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secao 4!

Os espaços destinados às artes visuais

RENATO PÉRIGO

AGNALDO FARIAS

O que aqui nos interessa é a investigação dos espaços dedicados à exposição das artes visuais: percepções, parâmetros cognitivos, visuais e discursivos e o conceito de experiência pressuposto por aqueles responsáveis pela arquitetura e pela organização espacial interna destes espaços. As configurações espaciais modificam-se junto à sociedade, seus valores e possibilidades de execução: os materiais da fachada, as cores das paredes internas, a iluminação, o mobiliário e assim por diante, foram produto de idéias mais ou menos conscientes de curadores, arquitetos e cenógrafos que buscavam transmitir determinadas sensações aos seus freqüentadores. Tudo.

As coisas, as pessoas, o ar, ruídos, sons, cores, presenças materiais, texturas e também formas. Formas que podem ser compreendidas. Conduzir, seduzir, largar, dar liberdade. Conseqüentemente, sentimos o impacto dessas escolhas na percepção dos visitantes.

Os espaços destinados à arte nunca estiveram separados de questões culturais fundamentais para a humanidade; ao contrário, foram influenciados pelas crenças estéticas contemporâneas, ideais políticos e demandas de mercado. Estes espaços estão peculiarmente situados no limite entre a esfera pública e a privada. Supostamente, a contemplação da arte é um ato pessoal e que, no entanto, desenvolve-se e multiplica-se no ambiente coletivo.

Estas noções somaram-se à apreensão do espaço pelo artista, que por vezes fez da sala expositiva sua principal matéria-prima. Desde Marcel Duchamp com seu Boîte-en-Valise (“Museu Portátil”) do inicio dos anos 1940 até as mais recentes intervenções feitas por artistas contemporâneos, parte do foco têm se voltado (criativa e criticamente) a uma reavaliação das idéias que legitimam tal espaço. Métodos tradicionais de classificar, arquivar e armazenar as obras (assim como demais aspectos relacionados à curadoria) têm sido diversamente apropriados, mimetizados ou reinterpretados. Nesse sentido, a criatividade se une ao senso de preservação e ordem associados a museus e galerias em um diálogo construtivo que envolve elementos do passado, presente e futuro.

A arquitetura relaciona, media e projeta significados. O sentido primordial de qualquer edifício vai além da própria arquitetura. Na experiência da arte em especial, uma troca peculiar ocorre: “emprestamos nossas emoções e associações ao espaço e o espaço nos devolve sua atmosfera, que seduz e emancipa nossas percepções e pensamentos”.

Ao mesmo tempo em que uma coleção de ensaios surge no ano de 1996 chamada The End(s) of the Museum, o livro de Boris Groys tem a frase At the End of the Museal Age como subtítulo. Parece paradoxal que tais colocações sejam feitas de maneira tão categórica, enquanto observamos a vasta expansão com que os museus se proliferam ao redor do mundo desde a década de 80 do século passado. A cada ano recordes de publico são registrados. Considerando o ano de 1999, metade dos 1240 museus de arte nos Estados Unidos tinha menos de 25 anos de existência, sendo que muitos deles eram inteiramente dedicados às artes visuais contemporâneas.

A estreita relação entre a arquitetura e as artes visuais sempre ocorreu espontaneamente, como não poderia deixar de ser, já que são manifestações culturais importantes em todas as sociedades. Ao longo da história, a intensidade desta relação só tem aumentado, por vezes culminando na sua completa simbiose.

Os curadores e demais organizadores convivem com obras históricas e artistas vivos. O aumento da diversidade de espaços expositivos acompanhou a demanda gerada pela diversidade de experiências artísticas. Apesar de uma relação recíproca, predominantemente os artistas e suas obras influenciam mais a concepção arquitetônica e museológica do que o inverso, apesar de também ser verdade que os espaços de museus e galerias tenham alguma influência sobre a prática artística. As novas mídias, novas tecnologias e novos movimentos artísticos, exemplificados nos capítulos anteriores, promoveram a proliferação de experiências espaciais heterogêneas que, mais do que se relacionar com as obras, interagiram com o espaço urbano e com as pessoas através de multiplas perspectivas. A interação arte-espaço sugere novos significados tanto para a obra quanto para o ambiente, estabelecendo um intercâmbio rico em possibilidades. A multiplicidade de formatos e plataformas, ao invés de excluir seus precedentes, só pluralizaram nossa gama de experiências artísticas.Certamente, faz-se necessário continuar e aprofundar as experimentações artísticas e expográficas.

A função dos grandes museus na sociedade não é mais vista como um santuário petrificado desconectado do mundo exterior. Além disso, as instituições (museus ou galerias) ou galerias privadas atuam na sociedade de maneira ampla: a imagem de um espaço elitista e fechado em si mesmo, que não dialoga com a cidade, é cada vez mais visto como uma concepção antiga do papel que estes espaços devem ocupar, seja nos centros urbanos, seja nos afastados espaços dedicados às artes que estudamos neste trabalho. Na ausência de outros espaços públicos que ofereçam a possibilidade de uma forma de comunicação igualmente livre e aberta, seria prudente investir tempo, dinheiro e energia em diferentes formatos expositivos. Para Haim Atar, “nunca houve uma geração com tamanha necessidade de espaços para a contemplação artística quanto o nosso, porque para nós a arte é a possibilidade de elevar a nossa espiritualidade, individual e coletivamente.”

Os espaços expositivos são lugares extremamente privilegiados, pelo menos no mundo industrial ocidental, para a exploração das interações sociais e é no espaço estreito que separa a arquitetura da obra, isto é, o intervalo entre a arquitetura e a arte que se configura como o verdadeiro locus do espaço expositivo.

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