A proposta de uma residência com serviços nasceu da constatação de que hoje não existem (ou são muito poucos) os locais em que as pessoas da 3ª idade possam ter qualidade de vida, atividades de lazer, amigos e serviços. Os poucos que existem, se particulares, têm o preço extremamente alto e, para muitos, inviável; se de iniciativa pública, têm uma lista de inscritos infinitamente maior do que sua capacidade. A exemplo disso está a Vila dos Idosos, complexo de habitação social para idosos no Pari. Em sua inauguração houve mais de 5 mil inscritos para apenas 145 vagas disponíveis.
Após uma experiência pessoal, a constatação foi de que grande parte das “residências para idosos” são casas, adaptadas para a 3ª idade, mas que não dispõe de infraestrutura para atender as necessidades específicas desse público. A maioria tem apenas uma grande sala, em que quase todos os moradores passam os dias ali, assistindo televisão; uma sala onde são servidas as refeições e um pequeno jardim. Mas sem atividades recreativas voltadas para cada pessoa individualmente de acordo com suas necessidades.
Em decorrência dessas condições surge o estigma das “casas de repouso” ou “asilos”, que dá a entender que as pessoas que ali estão são obrigadas, abandonadas pela família, esperando dia após dia as horas passarem. Mas por vezes a opção pessoal ou familiar se deve às necessidades de atenção e cuidado profissional em tempo integral exigidas pela pessoa idosa, que não podem ser dados em casa. Aqui cabe perfeitamente o lema da Gerontological Society of America de “acrescentar vida aos anos, e não penas anos à vida”. É exatamente o que se busca com este trabalho.
A proposta é pautada na definição de vida assistida da Assisted Living Federation of America (ALFA): “special combination of housing, supportive services, personalized assistance and healthcare designed to respond to the individual needs of those who require help with activities of daily living (ADL), and instrumental activities of daily living (IADL). Supportive services are available, 24 hours a day, to meet scheduled and unscheduled needs, in a way that promotes maximum dignity and independence for each resident and involves the resident’s family, neighbors, friends...” (REGNIER).
Propõe-se que seja criado um lugar com serviços, em que os moradores tenham total autonomia e liberdade, como em sua casa (permitindo inclusive decoração personalizada e pessoal), que possam receber a família, sair quando quiserem, possam manter a vida conjugal, mas que contenha com serviços como em um flat, para evitar preocupações e problemas desnecessários a essa altura da vida. Com o passar dos anos, as necessidades mudam, a liberdade de ir e vir deve ser supervisionada, os serviços aumentam; mas ainda assim não se pode tratar como homogêneo um grupo que só tem em comum a idade: cada indivíduo apresenta diferentes fragilidades da idade, sejam elas físicas ou mentais, e, consequentemente, diferentes exigências de cuidado. Em um nível mais elevado, haveria a possibilidade de cuidados hospitalares.
A necessidade de apoio médico e de enfermagem é nítida, mas também se deve pensar em atividades de lazer, ócio e distração, que valorize o potencial residual de cada indivíduo, respeitando suas limitações; que estimule o contato entre os moradores e com pessoas de fora, evitando assim um problema comum a essa tipologia, que é a segregação e o isolamento da sociedade.
Estudo teórico do papel do idoso na sociedade, as mudanças nas relações familiares ao longo do tempo e em diferentes culturas.
Com relação aos parâmetros definidos para projeto, a intenção é que o grau de dependência dos moradores seja extremamente variado, desde pessoas plenamente independentes, com autonomia de ir e vir; passando por semi dependentes, com alguma deficiência física ou mental, mas com capacidade de lidar com tarefas cotidianas; até aqueles que precisem de cuidado e vigilância em tempo integral incluindo supervisão para a realização de atividades do dia-a-dia. Além disso, a unidade hospitalar garantirá cuidados especiais no caso de fraturas, quedas ou inclusive casos de internação.
Visando a integração de todos os moradores, e evitando ao máximo a segregação social, os diversos níveis de dependência serão dispostos misturados, sem criar “alas” por tipo de doença ou necessidade; mas sim por afinidade. Deve-se entender que as relações humanas são imprevisíveis e não se podem unir pessoas por idade ou por necessidades, forçando-as a se relacionarem. O cuidado e vigilância se estenderão por todo o conjunto garantindo o bem estar e segurança de todos.
Outro fator relevante, partido de projeto, é a integração dos idosos com a família e a sociedade a partir da criação de espaços de interesse de uso comum (não restrito apenas aos moradores), como restaurante, bar, café, biblioteca. Dependendo da localização na cidade e das exigências do entorno, poderá haver também equipamentos com funcionamento independente do conjunto, por exemplo, uma creche, que atenda às necessidades da vizinhança e agregue aspectos positivos aos moradores.
O desenho universal é determinante para esse tipo de habitação, dado que o envelhecimento traz consigo algumas fragilidades e necessidades de apoio, como bengalas, andadores ou até cadeiras de rodas. Além disso, barras de segurança nos corredores, banheiros e espaços de circulação são necessárias para garantir a autonomia do indivíduo atrelada à segurança essencial.
Intensa pesquisa de referências programáticas, no Brasil e no exterior. Referências no que tange às unidades propriamente ditas. E referências arquitetônicas que embasaram a elaboração formal do projeto final.
Edifícios de moradia: 3 edifícios com 5 pavimentos cada. 4 unidades por pavimento por edifício totalizando 60 unidades.
Edifício de equipamentos: 4 pavimentos distribuindo o programa de equipamentos de apoio, saúde e serviços, tanto de uso exclusivo do complexo quanto de uso público.
Área total construída: 8906,72m²
