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secao 4!

sobre a luz e o recolhimento

Rafael Sodré Craice

Luís Antônio Jorge

O trabalho foi feito em cima de algumas cartas e fotos que contam em detalhes o processo durante o ano de TFG. Feito assim, por conta da própria natureza poética do trabalho, acho difícil expor depois do processo completo alguma reflexão. Então, por conta da exigência da disciplina, o que vou apresentar aqui são alguns recortes das cartas que explicitam, de algum modo, o que foi feito.

“Comecei a fazer o trabalho final de graduação, mas como todo projeto que começa, há nele a dúvida do caminho que estou tomando e uma certa insegurança do que pode vir desse percurso - será bonito, será interessante? O TFG funciona mais ou menos assim: escolho um tema, um orientador e tenho uma certa liberdade para dirigir a maneira como o trabalho será feito, desde que concluído tenha a consistência que um projeto, afinal, me formo arquiteto quanto terminá-lo. Meu orientador é o Luís Antônio Jorge, por quem tenho muito respeito e admiração. Ele foi meu primeiro professor e será o último na graduação. Acho que o escolhi como orientador depois de uma conversa sobre poesia uns anos atrás. Como tema, escolhi a princípio a casa. Talvez por conta de querer manter um dos pés dentro do edificar, talvez por conta de entender o quão privilegiado é esse espaço, talvez por conta de uma certa predileção por espaços privados, talvez mero capricho.”

“Encontrei uma luz! - literalmente. Era manhã e estava vendo um filme no meu quarto, com a janela quase fechada, quando reparei numas cores estranhas no teto. Peguei a câmera e fiz uma foto. Voltei a ver o filme e mais tarde, quando fui descarregar as fotos no computador, lembrei dela e resolvi editá-la. A princípio não entendi muito bem, mas depois fui perceber que era a luz do sol que refletia na cidade e entrava em meu quarto. Como meu apartamento fica no décimo quinto andar e não tem prédios na frente, a gama de cores que apareceram no teto iam desde o vermelho dos telhados até o verde das árvores. O resultado é bem bonito: é um cone de luz, feito de feixes coloridos, que entra pela fresta da janela colorindo o teto. Preciso voltar nisso depois.”

"Mais luzes! Depois de escrever aquela última carta, voltei para o quarto para tentar tirar daquelas luzes mais alguma imagem e tentei diminuir a entrada de luz, não só na horizontal como também na vertical. Acabei por deixar apenas um pequeno quadrado de uns dois dedos para a entrada de luz. Quando olho para meu teto vejo um pouco borrado um telhado e o desenho de uma árvore, cada um com sua cor característica. Num primeiro momento fiquei confuso, achei que isso só era possível com um equipamento muito sofisticado. Tinha visto o trabalho de um fotógrafo chamado Abelardo Morell, mas não tinha ideia de que iria conseguir reproduzir o que ele tinha feito, ainda mais por acidente! O resultado é um uninverso, un-in-verso. A sensação de estar num ambiente desse é indescritível. É uma aula sobre o comportamento da luz, na prática. Tive dificuldade de explicar para as pessoas como tinha feito aquela foto. Como já era tarde, não consegui fazer muitas fotos, então voltei no dia seguinte para repetir o feito, testar novos tempos, novas aberturas. Preciso ainda apurar melhor a técnica, mas só de saber que é possível...”

“Ensaio Sobre o Recolhimento - Esse será o nome do trabalho! Precisava tentar, para mim mesmo, colocar em palavras, as mais sintéticas possíveis, o que ele era. Gastei duas páginas de um caderno, escrevendo e reescrevendo uma tentativa de síntese. Comecei com um parágrafo inteiro e fui diminuindo até chegar em “Ensaio Fotográfico Sobre o Recolhimento”, mas conversando com o Luís Antônio, ele sugeriu tirar o Fotográfico, e concordei inteiramente. Recolhimento: fiquei horas pensando nessa palavra. Fui pesquisar suas aplicações, ler definições, simplesmente observar sua grafia e acho que é ela mesmo, me parece agora que não poderia ser outra. E não foi outra coisa que fiz durante o processo todo? Me recolhi para observar a luz, para tentar entender esse próprio recolhimento. Fazia muito tempo que eu não me apaixonava tanto por uma palavra. Que palavra, que palavra!”

“Depois de muito pensar na melhor maneira possível de apresentar o resultado dessas experimentações, cheguei nos seguintes produtos: uma exposição, um caderno e um site. A exposição já está mais ou menos bem pensada, o caderno ainda estou pensando em algumas coisas e o site já está mais ou menos projetado de cabeça, só preciso decidir o conteúdo. Com os produtos mais ou menos pensados para apresentar, o que tenho me preocupado é com orçamentos e produções. Tenho pesquisado tipos de impressão, gráficas, tipos de papel e sistema de cores. Comprei um monitor que vai me ajudar na edição das fotos, já que tem uma qualidade muito superior aos monitores convencionais. Estou preocupado muito com a qualidade das imagens, e acho que se pecar nisso posso desviar a atenção de quem for ver o trabalho para aquilo que deveria ser superficial. Preciso evitar falhas e desvios. Sinto que agora estou praticando arquitetura, com projetos, dimensões, orçamentos, materiais e cronogramas. Pelo que parece estou conseguindo dar materialidade para esse projeto, pelo menos esquematicamente.”

“Sobre a luz e o recolhimento. Não poderia ter outro nome, uma vez que o trabalho se apresenta como uma série de experimentações fotográficas (grafia da luz) no espaço de recolhimento. E está quase pronto.

Passei estes dois últimos meses sem tirar uma só foto para o trabalho, me concentrei em todo o resto. Como uma imagem digital é quase nada, quase só uma ideia, passei esse tempo todo pensando como dar corpo. Trazer uma ideia, um olhar ou alguns bytes, para a materialidade de um objeto foi o que fiz durante o final desse processo, espero conseguir a tempo aparar as arestas e finalizar bem o trabalho. Orçamentos, gráficas, tipografia, Photoshop e InDesign, vinil de recorte, ferro, papel pluma, cola, envelopes, caixas, papeis e códigos.”

“Uma das questões que apareceram logo de início era que a imagem tivesse autonomia e que dissesse por si, que não precisasse de explicação para que se fizesse presente. Não sei se consegui isso exatamente, mas a preocupação existe. Há muito pensamento por detrás dessas fotos e gostaria que de algum modo eles fossem evocados ao olhá-las.”

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