um pouco distanciada de aspectos mais pragmáticos da concepção de edifícios públicos - coloca como principal problema do ambiente escolar a forma como este se relaciona com seu entorno através das circunstâncias e/ou espaços de transição que se interpõem - ou não - entre a escola e aquilo que a envolve. Historicamente, as soluções mais largamente empregadas envolvem muros altos, portões estreitos e extensas escadarias que, entre outras questões e pelas mais diversas alegações, privam tanto a rua quanto a escola de uma convivência mais amigável e participativa entre ambas.

Dentro desta lógica, acredito que o tema das transições no edifício escolar poderia ser trabalhado de modo a aproveitar as tensões que nele existem como um motivo de reflexão sobre a razão de ser de cada uma delas, a forma como indivíduos ou grupos interagem com os recursos a que este espaço pretende mediar, colocando-se como uma espécie de posto de observação protegido em relação aos elementos externos. Para tanto, é fundamental definir quais são os recursos, espaços e tensões envolvidos, em suma, apresentar o recorte projetual que contém as circunstâncias do problema e as possibilidades de desdobramento do tema da transição tal qual colocado.

A dimensão pública da transição que pretendo trabalhar aqui toma partido destas constatações como um recorte dentre os diversos conflitos possíveis de serem tratados nesse sentido. A escola pública, assim como aquilo que a ela oferece - ou deveria oferecer - suporte, é historicamente um problema arquitetônico repleto de questões nesse sentido: é um campo constante de tensões sociais, políticas e institucionais, cuja interpretação e expressão ambiental é marcada pelos muros altos, portões e acessos constrangidos, janelas que não enxergam e aquilo que, numa lógica muito própria, pretende resolver alguns dos problemas e cobrir falhas da instituição.

Qualificado o espaço da escola, cabe então definir seu lugar - que não diz respeito à coordenadas espaciais, mas sim à posição que ocupa em relação à referenciais, elementos que constróem a rede de relações que mantém uma comunidade ou que possibilitam sua articulação com o que está para além dela. Para este efeito, considera-se a importância em que ela participe, mediada por distâncias compatíveis com os meios de deslocamento disponíveis, de uma rede de equipamentos de apoio que complementem e dinamizem a atividade de sala de aula, além de oferecer a possibilidade de extensão dos benefícios desta rede à um coletivo mais amplo do que a comunidade escolar estrita.

A conquista de um endereço perante a cidade requer também o reconhecimento destes elementos - ou do conjunto deles - enquanto partes de um sistema que é vital para o seu perfeito funcionamento. Ainda que as qualidades do espaço construído (ou não-construído) sejam de fundamental importância nesse sentido, há também valores sociais e culturais que informam as condições do problema tal qual colocado.

O propósito deste exercício de projeto é o de encarar a questão das transições da perspectiva de um filtro, subsidiando a estratégia de distribuição do programa de acordo com os aspectos que o tema inspira, tais quais as transposições, os encontros, as situações de ensejo e convite à participação, à fruição do recurso e do espaço oferecidos pelo equipamento público.

A proposta apresentada contempla apenas os aspectos fundamentais da implantação do equipamento nos termos já definidos, não avançando profundamente sobre a questão das distribuições internas dos edifícios. O objetivo principal foi o de construir uma rede de caminhos que de algum modo vascularizem a relação entre as margens altas - as ruas - e as margens baixas - o caminho do talvegue - organizada por um sistema de coordenadas espaciais dado pela distribuição dos diversos núcleos de atividade propostos versus os dados e circunstâncias do existente constituiu-se no principal objetivo, tanto do exercício mais abstrato quanto das etapas posteriores apresentadas nas séries de desenhos à seguir.

Segundo "A Condição Urbana" de Stephen Carr, há pelo menos três acepções possíveis para o termo “acessibilidade” aplicáveis a este propósito, definições das quais me aproprio aqui como mais um filtro para as premissas de implantação: visual, simbólica e física. Sendo esperado que o equipamento condense fluxos, o tratamento conferido à estas situações deve sempre buscar estimular aproximações entre a comunidade a ser atendida e os recursos oferecidos, sempre da perspectiva do favorecimento das condições de apropriação e do estabelecimento de identidades mútuas, ou simplesmente da integração deste novo elemento à rotina, ao cotidiano da população contida no recorte projetual estabelecido.

O projeto público do projeto do edifício ou do equipamento escolar é invariavelmente informado por um conjunto de normas e parâmetros que tem o objetivo de acomodar os requisitos inerentes à provisão de uma infra-estrutura que viabilize a implementação de um programa educativo às circunstâncias políticas correntes. Nesse sentido, a referência para o pré-dimensionamento dos edifícios implantados em projeto baseia-se nas coordenações modulares e programáticas lançadas no âmbito da discussão acumulada sobre o assunto através das publicações da FDE (Fundação para o Desenvolvimento do Ensino).

O resultado final deste trabalho - que é na realidade um sobrevôo acerca destes elementos todos que informam uma idéia possível de escola - é fruto de um processo que a princípio não tinha como fim último necessariamente um projeto de arquitetura, mas sim o reconhecimento de um caminho que levaria à ele. Acredito que a motivação em produzir estes registros de projeto tenha sido no sentido de testar e exercitar os limites da matéria “escola”, de modo que o edifício escolar pudesse ocupar um papel estratégico na produção de um novo modelo de cidade através da mediação entre esta realidade já construída e recursos espaciais que, assim como a escola, são recorrentemente relegados à um plano secundário sob um juízo de valor mais pragmático e utilitarista no sentido do aproveitamento destes mesmos recursos.

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